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Adaptação do best-seller A Amiga Genial, série ganha força em segunda temporada
Publicado: 22/04/2020 às 13:21

A série de livros vendeu cerca de 30 milhões de cópias em mais de 40 países./Foto: HBO/Divulgação

Das ruínas de uma Itália destruída pela Segunda Guerra, em Nápoles, surge uma amizade que se transformou em um dos romances mais lidos dos últimos tempos. A tetralogia napolitana, de Elena Ferrante (pseudônimo de uma autora desconhecida), composta pelos livros A amiga genial (2011), História do novo sobrenome (2012), História de quem foge e quem fica (2013) e História da menina perdida (2014), vendeu cerca de 30 milhões de cópias em mais de 40 países. O sucesso da série de livros foi tanto que virou série audiovisual da HBO, com título de A amiga genial. A primeira temporada foi lançada em 2018. A segunda está sendo exibida desde 16 de março, com novos episódios toda semana pelo streaming do canal. Os quatro livros serão fragmentados em quatro temporadas.
As protagonistas da série são Lila (Gaia Girace) e Lenu (Margherita Mazzucco), duas garotas pobres, de personalidade muitas vezes opostas - Lila é muito proativa e inteligente, enquanto Lenu é mais observadora -, mas que juntas acabam se encantando e compartilhando sonhos. Entre eles, sair do subúrbio, através do trabalho como escritora, que surge depois do encanto com Jo March, de Mulherzinhas, clássico escrito pela norte-americana Louisa May Alcott. Logo na primeira temporada, assim como dividido pelos capítulos do livro, vemos a transição das duas meninas para a adolescência. Mesmo com as ambições de ambas, o verdadeiro coração da série está na relação entre as duas e com o próprio ambiente violento e patriarcal de uma Nápoles contaminada pela máfia, de agiotas até a organização Camorra. E as tensões são diversas, porque com as amizades, intrigas e jogos de poderes do pequeno subúrbio, o crime atua como uma elite financeira, que ao mesmo tempo que é paternalista, apresenta um perigo constante para os moradores, sempre amedrontados por qualquer “não” dado aos criminosos.
Na segunda temporada, a amizade das duas segue outros rumos, marcados por aproximação e afastamento. Lenu, que teve a rara oportunidade de estudar, continua sua formação. Lila tem que encarar um matrimônio e todo o peso de um destino comum para mulheres da sociedade na época. Assim como a adaptação mais recente para o cinema de Adoráveis mulheres, de Greta Gerwig, tanto os livros quanto a série parecem fazer parte de um movimento maior de revisitação do romance adolescente de protagonistas femininas, mas a partir de textos muito contemporâneos, ao mesmo tempo que sem perder sua essência dramática e novelesca - porque é brutal ver a força com que a sociedade poda a “genialidade” de ambas as personagens. Talvez por isso o grande sucesso de A amiga genial: uma narrativa de romance tão familiar que assume novos ares. Como adaptação dos livros, a série tem tudo para agradar tanto quem não conhece as obras originais, quanto quem é fã.

O esmero e primor postos nas primeiras temporadas de Game of thrones - série da mesma HBO - voltam a aparecer na produção de A amiga genial. Destaque também para a direção “redondinha” de Saverio Costanzo e da produção italianíssima: elenco, roteiristas e equipe extremamente locais, com uma produção norte-americana falada em italiano, algo bem raro, mas que faz sentido dentro do panorama de produções recentes. Inclusive, as “italianices”, fazem da série um sucesso principalmente em seu país de origem, que teve exibidos no cinema os dois primeiros episódios dessa segunda temporada, no fim de janeiro, um pouco antes do boom da pandemia do novo coronavírus.
Quem é a autora?
Afinal, quem é Elena Ferrante? Essa foi a pergunta feita por jornalistas, mercado editorial e fãs da série de livros. Acontece que ninguém sabe a verdadeira identidade da autora - que talvez, por mais inesperado que seja, pode ser inclusive um autor. Foram raras entrevistas, a maioria feita apenas por email. O pseudônimo apareceu pela primeira vez ainda em 1991, com a publicação do livro Um estranho amor. Mas a situação tomou uma proporção tão absurda que foi conduzida uma investigação jornalística em 2016 para se encontrar a verdadeira identidade da autora. Uma das grandes conclusões era que Elena poderia ser Anita Raja, uma tradutora da editora que publica os livros de Elena Ferrante, casada com o famoso escritor napolitano Domenico Starnone.
A editora se posicionou negando as suspeitas. É claro que todo esse mistério em cima da figura atraiu muitos leitores e pode também ser lida como uma jogada de marketing para a série. Mas o que chama atenção é sua precisão com a cidade de Nápoles, além dos detalhes de convívio da vida suburbana naquela época da década de 1950, o que leva muitos a acreditar que a autora por trás de Elena Ferrante traz certos traços autobiográficos em sua escrita.
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