Música

Grupo Bongar lança álbum com o DJ norte-americano Maga Bo

Publicado em: 13/10/2019 14:32

Foto: Rennan Peixe/Divulgação

Foi na quarta-feira de cinzas de 2012 que Guitinho da Xambá, líder do Grupo Bongar, recebeu o DJ norte-americano Maga Bo na comunidade de Xambá, em Olinda, após o artista afirmar em entrevista que tinha interesse em conhecer a música feita pelo grupo. O DJ, que já realizou parcerias no Brasil com BaianaSystem e O Rappa, estava no Recife para uma apresentação no palco Rec Beat durante a programação do carnaval da cidade.

"Chamamos ele para a nossa casa, o Centro Cultural, e comecei a detalhar o novo projeto que estava pensando em colocar em prática. A proposta era construir músicas que viessem a partir da memória dos meus antepassados e dos objetos de culto da Nação Xambá, com letras e arranjos sendo pensadasde forma instantâneas. Falei tudo que queria e ele topou", relembra Guitinho em entrevista ao Viver. O projeto foi realizado ao longo de sete anos e culminou no disco Macumbadaboa, que será lançado oficialmente no domingo (13), às 18h30, no Centro Cultural Grupo Bongar, com show e participação da cantora Isaar França, filhos de santo do Terreiro Xambá, Roger de Renor, o músico africano Adama Keita e crianças da comunidade. Os ingressos custam R$ 15.

Gravado de forma independente, Macumbadaboa é o sexto álbum do Grupo, formado por Guitinho, Nino, Beto, Memé e Thúlio. Durante o período de elaboração de letras e gravação, foi construído um espaço de colchões e tapetes no Centro Cultural Bongar, entre tambores e instrumentos tradicionais. Algumas faixas também foram elaboradas no Memorial Mãe Biu, no Terreiro Xambá, onde acontecem cerimônias religiosas da família dos integrantes do Grupo.

"A nossa musicalidade brota do palco, do terreiro e dos elementos sonoros modernos do ambiente urbano, produzindo um som forte como uma junção do maculelê com o funk. O Macumbadaboa é um disco psicofônico, como uma psicografia instantânea que vai se transformando em som", explica. De acordo com Guitinho, a construção do álbum foi um processo intenso e bonito. "Eu precisava incorporar para construir as letras, e isso podia levar algum tempo. Maga Bo marcava as vindas dele por temporadas e às vezes acontecia de ele vir e demorar uma semana para eu conseguir escrever. Como resultado, produzimos um trabalho que pode ser ouvido em terreiros tradicionais, mas também em qualquer pista de boate no mundo inteiro", conta.

O som de um bebê chorando, ouvido ao acaso por Guitinho, o levou até Isaar França, que tinha acabado de ter um filho. A convite do Bongar, a cantora foi chamada ao estúdio improvisado e, entre amamentação do pequeno, ajudou na construção de Passuê, sexta faixa do Macumbadaboa. “Aconteceu também de sairmos procurando, no meio da madrugada, um instrumento de banda marcial porque senti a necessidade de adicionar essa sonoridade em uma das músicas”, relata.

No Centro Cultural, o grupo também recebeu Lia de Itamaracá, As Filhas de Baracho, Cláudio Rabeca e africano Adama Keita, que passou para fazer uma visita durante a gravação e acabou somando com cantorias tradicionais de seu povo. “De forma artesanal, a captação das músicas foram feitas no quintal de casa, no meio de um espaço de convivência, e resultou em um trabalho bem bacana que segue em um movimento de educar as pessoas musicalmente. Não há porque um preciosismo, a música não precisa ser de alguma forma específica para comprovar qualidade”, pontua Guitinho.

Na capa de Macumbadaboa, homens primitivos seguram instrumentos modernos e ancestrais, simbolizando os arranjos ousados do Grupo. De acordo com o líder Guitinho, o disco tem um viés político por trazer inspirações e revelações importantes sobre o momento atual. “Por sair de Xambá, uma comunidade de forte atuação em políticas de resistência, em um momento de corte de verbas, o álbum mostra que sabemos os caminhos para a coexistir paralelamente a todos esses retrocessos”, explica.
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