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Ministério Público investiga denúncia de censura da PM a bandas no carnaval do Recife

Publicado em: 03/03/2020 16:09 | Atualizado em: 03/03/2020 17:35

 (Devotos diz que o show da banda foi ameaçado pela PM de encerrar por causa de conteúdo de algumas músicas. Foto: Aline Sales/Divulgação)
Devotos diz que o show da banda foi ameaçado pela PM de encerrar por causa de conteúdo de algumas músicas. Foto: Aline Sales/Divulgação

As denúncias de censuras e intimidações por parte de policiais militares em shows durante o carnaval do Recife estão sendo investigadas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE). O órgão abriu inquérito civil para apurar as “possíveis violações à cultura da população e à liberdade de expressão e artística dos músicos”. A banda paraibana Janete Saiu Para Beber e a pernambucana Devotos relataram ameças de PMs por tocarem músicas de Chico Science & Nação Zumbi - uma delas, Banditismo por uma questão de classe (do disco Afrociberdelia, de 1996), tem o seguinte trecho: “Em cada morro uma história diferente / que a polícia mata gente inocente”.

O MPPE convocará integrantes das duas bandas, além do cantor China, que relatou ter sofrido intimidações da PM para encerrar um show realizado no polo da Lagoa do Araçá, na terça de carnaval, por questões de horário. O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, e representantes da Polícia Militar também serão chamados para prestar depoimentos. O órgão solicitou ainda, à PM, a relação nominal dos profissionais que atuaram durante os referidos shows. Cobra, também, esclarecimentos de autarquias estaduais e municipais ligadas à cultura e aos direitos humanos.

Em portaria assinada pelo promotor Westei Conde y Martin Junior, da Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, o órgão decidiu investigar o caso, entre outros motivos, por considerar “não competir à PMPE o papel de eleger repertório musical ou mesmo de interferir no conteúdo das produções e apresentações artísticas (...) e que a eventual interferência constitui, na prática, censura”.

DENÚNCIAS
 (Janete Saiu Para Beber relata que houve até ameaça de prisão contra integrante. Foto: Instagram/Reprodução)
Janete Saiu Para Beber relata que houve até ameaça de prisão contra integrante. Foto: Instagram/Reprodução

Janete Saiu Para Beber foi a primeira a se manifestar sobre o caso de censura. A banda tocava na Rua do Apolo, no Bairro do Recife, na segunda-feira de carnaval, quando houve o episódio. "No início da apresentação, um grupo de policiais militares que estava circulando parou e ficou observando o show. Algumas das canções entoadas (entre elas Banditismo) irritaram alguns dos policiais presentes, que foram questionar a produção do evento sobre o teor dessas músicas", diz a nota emitida na quarta de Cinzas. 

“Por conta disso, os policiais que estavam dialogando com os produtores ameaçaram prender o vocalista por desacato a autoridade e injúria e pediram o encerramento imediato da apresentação. Enquanto os policiais que permaneceram na frente da casa formaram uma barreira entre o palco e o público, intimidando todos os presentes”, continua o texto.

Ao Viver, o vocalista do Devotos, Cannibal, confirmou as ameaças sofridas durante apresentação no polo da Várzea, também na noite de segunda. “Estávamos cantando Banditismo e depois De andada, do nosso último disco. Aí o nosso roadie veio no meu ouvido e disse que a produção mandou avisar que se cantasse mais uma ‘falando mal da polícia’, o show acabava”, comentou.

 (Produção do cantor China foi intimidada para encerrar apresentação por causa do horário. Foto: Pamella Gachido/Divulgação)
Produção do cantor China foi intimidada para encerrar apresentação por causa do horário. Foto: Pamella Gachido/Divulgação

O cantor China se pronunciou nas redes sociais na última quarta-feira. “Final apoteótico com a polícia tentando encerrar o meu show na Lagoa do Araçá. Não sabia que era a polícia que cuidava do crono dos shows do carnaval”, criticou. Em entrevista ao Viver, o artista explica que os shows estavam atrasados, então a PM pressionou a produção para encurtar a apresentação. “Os policiais foram contidos pela minha empresária e produtora que não deixaram que invadissem a boca de cena. Caso contrário, as coisas poderiam ser bem diferentes. A forma como tudo aconteceu foi desrespeitosa com meu trabalho, minha equipe e o público que foi lá assistir meu show”, comentou.

China relatou que “são mais de 20 anos de carreira e nunca passei por uma situação dessas”. “Estamos fazendo nosso trabalho, ocupando espaços públicos, contratados pela prefeitura para levar música e cultura para todos. O quão perigoso é isso?”, questionou. 

RESPOSTA
Em nota emitida logo após as denúncias, a PM afirmou que a intervenção no palco durante os shows se deu por motivos de horário e negou qualquer tipo de censura quanto às músicas.

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