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Tatuadora camaragibense Riscoflor inaugura primeira exposição em Galeria no Recife

Publicado em: 19/11/2019 15:29 | Atualizado em: 19/11/2019 16:02

Foto: Divulgação
Como um espelho, a artista camaragibense Magda Martins, também conhecida como Riscoflor, expande sua produção artística da tatuagem para a tela, em uma perspectiva de se enxergar como artista visual. Travessia, sua primeira exposição, será apresentada nesta terça (19), véspera do Dia da Consciência Negra, às 20h, no ZV Tatuagem, na Galeria Joana D’Arc. A mostra, que teve uma pré-estreia no festival No Ar Coquetel Molotov, no último sábado, fica em cartaz até 19 de janeiro, com entrada gratuita.

Hoje, também será realizada uma declamação de poesias com Joy Thamires. Depois, haverá a discotecagem do Som na Rural, com Milena Cinismo e Libra, dentro da programação da Terça na Galeria. Em sete telas, feitas a partir de técnica mista de tinta acrílica e linhas, Magda traduz seus questionamentos em arte e apresenta um mundo sob sua ótica.

“Como é a primeira vez que exponho, achei que fosse um bom momento para falar de mim, apresentar minhas referências enquanto mulher negra e periférica. Escolhi a tela como suporte para apresentar um apanhado de coisas que carrego comigo e que, de certa forma, permeiam o meu processo de criação. Espero que as mulheres na mesma condição que eu se vejam no meu trabalho”, explica Magda, que atua profissionalmente com tatuagem estilo fineline há três anos.

A proposta da exposição surgiu a partir de um convite do artista e tatuador Nando ZV. “Eu pensei que já era o momento de ocupar um novo local. É uma experiência muito nova para mim, são descobertas desse espaço novo de galeria, de me olhar no espelho e me enxergar artista. Ver o reconhecimento das pessoas em relação ao meu trabalho. É um novo processo que estou passando, novas técnicas e descobertas, é como gestar um novo organismo”, pontua.

A trajetória de Magda Martins na arte começou quando ainda era criança.
“Eu desenho desde que me entendo por gente. Nunca gostei de brincar de boneca, a minha brincadeira era com papel, lápis e caneta. E a arte sempre funcionou para mim também como um processo de sublimação. Sempre que eu estava mal, era com papel e caneta que eu ia me recolher e me resolver”, conta a jovem de 25 anos.

Magda lembra, ainda, do contato que teve ainda na primeira infância com brincadeiras populares, como coco de roda, ciranda e bumba meu boi, tendo os personagens dessas manifestações culturais ilustrados nas paredes, num estímulo a um olhar artístico. Na adolescência, se afastou das artes por falta de estímulo das escolas públicas que frequentou. Aos 19 anos, Magda passou um ano em contato com o mestre griô Zé Negão, propagador do coco de senzala. A experiência foi determinante para a construção de sua trajetória artística.

“Eu me inspiro muito nas pessoas ao meu redor e o meu trabalho carrega fortemente aspectos da negritude. Após um ano de aprendizado com Zé Negão, que trabalha com cultura popular, decidi que iria ser artista visual. Olhei para o que ele realizava e traduzi em arte”, revela Magda, que é graduada em Artes Visuais na UFPE. Mãe Beth de Oxum e artistas locais que trabalham com a cultura negra na atualidade, como Mário Bross, Ianah, Adelson Boris e Nathália Ferreira, são outras influências de Magda.

De acordo com a camaragibense, não há muitos tatuadores que têm entre seus trabalhos desenhos com fenótipo negro e isso incent ivou os seus est udos. “Imaginei como seria para um negro não ter que encomendar um trabalho que dialogue apenas com a sua imagem, mas também se identificar com algo que já o reflete. E, no final, só transferir para o corpo”, pontua.

SERVIÇO
Abertura da exposição Travessia, de Magda Martins
Quando: nesta terça (19), às 20h
Onde: ZV Tatuagem e Galeria (Galeria Joana D’Arc - Rua Herculano Bandeira, 513, Pina)
Quanto: gratuito
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