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Grupo de jazz do sertão pernambucano inspira novo poema de Cida Pedrosa

Publicado em: 18/10/2019 14:52 | Atualizado em: 18/10/2019 15:33

Foto: Sennor Ramos/Divulgação

Uma fotografia com oito músicos vestindo ternos cercados por sax, trompetes, banjos, bateria e contrabaixos, instrumentos explorados pelo jazz, despertou a curiosidade da poeta e secretária da Mulher do Recife, Cida Pedrosa, há 15 anos, quando a artista descobriu que se tratava da Jazz Band União Bodocoense. O grupo que agitou, na década de 1940, as ruas de Bodocó, no Sertão do Araripe, onde a autora nasceu, é o ponto de partida de seu novo livro Solo para vialejo (2019), editado pela Cepe.

A obra será lançada nesta sexta (18), na mesma data em que comemora 56 anos de idade e 40 de poesia. O encontro será às 19h, na Venda Bom Jesus, no Bairro do Recife, com apresentação do projeto Jazz na Venda e leitura de trechos do livro realizada pelas cordelistas Susana Moraes e Mariane Bigio.

Foto: Divulgação

“Eu estou trabalhando no livro há dois anos. É um poema único que passeia entre o ético e o lírico, construído a partir de fragmentos daminha imaginação. A narrativa sai do litoral recifense até Bodocó, ilustrando uma diáspora de negros e negras para o Sertão. Começo a falar de resistência através dos índios, da chegada dos brancos e da dor de receber negros tão tristes. Tudo isso inspirado nos negros que tocavam banjo na banda e, ao contrário dos demais, nunca foram identificados”, explica Cida.

A relação com o grupo de Jazz costura toda a narrativa, que revela um forte viés musical da artista, relacionando as lembranças sonoras da poeta quando acompanhava a colheita de algodão e ouvia os assobios musicados de seu pai. O vialejo que intitula o livro, inclusive, é o nome dado no interior à gaita, e remete a um presente que Cida recebeu quando criança, mas nunca aprendeu a tocar.

Foto: Sennor Ramos/Divulgação

“O jazz e o blues tem muito a ver com minhas raízes musicais de Bodocó, as lamúrias e as ladainhas da cidade. Minhas memórias são muito musicais, lembro dos ciganos que constantemente visitavam Bodocó, falo das encruzilhadas, andanças, e vou construindo um caminho até a música de Bob Dylan e Caetano Veloso”, conta. Com métricas modernas e visuais, o poema descreve o clima, a fauna e a flora e a geografia dos caminhos que passa. A experiência literária é descrita pela poeta como desafiadora.

“É um desafio enorme, mas eu nunca enveredei pelo caminho fácil, para ser sincera. Primeiro desafio foi As filhas de Lilith (2009), depois testei formas mais rígidas, até chegar no Gris (2018), que tem um texto mais urbano. Agora eu escrevo um grande poema, moderno, visual e tenho percebido que desafios passam por dentro e fora de mim”.
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