ARQUITETURA

Multidisciplinaridade da pernambucana Janete Costa é ressaltada em livro de arte

Publicado em: 25/03/2021 13:39 | Atualizado em: 25/03/2021 14:24

Janete Costa na Bienal de Valencia (Foto: Cepe/Divulgação)
Janete Costa na Bienal de Valencia (Foto: Cepe/Divulgação)


"Criança, eu consumi o pote, tomei água de quartinha, brinquei com os brinquedos do Vitalino e com bruxas de pano, cozinhei em panelas de barro. Mas, quando fui crescendo, tudo isso foi sendo associado dentro de mim a um estado de pobreza. Somente quando tive muita distância é que percebi que o pote e a quartinha tinham sido um privilégio para mim". A fala da arquiteta Janete Costa, natural de Garanhuns, em entrevista à jornalista Adélia Borges, ajuda a sintetizar o apreço que a pernambucana tinha pela arte popular.

Janete foi imortalizada na arquitetura brasileira por realizar junções sagazes entre o popular e o design pós-modernista em suas concepções, mas também por ter sido colecionadora de arte popular, curadora e uma vanguardista da economia criativa ao estimular o uso de produções de artistas e artesãos populares de diversos municípios brasileiros, especialmente do interior. A sua proposta estética ensinou, a uma elite brasileira que só olhava para o exterior, o valor do popular e o exercício de olhar para dentro do próprio país.

São essas várias facetas que aparecem no livro de arte Janete Costa - Arquitetura, design e arte popular, editado pela Cepe com textos de Adélia Borges, Júlio Cavani, Lauro Cavalcanti, Marcelo Rosenbaum e Marcus Lontra e um rico conjunto de imagens organizado por Roberta Borsoi, filha da arquiteta, e Francisco Baccaro, neto. A publicação será lançada hoje, às 19h, em live no canal da Cepe Editora, com participação de Adélia Borges, Roberta Borsoi, Júlio Cavani e Diogo Guedes, editor da Cepe. (Continua após imagem)

Capa do livro (Foto: Cepe/Divulgação)
Capa do livro (Foto: Cepe/Divulgação)

"O mais interessante é que esse não é um livro voltado puramente para a Janete arquiteta, embora esse ofício tenha norteado a trajetória dela. O livro faz vários recortes e explora o legado. Como ela construiu todo esse legado no artesanato, é uma experiência singular", diz  Roberta, que articulou a produção junto à Cepe. "O livro também mistura o trabalho com a vida social e falamos dessa personalidade, ela era uma pessoa muito comunicativa e que marcou muito a vida de muitas pessoas."

A filha da arquiteta também revela que o livro era um sonho do seu pai, Acácio Gil Borsoi. "No dia após a morte dela, em 2008, ao invés de deitar na cama, ele começou a pensar em um livro. Papai foi trabalhar nesse livro, tentou realizar, mas não conseguiu, pois faleceu um ano depois dela. Ficamos felizes nesse sentido, pois conseguimos realizar."

O livro reúne textos de profissionais que tiveram contato com Janete Costa, conheceram bem a sua obra ou que atuam em áreas profissionais através dessa obra. O arquiteto Marcelo Rosenbaum, por exemplo, foi muito influenciado por práticas como a busca de parcerias com artesãos para produzir produtos que vão ser incorporados. Adélia Borges,  jornalista, curadora, historiadora e crítica de design, conheceu Janete e tem uma dimensão do impacto de sua obra no contexto nacional e internacional. Marcus Lontra é um dos principais especialistas em arte moderna e consegue explicar a relação de Janete com a arte enquanto afirmação da identidade brasileira na arquitetura.

Detalhe interno da casa de janete e borsoi em São Conrado (RJ) (Foto: Cepe/Divulgação)
Detalhe interno da casa de janete e borsoi em São Conrado (RJ) (Foto: Cepe/Divulgação)

"O modernismo é muito neutro, a gente o associa a coisas como concreto, com espaços vazios, mas Janete conseguiu trazer mais colorido, vida e brasilidade para essa arquitetura através desse conhecimento de design de interiores. Ela incorporou elementos do interior em harmonia aos elementos que compõem o ambiente”, diz Júlio Cavani, que assina um texto intitulado Janete Costa e a estratégia do gesto. "Não é apenas sobre a presença de um determinado artista do interior nesse processo, mas a maneira como esse artista está integrado ao designer modernista internacional e aos elementos clássicos sem que uma coisa engula a outra, sem ficar muito preso ao regionalismo."

Segundo Cavani, a obra de Janete Costa até então não havia sido registrada dessa forma em uma publicação que servisse tanto para o público geral quanto para pesquisadores da área da arquitetura, design e cultura de uma forma geral. “É uma obra que transcende em vários sentidos”, diz. “A atuação de Janete é forte, interdisciplinar e envolve muito a aceitação de artistas plásticos e artesão através de uma estratégia de inclusão social, de movimentação da economia, engrenagem de mercados locais mesmo. Então é muito importante que o livro sirva como um registro ao alcance de todos”.

SERVIÇO
Janete Costa - Arquitetura, Design e Arte Popular, da Cepe
Lançamento: Hoje, às 20h, no youtube.com/cepeoficial
Preço do livro: R$ 100 (impresso) e R$ 40 (e-book)
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