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Relacionamento de Jorge Amado e Zélia Gattai é tema de exposição no Recife

Publicado: 26/11/2019 às 10:40

Zélia Gattai e Jorge Amado./Foto: Divulgação

Zélia Gattai e Jorge Amado./Foto: Divulgação

 Zélia Gattai e Jorge Amado.
Casal emblemático do imaginário cultural e intelectual brasileiro, os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai se conheceram enquanto trabalhavam juntos em um movimento pelo fim da ditadura do Estado Novo, na metade da década de 1940. Jorge convidou Zélia para um jantar com o poeta chileno Pablo Neruda, em São Paulo. Na volta, ele pediu para o táxi parar na frente do Theatro Municipal. Amado desceu, comprou todos os cravos de uma florista e os jogou em cima de Gattai. Foi uma demonstração de afeto inusitada, mas que marcou o começo de um relacionamento de 56 anos.

O episódio é tema de uma instalação da exposição Amados - Zélia & Jorge, montada na Caixa Cultural, no Bairro do Recife. Ao adentrar no conhecido cofre do equipamento cultural, o visitante mergulha em uma projeção de pétalas vermelhas que caem enquanto a voz da própria Zélia Gattai descreve a história. A vernissage da mostra será nesta terça-feira (26), às 19h, com visita guiada liderada por Paloma Jorge Amado, filha do casal e responsável por idealizar a exposição sensorial e interativa ao lado de Elaine Hazin, da Via Press Comunicação (BA), com projeto expográfico de Rose Lima.

Linha do tempo da trajetória do casal.

Totalmente inédita e sem previsão para entrar em cartaz em outras capitais, a mostra é um mergulho na intimidade do casal, reunindo fotografias de autoria da própria Zélia. Ela também era uma exímia fotógrafa e documentou as cinco décadas ao lado de Amado. As imagens foram concedidas pela Fundação Casa de Jorge Amado, localizada na capital soteropolitana. Os objetos pessoais de Jorge e Zélia, que ficam uma exposição fixa na Casa do Rio Vermelho, onde viveu o casal, não foram transportados pelos valores exorbitantes do seguro. Mas Paloma fez dois bonecos de pano que representam os seus pais. “Ele está vestido com roupas de Jorge e ela com um vestido mexicano de mamãe. Foram as únicas peças que tirei da exposição permanente”, revela Paloma.

Além das fotos, o público tem acesso a réplicas de cartas e bilhetes. A proposta é que os visitantes leiam os textos deitados em redes montadas no local. “Papai falava da história de um filósofo espanhol que, passeando pelos cantos da Espanha, parou e se deitou em uma rede. Um camponês, passando, perguntou: ‘Descansando, poeta?’. Ele responde: ‘Não, trabalhando’. As redes serviam para prazer, mas também era um lugar de criação para ele”, explica.

Paloma Jorge Amado.

Os "tubos de sussurros" são ferramentas que reforçam o caráter sensorial da mostra. Ao colocar o ouvido em um dos canos, o visitante ouvirá frases de autoria de Jorge ou Zélia, declarações de amor que escreveram um para o outro. Bem no centro do térreo, uma árvore de madeira representa uma ramalheira. “Uma semana após a morte do meu pai, brotou uma ramalheira em casa. Ela cresceu de uma forma que foi parar embaixo de onde as cinzas deles foram depositadas. Para nós, aquela ramalheira é nosso pai. Queremos mostrar que a vida de Jorge Amado deixou raízes profundas”, explica a filha.

Paloma também ressalta como foi difícil chegar no recorte final do projeto. "Acho que esse resultado tem muito a ver com uma necessidade de mostrar para as pessoas a história de um casal que viveu momentos de intensa paz, alegria e felicidade. Ao recriarmos esses 56 anos, estamos abrindo um espaço para as pessoas se encantarem. Para que as pessoas olhem para esses momentos de amor, solidariedade e cumplicidade, mas de luta também", diz. "Isso tudo não é uma fantasia ou um sonho. Tudo existiu concretamente. Essa percepção de existência pode trazer muita alegria e momentos de relaxamento para quem visita."

Levantando um tom mais político, a curadora também destaca como a exposição chega em um momento em que o Brasil vive um surto de feminicídios e o movimento feminista "é tratado com deboche". "Se esse amor durou 56 anos, foi porque havia total respeito entre o casal. Muitas vezes meu pai ouviu: 'Ah, Zélia… Que maravilha. Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. E ele respondia: Zélia nunca andou atrás de mim, mas sim ao meu lado e de mãos dadas’. Isso é algo muito bom para se ouvir nesse momento."

SERVIÇO
Exposição Amados - Zélia & Jorge
Onde: Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero)
Abertura e visita guiada: nesta terça-feira (26), às 19h
Visitação geral: de amanhã a 19 de janeiro, das 10h às 20h (de segunda a sábado) e 10h às 17h (aos domingos)
Quanto: Gratuito
Informações: (81) 3425-1915
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