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Novo diretor da Ancine defende mais agilidade e menos burocracia no órgão
Publicado: 10/02/2020 às 14:29

Edilasio Barra, diretor da Ancine./Foto: Érico Cazarre/Ancine/Divulgação
Com mais de 40 anos de experiência acumulada na televisão e na área cultural em geral, nas mais diferentes funções, o paraense Edilásio Barra, conhecido como Tutuca, apelido dado por sua avó, enfrenta hoje o desafio de formular uma nova política pública para o setor, na qual ele aponta para a necessidade de ser “mais eficaz e transparente e alinhada com as expectativas e os valores da maioria da sociedade brasileira".
Após comandar por alguns meses a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Ancine (Agência Nacional do Cinema), ele foi nomeado na semana passada para uma das vagas da Diretoria Colegiada do órgão, como diretor substituto. Nesta entrevista, ele rebate críticas e defende a descentralização e a desburocratização das operações de fomento da agência.
ENTREVISTA - Edilásio Barra, diretor da Ancine
Quais são as suas credenciais para o novo cargo?
Tenho mais de 30 anos de experiência profissional no audiovisual, nas mais variadas funções, de figurante a apresentador, produtor e diretor de documentários e de programas de sucesso na televisão. Sou formado em jornalismo, tenho 15 anos de docência em universidades, lecionando sobre produção e direção de TV. Trabalhei na Rede Globo, na Band, na CNT e na RedeTV. Mais recentemente, tenho atuado diretamente na formulação de políticas públicas para o setor, inclusive como titular da Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Ancine. Mas, tentando me atacar, as pessoas preferem dar destaque à minha crença religiosa, como se ela me desabonasse. Não me desabona em nada. A competência de um gestor público independe da sua religião, evidentemente. Não compreender isso é simplesmente um sinal de intolerância religiosa.
Quais são seus planos como diretor?
Minha missão é contribuir para o desenvolvimento do audiovisual no país, em parceria com meus colegas na Diretoria Colegiada, dentro do quadro institucional definido pela legislação. Eu, pessoalmente, acho que devemos buscar formas de descentralizar, desburocratizar e agilizar as operações de fomento indireto e os editais do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), sem prejuízo do rigor na fiscalização. Adotar medidas para oferecer mais agilidade nos processos de seleção, contratação e acompanhamento dos projetos, com segurança jurídica, transparência e eficiência.
Você já declarou numa entrevista que “a esquerda tem de entender que a direita assumiu esse país”. As críticas à sua nomeação têm relação com isso?
Claro. A esquerda precisa aceitar que o projeto que saiu vitorioso nas urnas é diferente do projeto do campo que esteve no poder por quase 15 anos. Fazer igual ao que era feito antes seria trair a confiança dos eleitores e desapontar os valores da maioria da população, que elegeu democraticamente este governo. Sou liberal na economia e conservador nos costumes com muito orgulho, acredito na família e nos bons costumes. Mas parece que defender a família se tornou algo errado ou até criminoso. O que há de errado em produzir, dentro da lei, filmes que fomentem os valores dos brasileiros comuns e da família?
Fala-se em censura a determinados tipos de conteúdo...
É outra distorção. Censura seria impedir a produção ou a circulação de determinados filmes, e nunca se cogitou isso. Os artistas são livres para produzirem o que bem entenderem, e não cabe ao governo interferir nessa produção artística. Mas, a partir do momento em que usam recursos públicos, eu entendo que esses produtores e artistas assumem obrigações junto ao Estado e à sociedade brasileira. Obrigações de prestar contas, inclusive, coisa que não era exigida com o devido rigor em gestões passadas. Até por exigência dos órgãos de controle, isso não será mais assim.
Haverá mudanças no Fundo Setorial do Audiovisual?
Não posso afirmar isso, até porque quem determina as diretrizes do Fundo Setorial do Audiovisual não é a Ancine, é o Comitê Gestor do FSA. O que estou afirmando é que, na minha opinião, a política pública para a cultura e a política pública para o audiovisual devem estar alinhadas com a proposta de governo que saiu vitoriosa nas eleições, sempre respeitando, evidentemente, a legislação em vigor.
Quais são as suas expectativas para a gestão de Regina Duarte?
A Regina Duarte é uma artista renomada e muito qualificada para o cargo. Desejo sucesso a ela nesse grande desafio que é conduzir a política cultural do Brasil. Tenho a convicção de que ela se sairá muito bem nessa missão.
Quando começou sua ligação com o mundo artístico?
Meu pai (que se chama também Edilásio Barra) já trabalhava nesse meio, era empresário artístico. Ele foi uma das pessoas que ajudou a lançar o cantor Waldick Soriano, trabalhou também com a produção de Telecatch, com o Ted Boy Marino. Cresci vendo muitos artistas frequentarem a minha casa: Fafá de Belém, Alcione, Sandra de Sá, Bebeto, Maria Creusa, Antônio Carlos e Jocafi, Márcio Greyck... artistas verdadeiramente populares.
Como é Edilásio Barra no dia a dia?
Sou uma pessoa comum. Sou flamenguista, gosto de samba e pagode. Adoro açaí e tacacá. Sou paraense com muito orgulho e, sendo um nortista, sei como é difícil produzir cultura fora do eixo Rio-São Paulo. É preciso descentralizar, dar oportunidade aos brasileiros de todas as regiões do país, oportunidade tanto para produzir quanto para consumir bens e serviços culturais.
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