ARTE-EDUCAÇÃO
Artistas visuais nordestinos criam cartilha sobre o uso pedagógico do lambe-lambe
Por: Juliana Aguiar
Publicado em: 28/04/2021 17:50
Foto: Divulgação |
Para além dos anúncios publicitários e poesias urbanas, os lambe-lambes colados em postes e muros na cidade do Recife tem conquistado espaço como uma potente ferramenta pedagógica. A proposta foi encabeçada pelos artistas visuais e arte-educadores nordestinos Tácio Russo e Milla Serejo, que vem assinando juntos intervenções na cidade há um ano. Para incentivar a produção de mais materiais do gênero como suporte ao processo de ensino e aprendizagem, eles desenvolveram uma cartilha virtual intitulada de “Lambe-lambe como dispositivo pedagógico”, com apoio da Lei Aldir Blanc. O projeto será lançado nesta quarta-feira (28), Dia da Educação, às 19h, em um encontro online com os realizadores no Instagram (@lambesbrasil).
O material entrelaça a ciência da arte urbana e da pedagogia e instrui o passo a passo para execução do lambe-lambe para os educadores poderem utilizar essa prática em sala de aula, online ou presencialmente. A cartilha tem consultoria da educadora Ariana Nuala, da professora Patrícia Naia, da produtora cultural Luana Félix, do arte-educador Altino Francisco e do artista visual Alberto Pereira, também criador da plataforma Lambes Brasil.
“Quando a gente começou a desenvolver esse projeto, a gente considerou o lambe como qualquer papel que esteja colado na parede. E, a partir disso, a gente entendeu que a escola já é cheia de lambe e que é uma ferramenta efetiva. Mas o que é que a escola escolhe colocar na parede? E o que ela não permite?”, lembra a artista natalense Milla Serejo. Fruto da Revolução Industrial, o lambe-lambe surgiu, ainda no século 19, como uma ferramenta com finalidade exclusivamente publicitária. No século seguinte, o dispositivo passou a ser utilizado também como meio de expressão, e com o passar dos anos foi incorporado em movimentos de contracultura e desaguou em produto de arte urbana.
"Eu e Russo somos arte-educadores e artistas visuais, em nossos trabalhos somos sempre movidos e tocados bastante pelo cotidiano da cidade, o espaço urbano é nosso principal campo de ação e reflexão. Acreditamos muito na potência da arte para o processo educativo. Então levar a arte urbana para dentro de espaços pedagógicos é sempre muito inspirador", conta Milla.
As reflexões sobre o espaço urbano é o fio condutor da parceria entre ela e o pernambucano Tácio Russo. "O nosso interesse pelo espaço pedagógico vem dessas nossas experiências. Percebemos que existe ainda grande dificuldade de falar sobre arte urbana dentro de instituições de ensino, mesmo que na contemporaneidade a arte urbana já esteja num lugar de valorização dentro das artes visuais", completa.
Para Milla, há muito espaço para desenvolver práticas artísticas no processo educacional, mas não são abraçadas por políticas públicas. "O que não há é a abertura necessária para a arte quando pensamos no ensino a nível macro, como políticas públicas de acesso à educação. Acreditamos que a arte quando trabalhada a nível interdisciplinar, pode não só auxiliar em processos artísticos, como também no processo de ensino e aprendizagem de outras disciplinas. A arte está em todo lugar, ela já ocupa todos os espaços, precisamos voltar nosso olhar para ela, sensibilizar e democratizar seu acesso", frisa.
De acordo com a arte-educadora, a linguagem ainda é muito marginalizada em Pernambuco, então "romper com essa ideia preconceituosa sobre as artes urbanas foi uma das inspirações''. Outro fator determinante para execução do projeto foi a dificuldade de acesso a materiais didáticos que de fato auxiliem o professor no fazer artístico dentro da sala de aula. Russo e Milla são idealizadores do Laboratório Labirinto, que pretende promover novos projetos e experimentações de reflexão sobre arte contemporânea e ambiente urbano.
A iniciativa partiu da necessidade de transbordar e interligar essas linguagens. “A gente acha importante continuar pensando novas formas de diálogo entre o fazer artístico e o espaço público", defende Russo, produtor do festival MURAL, primeiro Festival Internacional de Lambe Lambe no Nordeste, que foi realizado no museu Murillo la Greca, na Zona Norte do Recife.
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