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Conhecido internacionalmente, recifense Samuel de Sabóia é alvo de ofensas e racismo nas redes

Publicado em: 22/04/2020 16:25 | Atualizado em: 23/04/2020 12:22

Samuel de Sabóia, 22, cresceu na periferia do Recife (Foto: Instagram/Reprodução)
Samuel de Sabóia, 22, cresceu na periferia do Recife (Foto: Instagram/Reprodução)
O artista plástico Samuel de Sabóia, natural do Totó, um bairro periférico da Zona Oeste do Recife, é considerado um nome quente do mercado das artes no mundo, tendo realizado exposições em Nova York, Paris e outras capitais globais. Ele também chegou a aparecer em uma matéria no The New York Times em 2019. No Brasil, no entanto, o jovem de 22 anos está sendo alvo de comentários ofensivos nas redes sociais. O episódio começou quando o humorista Leo Lins, que integra o elenco do programa The Noite, no SBT, realizou uma publicação nesta quarta-feira (22), fazendo uma piada em cima de uma notícia sobre o pernambucano no jornal Folha de S. Paulo.

"Com 5 anos eu poderia estar expondo meus desenhos em NY, mas minha mãe me incentivou a melhorar", escreveu o ator. A piada, por sua vez, desencadeou uma série de comentários que não apenas desprezam o trabalho artístico de Sabóia, como também buscam atingi-lo por
atributos físicos.

"E ainda foi de pijama, sem pentear o cabelo lazarento", publicou o lutador do UFC Paulo Costa, se referindo ao cabelo crespo do jovem. "Provando que existe coisa mais feia que a violência no Brasil", escreveu Bene Barbosa, escritor e especialista em segurança pública. "Será que alguém compra? Se compra, com certeza é só para ajudar mesmo", comentou o advogado e humorista Jonathan Nemer. "Novo Basquiat????", questionou o humorista Evandro Sandro, sobre a comparação feita entre o pernambucano e o pintor estadunidense.

"Eu acho que ele desenhou no momento que estava correndo da polícia", comentou um anônimo. "Esse lixo é arte? Não do valor nenhum por arte abstrata" e "Você não entendeu. Ele desenha enquanto apanha..." são algumas outras reações à piada. Na página Ódio do Bem no Instagram (@odiodobem), onde a notícia também foi publicada, um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil de Pernambuco comentou: "Ele desenhou enquanto estava sendo espancado. É a única explicação", escreveu Diego Acioli. Os comentários foram alvo de críticas na própria página de Leo Lins, e também em publicações no Twitter, que apontam racismo e ignorância.

"A gente só consegue colocar pra fora o que carregamos dentro do nosso próprio peito. Desde novo eu aprendi a não dar casa a maldição, a palavras malignas, a palavras tristes, que normalmente vem de pessoas tão tristes quanto o que falam, e foi algo aprendido dentro da minha casa, dentro da minha vida , implementado em toda a minha carreira desde então", diz Samuel de Sabóia, em nota enviada ao Diario

"Não existe espaço pra ódio, não existe espaço pra tristeza, para agonia, para humoristas que acham graça não só em diminuir o outro mas em criar humor com coisas tão erradas, com assassinato, com estupro, com ideais que são contra as pessoas independente de crença ou de posição política. Dentro da minha arte trago coisas boas, trago sentimentos bons, e trabalho pra que tudo isso se prolonguem e sirva de inspiração pra tantos outros que sonham, que tem vontades, que tem desejos se tornarem mais e de irem além, dentro desse nosso ambiente não existe espaço pra nada do que foi falado. Eu e toda minha família repudiamos todas essas ações e mensagens mas além disso celebramos a vida, o existir, o criar arte e poder ser inspiração e futuro, e vocês não mexeram apenas com um mas sim com um exército. Não ficará impune".

Reconhecimento internacional
Apesar das críticas, - que não apresentam nenhum critério realmente artístico - Samuel de Sabóia é um recifense em ascensão pelo mundo. Aos 22 anos, chegou a ser comparado ao pintor norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) por publicações internacionais. Seus traços também transcenderam as telas e já estiveram em eventos de moda, como o São Paulo Fashion Week, e em editoriais de revistas renomadas.

Em suas telas, Samuel trabalha com a estética do Afropresentismo, que usa de traços abstratos para redefinir a representação do negro na arte e reivindicar avanços para essa população na atualidade. Ele começou seus primeiros trabalhos artísticos aos 14 anos. Mais tarde, ganhou projeção na internet, sobretudo no Instagram (@samueldesaboia).

Em agosto de 2019, ele foi destaque em uma matéria do The New York Times. O pintor apareceu como um dos nomes que integram a primeira edição da revista Samba Zine, criada por Juliano Cobetta na cidade de São Paulo. Em julho de 2018, o Diario de Pernambuco foi o primeiro jornal de grande circulação a entrevistar o jovem (clique aqui para ler).

Confira a publicação de Leo Lins:

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