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Selo musical de jazz em Pernambuco quer fomentar lançamentos e pesquisa
Publicado: 05/10/2020 às 14:11

Álbum do projeto Mongiovi Trio estreou o Boa Vista Jazz Records/Foto: Rafael Guerra de Melo/Divulgação

Durante o período de distanciamento social causado pelo coronavírus, despontou no meio artístico um selo musical que tem a missão de aquecer o mercado do jazz pernambucano. O Boa Vista Jazz Records nasceu a partir de uma compreensão sobre essa comunidade criativa, quais são os seus locais de escuta e o público consumidor. Com enfoque na produção de novas obras discográficas, a iniciativa também quer fomentar pesquisa, organização, catalogação e reflexão crítica da produção feita no estado. Com nome inspirado na Ponte da Boa Vista, que liga dois importantes bairros do coração do Recife, o selo foi fundado pelos músicos e pesquisadores Dom Angelo Mongiovi e Bruno Vitorino.
O projeto lançou digitalmente o álbum do Mongiovi Trio, composto por Angelo (guitarra), Miguel Mendes (baixo elétrico) e Rostand Junior (bateria), contando também com participações do pianista Amaro Freitas e do cantautor Marcello Rangel. O disco traz um experimentalismo que mescla a improvisação instrumental com poesia, utilização da voz como instrumento e até uma releitura da música Copo vazio, de Gilberto Gil.
Em setembro, foi a vez de relançar o Summertime, do grupo pernambucano Contrabanda, tido como o primeiro álbum de jazz totalmente produzido em Pernambuco. A banda foi fundada em 1987 pelo maestro Edson Rodrigues - muito famoso pelo frevo e homenageado neste ano pelo Carnaval do Recife - ao lado de Nilton Rangel (guitarra), Nando Rangel (contrabaixo) e Maurício Chiappetta (bateria). O quarteto apresenta um repertório que vai de Charlie Parker e John Coltrane até Luiz Melodia e Fernando Rangel.

Esses dois lançamentos são apenas o começo, já que os diretores do Boa Vista enxergam uma cena jazzística frutífera e também desejam expandir a dimensão histórica do gênero no estado. Angelo Mongiovi tem quase 20 anos de carreira musical e é doutor em música pela Universidade de Aveiro, em Portugal. Ele voltou a Pernambuco em 2017, quando começou a atuar na área de produção cultural e realizou, em 2018, a primeira edição do Festival Panela do Jazz, no Poço da Panela, Zona Norte do Recife. Em julho deste ano, o pesquisador estreou na Frei Caneca FM (101.5) um programa homônimo, que vai ao ar nas quartas-feiras, a partir das 21h.
“A minha experiência em Portugal teve muita influência nessa iniciativa, pois lá vi um cenário estruturado e um bom diálogo internacional com outras cenas, algo que vemos menos no Brasil”, diz Mongiovi, em entrevista ao Diario. “Quando eu volto para o Brasil, vejo que tínhamos todos aqueles ingredientes necessários para a fortificação de uma cena, faltava apenas a estruturação. O festival e o programa são projetos que procuram dar visibilidade para essa cena. Eu até criei um grupo de WhatsApp com vários músicos, para mantermos esse diálogo. O selo Boa Vista Jazz Records foi uma ação que faltava para completar tudo isso”, continua.

Em 2018, quase 30 músicos do estado se reuniram para uma fotografia que remete ao Great Day in Harlem, em Nova York - quando músicos que compunham o movimento jazzístico posaram juntos. Angelo Mongiovi, os irmãos Fernando e Niltinho Rangel, Amaro Freitas, Henrique Albino, Miguel Mendes, Ítalo Sales, Marquinhos Diniz, Bráulio Araújo, Maestro Spok (que tem um frevo fundamentado na organização da big band norte-americana) e Alex Corezzi (fundador do Recife Jazz Festival) são alguns dos músicos presentes na fotografia.
"Foi como a celebração de estruturação de uma cena", explica Angelo. "Existem nomes mais antigos, outros mais novos, e ela está ficando nítida desta forma. Edson Rodrigues infelizmente faltou no dia da foto, mas ele também tem muita importância. A Bia Villa-Chan é uma importante representatividade feminina em um meio ainda muito masculino. Cláudia Beja também é uma outra cantora importante."
Atualmente, o Boa Vista Jazz Records está na produção de um novo álbum do guitarrista Luciano Magno. Será um disco solo de guitarra, algo não tão comum no estado, mas que existe na cartilha das discografias internacionais. "Acreditamos que Luciano sintetiza bem a guitarra pernambucana, com uma improvisação que mexe com o frevo, com o baião", finaliza Mongiovi.
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