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Madonna faz show politizado e sem celulares em Nova York

Publicado em: 22/09/2019 21:20

Não parece coincidência Madonna escolher Nova York como pontapé inicial de Madame X, sua 11ª turnê, homônima ao seu mais recente álbum, lançado em junho. A capital das superproduções da Broadway recebeu um espetáculo à sua altura. A cantora trocou as habituais arenas pela Brooklyn Academy of Music's Howard Gilman Opera House, localizada em um dos pontos mais descolados da cidade. 

No sábado (21), a reportagem acompanhou a terceira das 16 apresentações em Nova York. O público –2.100 pessoas que pagaram até US$ 2.000– estava ansioso. Madonna entregou alguns hits, mas estava mais focada em seu novo e experimental repertório. Dividida em quatro atos, a encenação começou às 23h20, quase duas horas depois do horário marcado –e terminou duas horas e 20 minutos depois. Um locutor justifica o atraso: dois bailarinos se machucaram em um ensaio. 

"A arte está aqui para provar que a segurança é uma ilusão. Artistas estão aqui para perturbar a paz". A mensagem do escritor James Baldwin (1924-1987) era projetada, antes de "God Control". Na sequência, policiais agiam violentamente em uma discoteca com manifestantes/dançarinos. 

O cenário da turnê é simples –escadas articuladas com rodinhas, recortadas por portais, que formam diversas figuras labirínticas–, mas sofisticado, criando infinitas possibilidades com projeções. 

Aos 61 anos, Madonna está se doando e não aceita menos. Reclama da baixa energia do público, que demora para entrar no clima. Foi a hora dos primeiros hits: "Human Nature" e "Express Yourself", em versão a cappella –acompanhada pelas filhas Mercy James e as gêmeas Estere e Stella. 

Em "Vogue", ela e seus bailarinos têm a mesma caracterização. Madame X busca disfarce, atualiza "Papa Don't Preach": cabe a mulher escolher ter ou não um bebê em caso de gravidez. Relembra que homens querem banir em nove estados americanos a possibilidade de interrupção da gravidez em caso de estupro.

A popstar fez uma selfie com uma polaroide. Juan, de Madri, e Marcy, de El Paso, disputaram a relíquia. Por U 1.500, o enfermeiro levou a melhor. "Esse é o único dinheiro que estou fazendo na turnê. Meu empresário diz que sou louca", brincou, enquanto guardava a quantia. "Não faço o show por dinheiro, mas por liberdade", disse, para deleite da plateia.

A cantora obrigou seus fãs a lacrarem celulares e aparelhos eletrônicos na entrada do teatro. "Sem celular, podermos nos olhar nos olhos. Os olhos são a janela da alma", disse. 
Ao mesmo tempo em que criticava os Estados Unidos e o culto à arma, Madonna parecia abrir uma concessão a Portugal, seu novo lar, onde virou "mãe de jogador de futebol". Ao lado da Orquestra Batukadeiras, composta por 14 mulheres cabo-verdianas, apresentou a vigorosa "Batuka". 

A cantora também mostrou-se vulnerável ao falar de depressão e solidão. Disse que encontrou no fado uma nova inspiração. O público aproveitou esse momento do show como um intervalo informal, enquanto ela recebia Gaspar Varela, neto da cantora Celeste Rodrigues, para um trecho de "Killers Who Are Partying". 

No último ato, Madame X buscou uma conexão mais profunda. Apresentou uma releitura de "Frozen", do álbum "Ray of Light". A interpretação crua ficou poderosa com o "pas de deux" digital com Lourdes Maria, sua filha mais velha, em coreografia projetada na mãe. A despretensiosa e dançante "Future", questionava o futuro da humanidade e mostrava florestas em chamas.

"Like a Prayer" foi a receita infalível para chegar ao clímax. O bis veio com a militante "I Rise". De braço estendido para cima, Madonna saiu de cena, deixando para trás uma mensagem de igualdade, com uma bandeira do arco-íris projetada no palco. Pelo menos por uma noite, a humanidade presente no teatro se sentiu salva.
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