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ARTES VISUAIS

Nova galeria no Recife estreia com exposição de 13 artistas mulheres

Publicado: 29/01/2021 às 16:41

Obras de da instalação da paraense Christina Machado, que integra a mostra/Foto: Sol Pulquério/Divulgação

Obras de da instalação da paraense Christina Machado, que integra a mostra/Foto: Sol Pulquério/Divulgação

Obras de da instalação da paraense Christina Machado, que integra a mostra

O Recife ganhou um novo espaço para exposições e demais atividades ligadas às artes visuais ontem, com a inauguração da Christal Galeria, localizada no Pina, na Zona Sul. Embora a pandemia tenha feito com que a estreia fosse com transmissão ao vivo pelas redes sociais, a primeira mostra já está disponível para visitas, com agendamento pelo número (81) 98952-7183. Identidade Matriz explora o aspecto de nascedouro artístico do espaço com obras que passeiam por temáticas de ousadia, ruptura e beleza, reunindo obras de 13 artistas mulheres de diferentes estilos, gerações e localidades. Tereza Costa Rêgo, Regina Silveira, Juliana Notari, Roberta Guimarães e Berna Reale são algumas, com curadoria de Stella Mendes e Laurindo Pontes.

O ponto de partida do protagonismo feminino enquanto temática surge com a disponibilidade de telas típicas de Costa Rêgo, falecida em 2020 e homenageada da mostra por sua trajetória de luta na arte e na política. A renomada pernambucana assina três quadros e duas gravuras, com destaque para um autorretrato pintado em 1948. Outro destaque é a gaúcha Regina Silveira, veterana do circuito que expõe pela primeira vez no Recife com fotogravuras que ressaltam sua faceta multimídia. A paraense Berna Reale tem três performances conceituais fotografadas, questionando contrastes e desigualdades. As obras dessas duas últimas chegam ao Recife por conta de parcerias com as galerias paulistas de Luciana Britto e Nara Roesler.

"A nossa ideia foi reunir mulheres potentes, com trajetórias únicas, que tenham vozes que precisam ir além. Começamos a conversar e pensamos na Tereza, que se tornou o nosso ponto de partida pela posição que ocupou enquanto mulher militante que tinha um olhar único", diz Stella Mendes, historiadora e gestora cultural com passagem pelo MASP, de São Paulo. "O que está aqui reune beleza, ousadia e ruptura. Todas as 13 se integram de uma maneira muito boa", diz o recifense Laurindo Pontes.

O olhar de Roberta Guimarães para o universo dos terreiros também está presente

Como ressaltado pelos curadores, Identidade Matriz reflete sobre temas diversos. A paraense Christina Machado assina uma instalação com 33 objetos de cerâmica com madeira, intitulada Eles cabem na minha mão. Cada objeto ilustra a cabeça de um estuprador, discutindo a violência. Enquadrado, uma outra instalação, mostra esses mesmos membros fotografados e impressos em preto e branco, como cartazes de "procura-se". Juliana Notari, que atualmente repercutiu mundialmente pela obra Diva, está presente com uma instalação chamada Muda, composta por duas cabeças (uma de cera de depilação e outra de gesso).

O olhar da pernambucana Roberta Guimarães para o universo dos terreiros está presente no vídeo CrossDressing de Oxum, que mostra um rapaz vestindo os trajes da entidade. Esse mesmo processo está presente em duas fotografias, além do painel que traz um Baobá do Ipojuca com vários nomes de mulheres negras da história do Brasil. A jovem artista pernambucana Nathê Ferreira também traz uma perspectiva afro com telas realizadas com técnicas mistas de spray e acrílica.

A conterrânea Priscila Lins pintou um mural na área do jardim da galeria. A concepção partiu de um pensamento sobre essa identidade matriz, como uma semente que está sendo plantada no dia da inauguração. O mural guarda uma memória e oferece a possibilidade de trazer a poesia, que está na narrativa do meu trabalho", diz Priscila. Uma instalação de Ana Flávia Mendonça (PE), seis telas de Badida Campos (CE), o grafite de Ianah Maia (PE), o crochê de Laura Melo (PE) e a escultura de Náiade Lins (PE) completam a mostra.

Berna Reale tem três performances conceituais fotografadas

"Queremos acolher artistas que são maravilhosos, mas que muitas vezes não têm onde expor suas obras", diz Christiana Asfora Cavalcanti, empresária pernambucana responsável pela nova galeria. "Queremos fazer um apelo social, dar oportunidades para aqueles que têm arte dentro de si. Será um espaço cultural que terá oficinas, chamadas de editais para artistas. Estamos querendo também entrar nas comunidades do entorno, trazer esses artistas aqui para dentro, dando uma oportunidade de crescimento, de ocupação."

A Christal foi montada em um casarão de 1941, com dois ambientes que se interligam como áreas expositivas, totalizando 130 m2. A galeria pretende abrigar a arte contemporânea e suas múltiplas vertentes até a arte moderna. Além disso, terá no acervo e nas exposições obras, artistas, movimentos e coletivos das artes urbana e popular, permeados por manifestações da música, teatro e cinema.

O espaço também contará com um café-restaurante comandado pela chef Maia Deva. "A arte conversa com diversos assuntos, como diversidade, pluralidade e desigualdade, que são alguns dos temas que queremos levar para o coletivo. Essa primeira mostra, por exemplo, procura fortalecer o feminino, que é tão deixado de lado", finaliza Christiana.
 
SERVIÇO
Christal Galeria
Onde: Rua Estudante Jeremias Bastos, 266, Pina
Horário de funcionamento: segunda a sexta (10h às 19h), sábado (10h às 14h)

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