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Livro elenca praças de Burle Marx, paisagista que embelezou o Recife

Publicado: 27/08/2019 às 14:32

Praça de Casa Forte, o primeiro projeto paisagístico de Burle Marx no Recife. Foto: Sérgio Lôbo/Divulgação/

Praça de Casa Forte, o primeiro projeto paisagístico de Burle Marx no Recife. Foto: Sérgio Lôbo/Divulgação/

"No final dos anos 1960, Ronnie Von gravou uma música que falava assim: 'A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, os mesmos jardins'… Toda vez que eu vinha aqui e essa música tocava no rádio, eu tomava todas". O relato do operador de máquinas Genilson Fabiano versa sobre a sua relação com a Praça de Casa Forte, um dos primeiros jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx, em 1935.

O depoimento está presente no livro Burle Marx e o Recife: Um passeio pelos jardins da cidade, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). A publicação celebra os 110 anos de nascimento do jardineiro da América, como ficou conhecido, e será lançada hoje, às 19h, no restaurante O Pátio Café & Cozinha (Av. Rui Barbosa, 141, Graças). Às 20h, a Orquestra Vitória-Régia se apresenta sob a regência do maestro Parrô Mello.

Praça do Arsenal. Foto: Sérgio Lôbo/Divulgação
Ao chegar na Praça de Casa Forte, o paisagista propôs a criação de um espaço amplo com águas, uma sugestão inusitada inspirada num Jardim Botânico inglês. Do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cidade onde passou sua infância, Burle Marx trouxe a vitória-régia, que se tornou marca do espaço em Casa Forte. As informações foram sistematizadas no livro pelo servidor público e músico Maurício Cavalcanti, em seu estudo sobre praças e parques recifenses, e conta com textos de Ana Rita Sá Carneiro, Joelmir Marques da Silva, Lúcia Maria de S. C. Veras e Onilda Gomes Bezerra e fotos de Sérgio Lôbo.

A obra reúne datas dos 15 projetos paisagísticos de Burle Marx no Recife que ganharam o título de Jardins Histórios, além dos endereços, histórias, curiosidades e depoimentos de frequentadores. "Burle Marx já é bastante estudado nas universidades por arquitetos e urbanistas, mas eu sentia falta de algo que tocasse a população. Queria mostrar como esses espaços têm importância para a construção de um sentimento coletivo de local, convivência, lazer e descanso. Então optei por reunir muitas imagens e pouco texto, organizando as informações por importância histórica, relevância para a comunidade e estado de conservação", explica Maurício.

Os sertões da Praça Euclides da Cunha. Foto: Sérgio Lôbo/Divulgação
Estão presentes na publicação, organizadas em capítulos, as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha, Derby, Várzea, Arsenal, Chora Menino, Largo da Paz, Maciel Pinheiro, República, Jardim do P a l á c i o d a s Princesas, Entroncamento, Largo das Cinco Pontas, Dezessete e Jardim da Capela da Jaqueira e Ministro Salgado Filho. "Queria estimular as pessoas a se apropriar e cuidar do local público. Muitos recifenses viajam para o exterior e voltam admirados pela beleza paisagística, e aqui a gente nem percebe o que está ao nosso redor. Dificilmente a gente tem essa relação com nossas praças e parques ”, completa.

Com mãe recifense e pai alemão, Burle Marx teve a capital pernambucana como escola e se dividiu entre a cidade, o Rio de Janeiro e a Alemanha, sempre buscando uma harmonia entre os bancos serpenteados, as fontes, a vegetação e a flora de cada local. A importância do Recife foi revelada em discurso proferido pelo paisagista no Seminário de Tropicologia, realizado pela Fundação Joaquim Nabuco, em 1985:

"Minha experiência no Recife foi fundamental para o rumo que, posteriormente, tomou minha atividade profissional. Hoje, depois de 50 anos, sinto que essas experiências foram válidas e determinaram minha maneira de construir jardins. Sobretudo elas ensinaram-me o valor de observar, de ver. Não tenho dúvidas que em Pernambuco começou tudo". 
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