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Teatro Fernando Santa Cruz é reinaugurado em Olinda com peça sobre regime militar
Publicado: 22/10/2019 às 13:32

Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP FOTO/

O Teatro Fernando Santa Cruz, localizado na área interna do Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, será reaberto nesta terça (22), às 19h30, com o monólogo Soledad, de Hilda Torres, com direção de Malú Bázan. Na ocasião, será realizado, ainda, o lançamento do Edital de Ocupação do Teatro para os meses de dezembro e janeiro e anunciado o Festival Fernando Santa Cruz de Artes Cênicas para setembro de 2020, mês em que se relembra a Lei da Anistia.
A montagem do monólogo, que conta a história de vida da militante paraguaia Soledad Barret, assassinada em Pernambuco durante o regime militar, inaugura um ciclo temático de cinco apresentações sobre o período. As peças serão encenadas nos dias 1º, 2, 8 e 9 de novembro, sempre às 20h.
A escolha da peça de abertura homenageia a memória de Fernando Santa Cruz, desaparecido político que dá nome ao teatro desde 1984, quando um projeto de lei municipal alterou o nome do Teatro Municipal de Olinda para seu nome. Para Hilda Torres, responsável por Soledad, o monólogo será encenado em lugar e data oportuna, principalmente pela recente morte de Elzita Santa Cruz, conhecida por sua história de luta em prol da memória do filho Fernando, e após as declarações de Jair Bolsonaro sobre as supostas causas da morte do desaparecido (que, segundo o presidente, teria sido assassinado por militantes de esquerda).
“É de uma importância muito grande inaugurar o teatro com a história de Soledad, uma mulher que dialoga com o universo que Fernando viveu, que dividiu o mesmo momento político dele, lutou com cores parecidas, ergueu as mesmas bandeiras... Eles estavam juntos, de mãos dadas, nessa parceria que nos ensina até hoje sobre fraternidade e companheirismo”, pontua Hilda. A montagem, em circulação há quatro anos, já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Paraguai, Uruguai e Cuba, e foi vencedora na categoria Espetáculo Solo do 1º Prêmio Roberto de França (Pernalonga) de Teatro da Secult/ Fundarpe.

“Meu sentimento é que Soledad fortaleça a ideia de que a luta das gerações antigas ainda continua. Cada vez que eu escuto a história dela, tudo que eu acredito sobre uma sociedade, acolhendo liberdade e construindo resistência, se fortalece. A forma dura e cruel que o presidente falou só eternizou o nome Fernando e a arte, esse espaço de resistência, principalmente agora com o despertar de tanta ignorância. Eu acredito que a arte consegue acessar diretamente as pessoas, construindo um lugar de transformação”, destaca.
A peça será encenada com novos figurinos assinados por Malu Bázan e execução de Lana Lacet e Marta Canuto. Dando continuidade à agenda cultural, no dia 1º de novembro, o teatro recebe a estreia de Antes que desapareça, do Grupo Experimental, dirigido por Monica Lira. No dia 2, será a vez de Retratos de chumbo, com texto e encenação de Oséas Borba Neto, do Grupo de Teatro João Teimoso. O coletivo Grão Comum encerra a programação de novembro com duas peças que fazem parte do projeto trilogia vermelha: pa(IDEIA), sobre Paulo Freire e pro(FÉ)ta, sobre Dom Helder Camara, que serão apresentadas nos dias 8 e 9 de novembro, às 20h.
“Acho que é muito importante Pernambuco receber mais um palco para o teatro e a música, porque a produção local é muito forte. É um momento especial para todos. Estamos celebrando 40 anos da anistia e esse espaço é um importante reforço para que a história não se repita. Além de ser um espaço importante para a tradição artística de Olinda, a abertura dele, dentro de um equipamento público, é uma forma de resistência e manutenção dessa cultura que é marca pernambucana”, afirma Márcia Souto, diretora de Promoção do Artesanato e da Economia Criativa da AD Diper, gestora do equipamento.
A sala tem 131 lugares, novos sistemas de som, iluminação, camarim e banheiros. O Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa também tem espaços para exposições, salas de oficinas e formação, Museu do Mamulengo, livraria da Cepe, loja do Centro de Artesanato de Pernambuco e boxes comerciais.
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