Cinema

Crítica: O Grito de 2020 é um reboot enfadonho e desnecessário

Publicado em: 13/02/2020 15:16 | Atualizado em: 13/02/2020 15:25

 (Foto: Sony Pictures/Divulgação)
Foto: Sony Pictures/Divulgação

O grito (Ju-on, no idioma original), franquia de filmes criada pelo japonês Takashi Shimizu no final dos anos 1990, despertou atenção do ocidente por narrativas de horror que exploravam tradições culturais nipônicas ligadas ao sobrenatural de forma instigante. Os primeiros volumes foram lançados apenas para a TV, mas alcançaram popularidade no ápice do VHS e das locadoras. A primeira repaginada ocidental foi lançada nos cinemas em 2004, com o título The grudge, dirigido por Shimizu e protagonizado por Sarah Michelle Gellar (eternizada pelo seriado Buffy e queridinha dos filmes de terror da época). A bilheteria mundial foi de US$ 187 milhões, dando origem a algumas sequências malsucedidas.

Com um notável ensejo à falta de criatividade, um reboot dessa versão estadunidense chega aos cinemas brasileiros hoje, com direção do novato Nicolas Pesce (Os olhos da minha mãe, de 2016, e Piercing, 2018) e quatro produtoras envolvidas. O tema é o mesmo de toda a franquia, como explica a introdução do longa: "Quando uma pessoa morre com uma raiva profunda e poderosa, uma maldição nasce nesse ambiente”. Os espíritos dos falecidos assombram o local, matando quem encontrar a maldição por qualquer meio. Em O grito isso geralmente se manifesta ao entrar em uma casa amaldiçoada ou contato com alguém já amaldiçoado.

Apesar de manter a tradição, Pesce optou por trazer uma narrativa diferente e embaralhada. A ideia é mostrar quatro histórias simultâneas, em uma linha temporal contada sob o ponto de vista de vários personagens. O fio principal é a investigadora interpretada por Andrea Riseborough (Birdman, 2014, e A guerra dos sexos, 2017), uma jovem viúva que tenta recomeçar o cotidiano ao lado do filho. Ainda conta com Fiona (Tara Westwood), que pegou a maldição como vírus em uma casa em Tóquio e a levou para os Estados Unidos. Também há Faith, a mulher ter mina lmente doente interpretada por Lin Shaye e acompanhada por uma cuidadora. Existem também os agentes imobiliários casados (John Cho e Betty Gilpin) que descobrem que o bebê prestes a nascer tem uma boa chance de nascer com uma doença hereditária.

 (Foto: Sony Pictures/Divulgação)
Foto: Sony Pictures/Divulgação
Todas as histórias vão sendo conectadas no decorrer do filme, um dos primeiros pontos negativos do reboot. Nenhum dos personagens é realmente marcante, o que torna o roteiro enfadonho e repetitivo. Esse teor entediante se repete nas cenas de horror. Algumas conseguem provocar sustos, mas são deprimentes no geral. Os amaldiçoados se aproximam de banheiras cheias de água suja e esticam as mãos para explorá-las, sentem dedos estranhos nos cabelos enquanto tomam banho ou são confrontados com olhares de assombrações que até aparecem com uma estética atualizada, com inegável inf luência do universo Invocação do mal - rostos manchados de sangue, as bocas abertas em gritos obscenamente amplos, com moscas zunindo ao redor. Em geral, esse é o pacote malsucedido de tentativas do filme.

Os primeiros filmes Takashi Shimizu continuam bons, pois marcaram uma época do horror. Naquela época, os EUA ainda exploravam ao desgaste o terror “serial killer” de cunho teen, como nas franquias Pânico e Eu sei o que vocês fizeram no verão passado. A chegada de Ju-on no cinema mainstream foi um acontecimento, tendo como irmão o longa O chamado (a versão yankee de Ringu, também japonês). Quando trazidos para 2020, esses elementos de terror não surtem efeito, ainda mais quando executados de forma tão grosseira. O grito de 2020 é um ótimo exemplo de quando um remake ou reboot se faz inteiramente desnecessário.

Assista ao trailer:

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