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'Poderíamos sim representar o Brasil no Oscar', diz KMF na coletiva de Bacurau no Recife

Publicado em: 24/08/2019 15:24 | Atualizado em: 24/08/2019 18:02

Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho e Sônia Braga. Foto: Leandro Santana/DP
"Acho que a gente poderia sim representar o Brasil. Assim como Aquarius também poderia", disse Kleber Mendonça Filho quando questionado sobre a possibilidade do governo brasileiro selecionar Bacurau para concorrer ao Oscar 2020. A afirmação foi feita durante a coletiva de imprensa realizada na manhã deste sábado (24), em um hotel na Zona Sul do Recife. Além do cineasta, marcaram presença nomes como Juliano Dornelles, que também dirige o filme, e parte considerável do elenco: Sônia Braga, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Rubens Santos, Clebia Sousa, Jr Black, Marcio Fecher e outros 12 atores.

"Bacurau é o único filme brasileiro desse ano no Festival de Cinema de Nova Iorque, que é um termômetro para o Oscar naquela área dos EUA", continuou Mendonça. "Bacurau é o filme brasileiro que carrega maior prestígio internacional e local para representar o Brasil", complementou Juliano Dornelles. "Quem escolhe o indicado do Brasil para a avaliação do Oscar é uma comissão. E essa repercussão deveria ser o critério principal. Mas a comissão é totalmente autônoma", finalizou.

Confira as principais temáticas abordadas na coletiva:

GOVERNO FEDERAL
A produtora Emilie Lesclaux e os atores Val Júnior e Jamila Facury. Foto: Leandro Santana/DP
"Não tivemos nenhuma manifestação do governo federal, nenhum contato. Inclusive, demorou bastante para que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) parabenizasse todos os filmes da lista de pré-selecionados para representar o Brasil no Oscar. Eles soltaram apenas uma nota", disse Emilie Lesclaux, que assinou a produção do longa-metragem ao lado de Saïd Ben Saïd et Michel Merkt. "Alguns deputados propuseram aplausos no Congresso, mas a ideia não foi aceita", complementou a produtora, que é esposa de Kleber.

"O filme foi feito com dinheiro público e o governo tem todo direito de ver, mas até agora não soubemos de nenhuma reação do governo federal, seja positiva ou negativa", admitiu Mendoça. "O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o Secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto, nos receberam no Palácio do Campo das Princesas logo após a divulgação da seleção para Cannes. Foi uma conversa tranquila sem artificialismo".

ATUALIDADE DO LONGA-METRAGEM
Bacurau é ambientado em uma cidade fictícia no Oeste de Pernambuco. Uma série de eventos estranhos que ocorrem no vilarejo, levando seus habitantes a se unirem para enfrentar para uma forte ameaça externa. O longa é categorizado como um "western" com componentes de realismo mágico e de ficção científica. Mesmo assim, surpreende por seu diálogo com a atualidade.

Foto: Leandro Santana/DP
"Além de ser uma ação no Nordeste, é um filme sobre história", diz Juliano. "O Brasil repete os mesmos erros, feito alguém com amnésia. E a gente está fazendo um filme que é aberto a trabalhar ideias absurdas, e mesmo assim conversou com a atualidade. Hoje em dia tem gente acreditando que a terra é plana e indo para congressos. O mundo está meio pirado".

Kleber Mendonça ressaltou que Aquarius (2016), que acompanhava a saga de uma mulher que se recusava a abandonar um prédio, também teve essa característica de “zeitgeist”: "O filme estreou no dia 1 de setembro e Dilma Roussef saiu do Planalto no dia 30 do mesmo mês".

CINEMA DE GÊNERO E CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS
Por misturar faroeste, ficção científica e suspense, Bacurau chamou atenção por exaltar o "cinema de gênero". "Quando eu recebi o roteiro do Kleber, ainda não tinha sido convidada para fazer a personagens", disse Sônia Braga. "E eu disse: 'não estou entendendo nada do que você está falando'. Quando li, eu vi o disco voador, eu vi a cena trágica das crianças. É tudo muito visual".

Sônia Braga. Foto: Leandro Santana/DP

"Tentamos calibrar linguagens americanas, brasileiras, e depois se tornou uma experiência incrível porque o que eu falava com os diretores encaixava muito bem. Existia um diálogo muito interessante", disse Eduardo Serrano, responsável pela montagem do filme. "é um filme que amei fazer, apesar de ser violento nos divertimos muito. Não tínhamos que nos encaixar numa caixinha".

Os atores afirmaram que, apesar do tom excêntrico do longa, todos os personagens foram construídos pensando nas figuras do Sertão. "A plateia gosta de assistir filmes com quem se identifica. Você que estar onde você se vê e o filme é democrático. Não apenas no elenco, mas no sentido como ele foi feito", diz Sônia Braga.

Os personagens mais "mágicos" seriam Michael, interpretado pelo alemão Udo Kier, e Lunga, um forasteiro criminoso interpretado por Silvério Pessoa (que não pode comparecer na coletiva). "Ele surgiu como um herói, alguém muito forte e que é visto como malfeitor pelo governo. A gente conheceu Silvério e quis que ele fizesse do jeito dele", diz Kleber. "Lunga foi alguém forjado pela violência, mas é uma espécie de justiceiro. Ficamos muito felizes com o sucesso que está sendo esse personagem", complementou Juliano.

Toda a mesa concordou com uma afirmação feita por Eduardo Serrano: "O protagonista é a cidade".

CINEMA PERNAMBUCANO
Uma das últimas falas de Kleber Mendonça Filho foi sobre o cinema do estado. "Sou muito orgulhoso de fazer parte da comunidade que se convencionou chamar de cinema pernambucano. Eu venho fazendo meus filmes, mas temos outros 25 nomes muito interessantes. É  a cultura do país. Há uma tendência do Funcultura ter continuidade. Eu espero que a gente continue produzindo, mas estamos em um território desconhecido. Há pouco temos observamos um desrespeito pelo papel do artista no país. Temos que ver o que vai acontecer porque isso não é democrático, não é normal".

Bacurau estreia nos cinemas brasileiros em 29 de agosto. Sessões de pré-estreia estão sendo realizadas desde o dia 17. Neste sábado (24), todos os que participaram da coletiva estarão presentes na pré-estreia do Cinema São Luiz, às 19h30. Os ingressos esgotaram em poucas horas.

Assista ao trailer:


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