° / °

Viver
Folia

Com orquestras e bonecos gigantes, blocos de frevo crescem no carnaval de São Paulo

Publicado: 05/02/2020 às 11:50

Fervo na Vila desfilando no bairro da Vila Madalena, em 2019./Foto: Divulgação

Fervo na Vila desfilando no bairro da Vila Madalena, em 2019./Foto: Divulgação

Fervo na Vila desfilando no bairro da Vila Madalena, em 2019.

O carnaval da cidade de São Paulo cresce desde o começo da década passada e, naturalmente, incorporou elementos culturais de todo o país. A capital paulista é historicamente cosmopolita, construída e povoada por migrantes e imigrantes diversos. A cultura pernambucana aparece nesse leque, tendo como maior exemplo uma edição do Galo da Madrugada na terça-feira carnavalesca, às 9h, com desfile na Avenida Pedro Álvares Cabral, ao lado do Parque Ibirapuera. A organização foi uma parceria com a Oficina de Alegria, produtora pioneira no crescimento da folia de rua de SP. Mais de 800 blocos desfilarão, segundo a Secretaria Municipal de Cultura. A estimativa é de atrair 15 milhões de pessoas e movimentar R$ 2,6 bilhões.

O anúncio da realização do “Maior Bloco de Carnaval do Mundo” em São Paulo despertou surpresa - e provocações - dos pernambucanos. Isso ficou nítido nas redes sociais. O Vaca Profana, versão feminista do folguedo Boi Bumbá de Belo Jardim, também tem desfilado na capital paulista há alguns anos. Movimentos como esses agradam os pernambucanos que moram em São Paulo e não conseguem retornar no carnaval - seja por motivações financeiras ou de trabalho. Desde o começo dos anos 2010, inclusive, muitos deles criaram blocos e eventos inspirados em Pernambuco, com direito a orquestras de frevo, maracatu e bonecos gigantes.

BILOLA DE BRENNAND
Endi Amaral, Eduardo Aguiar, Francisco Costa, Lucas Dombroysk, Leonardo Kelly e Victor Mesquita, criadores do Bilola de Brennand, da esquerda para a direita.

É o caso do Bilola de Brennand, que brinca com o apelido da Coluna de Cristal em frente ao Marco Zero. Criado pelos pernambucanos Eduardo Aguiar, Endi Amaral, Francisco Costa, Lucas Dombroysk, Leonardo Kelly e Victor Mesquita, o bloco estreou em 2019 e já tem edição marcada no Bairro da Bixiga em 1º de março, às 13h. “No ano passado, fizemos uma espécie de teste, mas conseguimos atrair cerca de 250 pessoas. Desta vez, estamos cadastrados na lista da Prefeitura e pretendemos reunir 500”, explica Eduardo. “Também realizamos festas durante o ano e já conseguimos notar os paulistas se aproximando. O carnaval de São Paulo tem uma ‘cultura de caixa de som’, mas nós desfilamos com orquestra de frevo completa, sempre com canções marcantes do carnaval pernambucano”, completa.

OLHA O SUCESSO
Marcelo Nunes, Patrícia Almeida, Herbert Barlow, Manuela Alcoforado, Julia de Castro e Dirceu Pinto, criadores do Olha o Sucesso (foto da direita).

Outro exemplo é o bloco Olha o Sucesso, que faz referência à popular frase usada por vendedores do entorpecente caseiro loló nas ladeiras de Olinda, mas também ao sentimento de felicidade do carnaval. A agremiação surgiu em 2013, com um grupo de pernambucanos do ramo de comunicação. “Em 2012, o carnaval daqui era bem sofrido e sentíamos muita falta da folia”, relembra Manuela Alcoforado. “Pensamos como seria incrível escutar frevo ao vivo. Pesquisamos todo o aparato burocrático para oficializar o bloco e fomos atrás de uma orquestra. Achamos uma formada por músicos paulistas, mas regida pelo pernambucano Deca Madureira.”  

O Olha o Sucesso desfilará no dia 15, às 15h, no bairro Cerqueira César. O tema vai explorar ícones como o Galo, o Homem da Meia-Noite e o dragão do Eu Acho é Pouco. “Recebemos um público de 300 a 400 pessoas. Vemos muitas famílias, mas também pessoas solteiras, casadas, héteros, LGBTs”, conta Manuela. 

FERVO NA VILA
Músicos do Fervo na Vila.

Criado por músicos, o bloco Fervo na Vila é realizado desde 2014. São os próprios organizadores que tocam trombones, trompetes, saxofones e tubas no desfile, realizado anualmente na Vila Madalena. Em 2020, sairá no dia 29 de fevereiro, às 14h. “É um bloco que tenta resgatar a cultura do frevo. Começamos quando tinha pouca gente trabalhando o gênero na cidade”, explica o paulista Marcos Magaldi, que integra o time com Júlia Touro, Daniel Zacarias, Rodrigo Leal e Arthur Albuquerque, o único pernambucano. “Os foliões são muito fiéis. Tem gente que vai todo ano, pois tentamos reproduzir o que ocorre em Pernambuco, com presença de boneco gigante e passistas. Tocamos canções como Vassourinhas, Elefante, Voltei, Recife e Madeira que cupim não rói".

DECA MADUREIRA E ORQUESTRA MULTICULTURAL BRASÍLICA
Músico da Orquestra Brasília durante o Olha o Sucesso.

A orquestra do Fervo na Vila se tornou requisitada para outros blocos, a exemplo do Bilola de Brennand. É o caso também de Deca Madureira e Orquestra Multicultural Brasílica, que tocará no Olha o Sucesso. A orquestra é comandada por André Madureira, filho de André Luiz e Ângela Madureira, fundadores do Balé Popular do Recife. "O grupo surgiu em 2008 para tocar música ao vivo em espetáculos de dança da Cia Brasílica. Também criamos um repertório autoral", explica Deca, que também comanda o bloco Pernambulistas.

"Venho tentando trazer a cultura pernambucana para São Paulo desde 2003, quando criei o evento Pernambucalizando SP, também com o Kim Countrim", diz Deca. "Aqui existe aquela cultura do 'cada um tem seu trabalho', então é complicado criar um movimento, mas estamos conseguindo aos poucos”. Neste ano, o artista ficou responsável por articular os grupos artísticos que vão desfilar no Galo da Madrugada na capital. "Serão 25 músicos de metais, 25 passistas de frevo, seis caboclos de lança e seis bonecos gigantes de Olinda", antecipa o maestro.

ARRIANU SUA SUNGA E BOLO DE ROLO - BANDA, BAILE E BLOCO
Ângelo Madureira, irmão de André, comanda dois blocos ao lado da sócia Ana Catarina Vieira. O Arrianu Sua Sunga foi fundado há cinco anos, fazendo sátira com o nome do escritor paraibano radicado em Pernambuco. Ele sairá no dia 15 de fevereiro, às 12h, em Pinheiros. A música ficará por conta da Orquestra de Alfaia, grupo de percussão criado pelo próprio Ângelo. O outro é o Bloco BoLO de RoLO - Banda, Baile e Bloco. Ele vai desfilar na segunda-feira de carnaval, numa praça do bairro República, às 10h. Além das Alfaias, esse contará com a banda Baque Virado, principal ritmo da manifestação cultural maracatu.

A reportagem entrou em contato com as assessorias da produtora Oficina de Alegria, de São Paulo, e do Galo da Madrugada, mas não obteve resposta.
Mais de Viver