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Produtor de Léo Santana quer impulsionar brega-funk com escritório, gravadora e festival

Publicado em: 30/01/2020 19:20 | Atualizado em: 30/01/2020 21:35

Sandro Andrade (Foto: Reprodução do Instagram)
Sandro Andrade (Foto: Reprodução do Instagram)

Salvador (BA) - Ao ouvir Contatinho, hit do verão de Léo Santana em parceria com Anitta, é possível ouvir o baiano verbalizando “brega-funk” antes de uma sequência de beats do ritmo tomarem conta da faixa. No clipe, as dançarinas mandam o “passinho” do Recife. Esse flerte com o gênero pernambucano não é por acaso. O produtor de Léo, Sandro Andrade, é um entusiasta do brega-funk no show business nacional. O baiano vem estudando o ritmo e financiando projetos de MCs do Recife.

Atualmente, o produtor de 41 anos integra a Salvador Produções, uma das maiores produtoras de entretenimento musical da Bahia. Recentemente, abriu a Dom Guedes, um escritório com enfoque no brega-funk. Ele também é ligado a Gufo Records, um selo italiano que tem auxiliado no direcionamento discográfico de diversos artistas brasileiros e na distribuição de fonogramas de MCs no YouTube e nas plataformas digitais. Seu atual objetivo é impulsionar os artistas pernambucanos, os levando além da cena local.

Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Sandro conversou sobre a potência do brega-funk, desafios que o ritmo deve enfrentar para alcançar o sucesso nacional e futuros projetos envolvendo o movimento.

ENTREVISTA - Sandro Andrade, produtor e empresário do ramo musical

Como começa sua história no ramo musical?
Essa paixão começou quando eu ainda era uma criança e acompanhava meu pai nos eventos que minha família patrocinava, mas foi em 1999 que a música passou a ser meu ganha pão. Tenho uma longa história com o pagode baiano. Fui um dos fundadores do Psirico, onde fiquei por 12 anos. Em 2011 pedi demissão e logo fui contratado pela Salvador Produções. Nela, estou há nove anos como produtor do Léo Santana.

Lembra quando conheceu esse gênero?
Primeiramente, costumo dizer que sou um pernambucano que nasceu na Bahia. Eu nasci em Salvador por um acaso, mas morei em Pernambuco até meus 18 anos. Por isso, eu já conhecia o brega romântico, e mais tarde o brega-funk, mas não tão de perto. Até que decidi ir para as periferias do Recife, através de amigos que conheciam as pessoas do movimento. Foi quando eu decidi trabalhar com isso. Comecei a me aprofundar e percebi que os artistas tinham muito talento, mas precisavam de muita orientação e de pessoas que dessem oportunidades.

Quais seus atuais projetos com o brega-funk?
Atualmente mantenho a Dom Guedes, que tem contrato com nomes como MC Anônimo, Elvis, Felipinho e Tocha. Já a Gufo Records distribui as músicas de artistas como Felipe Original, MC Anônimo, Tocha, Danilo Bolado, dentre outros que estão dominando a cena atual do gênero musical pernambucano. No Brasil, esse selo tem um casting com mais de 300 artistas. A gravadora estava ganhando espaço no Brasil e, quando os apresentei o brega-funk, logo compraram a ideia de que o ritmo tinha tudo para explodir nacionalmente. Me tornei representante deles em Pernambuco. O apoio da Gufo foi fundamental para toda essa construção. Junto com Cristiano Silva (gerente geral) e PierAngelo Mauri e Gabriele D’Andrea (direção) conseguimos desenvolver um projeto chamado "Brega-funk Pernambuco". Com ele, patrocinamos 15 clipes para artistas que não tinham investidores.

Como descobriu o Felipinho Real, seu primeiro artista do brega-funk?
Eu estava interessado no batidão romântico, um subgênero do brega, e quando fui pesquisar quem fazia acabei ligando para um amigo chamado Caio AK. Ele já circulava nesse meio e me fez chegar no veterano Dany Bala, produtor pernambucano de destaque. Fui para o estúdio dele no bairro do Cajueiro, no Recife. Quando cheguei na porta, ouvi uma pessoa cantando e fiquei curtindo de fora. Esperei terminar a gravação dele, para não atrapalhar a performance do cantor. Era o Felipinho. Um menino sem apoio de ninguém, muito humilde que já estava pensando em desistir da música. Não tinha ninguém que gerenciasse a carreira dele. Na semana seguinte estava trabalhando comigo. Atualmente, Felipinho já lançou sete músicas e dois clipes. O último foi lançado recentemente. Depois disso, não parei mais.

Na sua opinião, quais os desafios que o brega-funk deve enfrentar para uma nacionalização sólida?
Eu percebo que os MCs do Recife fazem muito pelo “agora”, sem olhar tanto para o futuro. Eu tive certa dificuldade de fazer esses artistas entenderem que tudo tem que ser planejado e programado, pois pode não sair bem feito. Outro desafio é a necessidade de consolidar um movimento de Pernambuco. Tem muita gente do Sudeste que está fazendo sucesso com brega-funk, enquanto muitos de Pernambuco continuam "na mesma". Eu quero mostrar para o Brasil que o brega-funk é de Pernambuco. Quero elevar os MCs de Recife, que merecem esse destaque. E ao contrário do que algumas pessoas pensaram no começo dessa luta, não quero tomar o lugar de ninguém e não sou dono de nada. Quero somar com tudo isso.

E quais são seus outros projetos em mente para alavancar o ritmo no mercado de shows?
A primeira ação foi inserir as musicas no repertório do Léo, para aproveitar o bom momento que ele está vivendo. Quando um artista consagrado toca uma música as pessoas aceitam e assimilam com muito mais facilidade. Outra ação importante foi inserir o gênero em um evento tão grandioso como o Baile da Santinha, também do Léo Santana. Criamos um espaço chamado Boate Inferninho, onde ocorreram 14 shows de brega-funk, com atrações como MC Elvis, Tocha, Anônimo, Maxx e Felipinho Real. No começo, tive receio porque não deu tempo de trabalhar as músicas nas rádios. Caso desse errado, meus sócios poderiam desistir do projeto. Mas o público baiano abraçou e foi um sucesso. Precisamos criar um movimento para ganharmos força nacional e assim conseguir valorizar nossos artistas. Então, resolvi juntar as maiores empresas (produtoras) do Norte e Nordeste e criar um festival que irá rodar o Brasil, impulsionando o brega-funk da capital para os interiores. A primeira edição já será anunciada em breve.

Muitos MCs e produtores fecharam negócios com produtoras de São Paulo. Como avalia esse movimento? 
Olha, eu não posso generalizar, mas vejo que existe muita conversa bonita, muitos fazem promessas de mundos e fundos. Quando você vai analisar os contratos, estão querendo 60%, 70% ou 80% da carreira, sem nenhum investimento. Eles querem gravar conteúdo para soltar no YouTube e nas plataformas digitais e depois ficam sentados à espera de um milagre. Eu sou muito pé no chão, só prometo o que vou cumprir, procuro sempre honrar minha palavra.
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