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Artistas pernambucanas apresentam musical no Recife sobre violência de gênero
Por: Juliana Aguiar
Publicado em: 12/09/2019 08:16
Com uma ousada travessia entre a música eletrônica e os sons mais clássicos do violino, a obra percorre do maracatu até o brega-funk, com performances, cantorias em grupo, solos, duetos e quartetos e declamação de poemas. Com produção majoritariamente feminina, a peça tem direção musical de Paula Bujes, direção artística de Lilli Rocha e iluminação de Natalie Revorêdo. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15.
A dita curva nasceu do encontro de diferentes corpos e vozes femininas, atravessado por música, poesia e dança. “No ano passado, fui convidada para participar do 24º Janeiro de Grandes Espetáculos. Aceitei de pronto, mas pedi que pudesse ampliar o elenco da peça e fui atendida. Então, saí reunindo artistas pernambucanas que eu já admirava e possuía uma relação orgânica de participação em shows e músicas. Construímos uma relação muito bonita de escuta, afeto e troca”, conta Flaira Ferro, idealizadora do espetáculo.
A montagem é fruto de uma criação coletiva pensada pelas artistas e costurado pelo repertório individual de cada uma. "Queríamos dar um nome ao espetáculo que não fosse tão óbvio e, ao mesmo tempo, deixasse a imaginação das pessoas fluírem. Em cena, a curva não é pejorativa. É questionadora", afirma Flaira. O título, pensado em conjunto pelas dez artistas, permeia a expressão "dita cuja", usada popularmente para se referir ao órgão sexual feminino, e revela bastante sobre o enredo da peça.
"A sociedade entende a mulher como um corpo objetificado que existe para ser possuído por um homem. Tem muito a ver com as curvas, as silhuetas e o padrão estético. Curva é movimento, mudança de caminho, transformação", afirma a poeta Luna Vitrolina. "Quando uma mulher se move, ela move o mundo. E a gente transita", diz Luna, citando alguns versos de seu poema Vento. De acordo com a poeta, a peça é a comunicadora da construção histórica da mulher, revelando o gênero em suas várias camadas, e trazendo para discussão as temáticas do feminicídio, padrões estéticos, a ncest ra lidade, agressões físicas e verbais, maternidade, negritude e sexualidade.
"Através do processo de individualidade de cada uma, a gente constrói uma rede de apoio, de cura e terapia destinado a todas as mulheres", afirma Luna. "A dita curva faz cair por terra a ideia de que mulheres se odeiam, sem que a gente precise falar diretamente sobre isso. No palco, falamos sem mediadores ou intérpretes, sobre quem somos, o que sentimos e como queremos desfrutar as nossas vidas. Independente de partido, o espetáculo é político, poético e urgente, destinado a uma sociedade patriarcal que mata, oprime e silencia nossa existência”, pontua Flaira.
"O país está atravessando um momento muito difícil de compreender. Não dá pra entender o que está acontecendo com esses cortes, vetos e censuras. O que sinto é que precisamos, mais do que nunca, continuar fazendo arte e mobilizar nossa capacidade criativa." Em sua segunda apresentação no Recife, o espetáculo ganha mais tempo de duração, além de novas músicas e figurinos. Em seguida, A dita curva segue para João Pessoa, São Paulo e Rio de Janeiro. A expectativa é que retorne à capital pernambucana em outubro, na Caixa Cultural, no Bairro do Recife.
SERVIÇO
Espetáculo A dita curva
Quando: nesta quinta, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, 233, Santo Antônio)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
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