Diario de Pernambuco
Busca

Música

Nação Zumbi apresenta repertório de Rádio S.Amb.A. nos 7 anos do Baile Perfumado

Publicado em: 07/09/2019 10:55 | Atualizado em: 16/10/2020 23:20

Dengue, Lúcio Maia, Toca Ogan e Jorge du Peixe (Foto: Fábio Braga/Divulgação)
Dengue, Lúcio Maia, Toca Ogan e Jorge du Peixe (Foto: Fábio Braga/Divulgação)

O lançamento do álbum Rádio S.Amb.A. (sigla para Serviço Ambulante de Afrociberdelia), no ano 2000, foi uma espécie de prova de fogo para a Nação Zumbi. Três anos haviam passado desde a morte de Chico Science, falecido em um acidente de automóvel no caminho de Recife para Olinda. Foi tempo suficiente para o luto do grupo, dos fãs e até mesmo daqueles que não foram impactados tão diretamente pelo movimento manguebeat - do qual a banda foi um importante alicerce. Era o início de um novo milênio, a indústria fonográfica passaria por uma revolução e o grupo precisava se reinventar, seguir sendo interessante.

Nas vésperas dos 20 anos do álbum, a Nação Zumbi revisita seu repertório em show neste sábado, a partir das 21h. Será o aniversário de sete anos do Baile Perfumado, localizado no Prado, Zona Oeste do Recife. Na ocasião, o experimentalismo do mangue da Região Metropolitana divide palco com a mística do Sertão: será o encontro com o Cordel do Fogo Encantado, outro nome importante para a música pernambucana contemporânea e que segue com a turnê do álbum Viagem ao coração do sol (2018). A banda de surf music The Raulis e a DJ Milena Cinismo completam a programação. 

Antes de os shows começarem, será exibido o documentário Rádio S.Amb.A. DOC, dirigido por André Almeida. O projeto estreou dentro da programação do festival In-Edit, em São Paulo, e tem a proposta de mostrar imagens de arquivos das gravações, com lugares, pessoas e paisagens que fizeram parte da idealização do disco. Em entrevistas, DJ Nuts, a jornalista Lorena Calábria, Maurício Tagliari e Cacá Lima (ambos da gravadora YB), Fred 04, entre outros. Neste ano, Rádio S.Amb.A também foi relançado em LP pelo selo Marafo Records.

“Foi muito complicado idealizar o Rádio S.Amb.A., pois era difícil retomar as coisas”, resume Jorge du Peixe, percussionista da banda nos tempos de Chico e que teve o desafio de assumir os vocais do grupo depois. Na época, Marcos Matias - que já estava presente nos shows desde 1998 e participado do clipe Malungo - substituiu Jorge na alfaia. Já Gustavo da Lua ocupou a vaga de Gira, falecido em 2017. “Meus sogros nos emprestaram um casarão antigo na Rua da União, que acabou servindo de laboratório para tudo. Passamos a andar com aspróprias pernas e tivemos de olhar para um novo horizonte sonoro”, relembra Jorge.

O casarão da Rua da Guia se transformou em um lugar de “hibernação criativa”. Os rapazes recebiam convidados que, vez ou outra, adicionavam novos contornos estéticos importantes ao projeto. O músico Rodrigo Brandão, que já fez diversos projetos com o guitarrista Lúcio Maia, conheceu o produtor estadunidense Afrika Bambaataa, pioneiro do hip hop - e uma notável influência nos dois primeiros discos da banda. Rodrigo conseguiu fazer com que ele gravasse uma participação no disco à distância. “Pegamos aquela gravação dele e colocamos uma pequena levada por baixo, colocamos na faixa Zumbi x Zulu e ficou parecendo um lance super produzido”, relembra Dengue. Outra participação internacional foi Tortoise, banda estadunidense de rock instrumental que colaborou em Lo-fi dream.

Um suprassumo que surgiu dessa troca com personas externas do casarão foi Quando a maré encher, resgatada de uma demo da conterrânea banda Eddie. A canção foi repaginada por Jorge du Peixe, Lúcio Maia e Dengue, ganhando o tom “atômico” pela qual ficou famosa - também ganhou novos públicos na voz de Cássia Eller. Rádio S.Amb.A. deu continuidade ao que Chico vinha fazendo, tanto que carrega uma sonoridade mais próxima dos primeiros álbuns, diferente dos trabalhos que vieram depois, que se aproximaram mais do pop e da MPB.

De acordo com os integrantes, o segredo e diferencial do álbum foi um processo de produção mais lento, paciente, sem cobranças de grandes gravadoras. Eles tinham vindo da Sony Music, com todo aparato de uma grande selo. Rádio S.Amb.A. acabou sendo lançado pela YB Music, gravadora paulistana independente que, na época, ainda começava a dar os primeiros passos na intenção de projetar uma nova geração da música brasileira.

"É legal rever esse disco quase 20 anos depois, porque existem músicas que já não levamos mais para o palco por diversos motivos, e agora é interessante trazê-las de volta, próximas dos arranjos originais”, diz Jorge. “Conseguimos rodar muito pouco com a turnê desse álbum, o grande público já não nos conhecia mais após o hiato. Mas ele teve seu lugar, é bom ver as pessoas querendo ver esse show”, completa Dengue. Com o “combo” documentário, relançamento do LP e show, a Nação Zumbi se sintoniza no passado para entender mais da atualidade. Foi ali que a alfaia voltou a soar, propagando a sempre necessária reinvenção.

O Baile
Antes de 2012, quando foi comprada pelo produtor Felipe Cabral, a casa de shows Baile Perfumado teve vários nomes: Casa de Zé Nabo, Cavalo Dourado, entre outros, sempre voltado ao público do forró. A atual gestão já realizou shows de Elza Soares (o mais importante para Cabral), Alceu Valença, Titãs e os internacionais Franz Ferdinand e Azealia Banks, além de sediar festivais como o Abril Pro Rock. Tem capacidade para 3,5 mil pessoas. Em 2018, passou por uma reforma. Para contemplar a época de crise, inaugurou um espaço menor chamado de Bailito, ideal para festa com até 300 pessoas.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL