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MÚSICA

Após saída da Nação Zumbi, Pupillo conquista espaço como produtor musical

Publicado em: 18/02/2020 11:17 | Atualizado em: 18/02/2020 11:17

Com mais tempo dedicado à produção musical desde a saída da Nação Zumbi, onde passou 23 anos, Pupillo vira um dos principais nomes no ramo. (Foto: Fabio Fraga/Divulgação)
Com mais tempo dedicado à produção musical desde a saída da Nação Zumbi, onde passou 23 anos, Pupillo vira um dos principais nomes no ramo. (Foto: Fabio Fraga/Divulgação)
 
Pupillo absorveu, do apelido de infância, o nome de quem está eternamente em uma posição de aprendizado. No RG consta Romário Menezes de Oliveira Jr., mas quando um ex-cunhado que tocava bateria se assumiu como seu mentor, Romário ficou para sempre como Pupillo. O apelido pegou, principalmente porque o irritava. Mas hoje, aos 45 anos, o ex-baterista da Nação Zumbi faz valer a alcunha como um produtor sempre em mutação. O pernambucano é uma força em ascensão e tem conquistado cada vez mais espaço na música brasileira, com trabalhos junto a nomes como Gal Costa, Erasmo Carlos, Paulo Miklos, Edgar e Céu.

Quase dois anos após a saída da Nação Zumbi, Pupillo se tornou um produtor requisitado. Mesmo sendo um outro momento para a carreira do músico, não podemos chamar exatamente de “nova fase”, pois desde o clássico Afrociberdelia (1995), o artista está envolvido em processos de produção musical. “O interesse começou ali no Afrociberdelia, que a produção se iniciou no Recife e depois foi para o estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro. Eu ficava maluco naquele estúdio histórico. Vários discos que amava passaram por ali. Todo mundo da banda ficou interessado”, rememora, em entrevista ao Viver. Mesmo com o envolvimento no segundo álbum do Chico Science & Nação Zumbi, o primeiro disco a ter, de fato, a assinatura do artista foi Baião de viramundo (2000), um tributo a Gonzagão.

O tempo e o aprendizado foram essenciais para formar um realizador que diz estar sempre atento para ouvir. “Sempre escuto muito mais do que falo. Eu adoro fazer pré-produção, me encontrar o máximo possível com o artista e decidir o caminho que ele quer traçar para o trabalho. Minha satisfação maior como produtor é dar um play em um disco e não me ouvir lá”, conta. Seu mais recente trabalho é fruto desse olhar atento. Junto com Marcelo Soares, produziu regravações de clássicos do frevo com roupagens pop, no disco Orquestra Frevo do Mundo - Vol 1, onde também é responsável pela bateria, percussão e programações. A disposição para articular a assinatura tão própria de artistas como Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Duda Beat, Otto, Céu, Siba e Tulipa Ruiz, em um álbum coerente que repensa o frevo, é a empreitada mais ousada do pernambucano. “O mais legal dentro desse trabalho foi receber 100% de receptividade dos artistas”, comenta Pupillo.
 
A produção do disco APKÁ (2019) foi uma experiência intima para Pupillo.  (Foto: Dovile Babraviciute/Divulgação)
A produção do disco APKÁ (2019) foi uma experiência intima para Pupillo. (Foto: Dovile Babraviciute/Divulgação)
 
O disco conta também com uma presença em especial para Pupillo. Na época do disco Céu (2005), o músico pernambucano começou a tocar com a cantora e, desde a fase Tropix (2016), os dois estão juntos na vida a dois. Passados 13 anos do primeiro encontro musical, nasceu o primeiro filho do casal, Antônio. Produzir o último disco da cantora, APKÁ (2019), foi uma experiência singular e íntima para Pupillo.“Todo tipo de sentimento que ela trazia nas músicas foi compartilhado. Eu me interesso por isso como produtor, de sair do estigma de ter um padrão. Tenho essa sorte de conseguir me relacionar pessoalmente com artista que produzo”, revela. Segundo ele, muito também se dá pelo disco tratar bastante da afetividade e as questões do período de gestação do filho.

TRILHAS SONORAS
Além de um currículo de peso com artistas da música brasileira, o produtor expandiu sua atuação também para a produção de trilhas sonoras no cinema. Entre eles, Amarelo manga (2003) e Baixio das bestas (2006), ambos do cineasta Cláudio Assis; Jardim Atlântico (2012), de Jura Capela; Quase samba (2013), de Ricardo Targino; e Sangue azul (2015), de Lírio Ferreira. O estuário que se tornou Pernambuco na geração manguebeat produziu, para além da música, cineastas, artistas plásticos e inúmeros trabalhos nas artes cênicas. “O país inteiro estava retomando a cultura e tivemos a sorte de, no Recife, todo mundo ter acordado junto. O cinema, o teatro e a música são parcelas do que foi o movimento. As pessoas só falam da música, mas Baile perfumado (1996) ajudou muito a cena do Recife de maneira geral. Então, o interesse pelo cinema vem desde então.”

CHICO
Em 1995, através de um bilhete jogado por debaixo de sua porta, Pupillo recebeu uma proposta irrecusável. Era Chico Science propondo um encontro para conversar sobre trabalho. Na época Pupillo tinha experiências como músico de forró e jazz. A partir dos encontros e ensaios com Chico, encontrou-se como artista, tanto que passou 23 anos de sua vida na Nação Zumbi. No grupo icônico da cena manguebeat, assumiu as baterias, instrumento que admite ter uma outra relação quando se trata da produção. “Talvez a bateria fosse o último instrumento que eu presto atenção. Eu fui um cara que sempre ouvia a música como um todo. Eu me preocupo com a música de uma maneira geral. Já cansei de dar sugestão de música sem ritmo”, explica. Agora, em seu momento dedicado à produção, Pupillo continua a fazer aquilo que cultiva desde a infância: aprender. “É um processo que você tem que prestar atenção no artista. Tudo isso tem que ter a cara de um artista. Sempre fui interessado em ouvir primeiro antes de falar.”  
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