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Novo disco de Zeca Viana, TRËMA traz trilha sonora de um autoisolamento

Publicado em: 08/06/2020 17:45

 (Foto: Kamila Ataíde/Divulgação)
Foto: Kamila Ataíde/Divulgação

Enquanto muitos estão em casa por conta da pandemia, o disco TRËMA, novo trabalho do músico recifense Zeca Viana, é lançado como trilha sonora de um autoisolamento de dois anos do autor. O álbum, disponível em diversas plataformas digitais, é a confluência de um processo de gravação em um estúdio caseiro, que passa por referências ao cineasta norte-americano David Lynch, pela poesia simbolista e por um anacronismo oitentista. 
 
O lançamento do primeiro disco solo de Zeca, Seres invisíveis (2009), atraiu os olhares da antiga MTV Brasil, sendo indicado ao prêmio Aposta MTV. Passados 11 anos, seu novo trabalho conta com participações especiais de Carol Pudenzi, Kamila Ataíde, Igor Taborg, em um hibridismo de referências, permitindo que cada uma das dez faixas passeie por um território diferente. De paisagens naturais à atmosfera onírica, Zeca define o disco como uma espécie de trilha sonora que abarca referências musicais como krautrock, dreampop e rock psicodélico. 
 
“Comecei a gravar esse disco em 2017 e vim pesquisando novas coisas e sonoridades. Faz uns dois anos desde que comecei o mestrado, que me afastei da noite, da cena e da cidade. Me isolei um pouco mais pra produzir. Lancei três singles e terminei o disco na quarentena. Eu gravo e componho ao mesmo tempo, então é um processo meio artesanal mesmo”, explica o músico. “Uma coisa que notei das faixas antigas para as faixas mais novas é que as mais antigas tem mais elementos, são mais agitadas, e o fim foi ficando mais econômico.” O processo de autoisolamento foi também um momento de pesquisa, no qual Zeca se aproximou mais do sintetizador, permitindo diferentes timbres. Esse movimento foi essencial pra criação de um som de ambiência, que se liga muito à ideia das imagens e paisagens sonoras. O álbum conta com um vídeoclipe, da faixa Fata Morgana, gravado com celular na praia de Calhetas, local que o músico frequentou diversas vezes durante o processo criativo do disco. “Valorizei muito mais essa coisa do contato com a natureza.” 
 
TRËMA é uma trilha sonora justamente por conta de sua vocação de evocar imagens diversas: do tom meio medieval em O cão andaluz, passando pela divergência entre synth e o ruído do mar em Fata Morgana. “Eu sempre pensei no meu trabalho como um processo de trilha sonora, uma música mais imagética, com imagens e cenas. Quando a gente lê um conto, um livro ou um romance, a gente tem essas imagens, e eu sempre quis fazer um disco que fosse um tipo de trilha sonora. Então, essa psicodelia e dreampop têm esse lado onírico que sempre gostei tanto de produzir, porque afinal surge bastante natural pra mim. Influência dos surrealistas e dos poetas simbolistas”, afirma. 
 
Enquanto muitos músicos precisam se adaptar para sobreviver financeiramente e criativamente ao processo de isolamento, o músico recifense fala de como a prática do lofi, dos home studios e produção caseira lhe permite produzir muito mais baseado em soluções. “Essa ideia de escape funciona muito pra mim, porque geralmente gravo de madrugada, quando todo mundo já está geralmente dormindo, que é um momento que posso criar esses mundos possíveis. É um escape nesse sentido: não tenho a necessidade de fazer uma réplica da sociedade.”
 
Ouça o disco TRËMA:
 
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