CINEMA
Beco, de Camilo Cavalcante, narra vidas e histórias ao redor do Mercado de Afogados
Por: André Santa Rosa
Publicado em: 10/12/2020 13:32 | Atualizado em: 10/12/2020 13:33
![]() | |
O longa está disponível online, até às 18h, no Festival MARÉ. Depois ganha exibição na Cinemateca Pernambucana. (Foto: Divulgação) |
De estúdio de tatuagens, passando por bares, açougues e mercados públicos do Recife, como o de Afogados, surge o ponto de convergência de pessoas e histórias. No meio dessa atividade comercial, pulsa vida, desde as típicas conversas de boteco até o desabafo mais íntimo. É justamente interessado nesse caos e sobreposição de narrativas, olhares e pessoas que Beco, novo documentário do pernambucano Camilo Cavalcante, se constrói. O filme está disponível on-line até as 18h desta quinta-feira no festival MARÉ (mare.rec.br/filme-beco_) e terá exibição na Sessão Cinemateca, no próximo dia 19 (sábado), às 14h30, no Cinema do Museu.
Em meio aos transeuntes apressados e às pessoas em busca de divertimento, o beco é um anexo do Mercado de Afogados, que funciona como válvula de escape, uma zona cinzenta entre o trabalho e o lazer. Semelhante ao mote de Eduardo Coutinho no longa Edf. Master, Camilo parte de uma localidade, um espaço físico, para contar uma história sobre as pessoas e sobre a vida
delas. "Beco foi rodado entre 2012 e 2014. Ainda pegou um pouco do processo da história. É um documentário sobre o beco que é um anexo do Mercado de Afogados. Então esse beco é meio que uma metáfora para um lugar de fuga. Se torna quase que um divã popular", explica o diretor, em entrevista ao Viver.
Antes de trazer qualquer ideia de frieza sociológica do registro documental, o filme revela uma abordagem silenciosa, uma câmera que, ao mesmo tempo que chama a atenção, é uma espécie de dispositivo de escuta e palco de encenações. "O filme foi mudando aos poucos, a gente começou com uma intenção de fazer algo como cinema direto, com pouca interferência. Mas a câmera foi chamando a atenção ao pouco que as pessoas quisessem falar, que tem um pouco de cinema-verdade. Beco é um Coutinho etílico. Mas que fala um pouco dessa relação entre quem filma e quem é filmado. É um filme sobre quem tem poder de filmar também", pontua.
Nessa possibilidade de filmar com o mínimo de mediações a falas extremamente espontâneas dos frequentadores do beco, o filme adentra as crendices, a fé e até as possibilidades de relatar a si. Num contexto de recorte de classe e raça muito evidente, nos apresenta um questionamento do próprio regime de verdade do cinema documental. "Em um dado momento, um personagem chamado Cícero chega em mim e questiona: 'Você acreditou nisso?' E eu disse 'acreditei!' Então foi algo da ficção no documentário, um personagem que coloca toda a narrativa e a verdade em questão", relembra. "Beco foi um processo que fomos completamente de cabeça e corações abertos. Não gosto nem de chamar de entrevista, porque era uma conversa realmente", finaliza o diretor.
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS