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Performance sobre estruturas de poder ganha encenação no Recife

Publicado em: 30/07/2019 11:22 | Atualizado em: 30/07/2019 12:12

A performance funciona em cima de improvisos e responde aos estímulos do público no espaço. Foto: Rhaiza Oliveira
Canalizando todo o potencial questionador da arte, a performance Por onde andam os porcos trata de uma investigação sobre os seres humanos como criaturas políticas, integrantes de sistemas e estruturas de poder. A temporada do espetáculo, que conta a direção-geral de Kildery Iara, ocupa a Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, nesse terça-feira (30) até o sábado (03), com exceção da quinta-feira (01), sempre às 19h30.
 
A arte moderna e contemporânea tem, por anos, se debruçado sobre as possíveis quebras de linguagem, dentro de uma sociedade capitalista, em meio à velocidade da globalização e da internet. Por onde andam os porcos se insere nesse contexto, sendo encenada no Dona Lindu, de características modernas, projetado por Oscar Niemeyer. Com a iluminação e atmosfera brancas, as paredes chapadas são telas limpas para os artistas colorirem com suas subjetividades. 
 
Em entrevista ao Viver, a diretora do espetáculo explica que a obra tem como reflexão a ideia de que todos nós participamos do sistema. “Tem a ver com essa imagem do porco capitalista, mas que a gente tenta trazer a responsabilidade para o coletivo. Porque a imagem do porco capitalista coloca a noção do sistema como se fosse uma mão de marionete, que ninguém sabe o que é, mas que controla todo mundo”, explica. “A gente tenta trazer a noção que a gente é o sistema. A gente veste a máscara do porco junto, a gente puxa o gatilho junto, escolhe se abster de algumas situações. Sustentamos essas estruturas de mundo.”
 
A performance funciona em cima de improvisos e responde aos estímulos do público no espaço. A obra experimenta em sua linguagem, flertando com a dramaturgia de uma exposição. Quem assiste pode caminhar, sair e voltar, conversar com as pessoas, e os artistas vão modificando suas interações entre si e com o espaço, a partir também do que o público propõe. Algo que, segundo a diretora, foge um pouco da lógica do espetáculo teatral e se relaciona com a linguagem das galerias e museus. 
 
Uma das inspirações para o projeto foi o livro 24/7 - Capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary. A ideia de que até o repouso humano segue uma ordem de acordo com prioridades econômicas, e que um certo ostracismo humano são evidenciados no sistema capitalista são alguns dos tensionamentos importados pela coreógrafa pernambucana. Para Kildery, o tema ativa um imaginário de fim de mundo: “Essa sensação já rolou em outras épocas com outros povos. Não é porque a gente tá sentindo isso agora que é especial.” Na medida em que vivemos a precarização do meio ambiente e da qualidade de vida humana, essa ideia coletiva de um fim de mundo, parece retornar de forma latente em nossos temores. E, é claro, em nossa arte.
 
SERVIÇO 
Onde: Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem
Quando: Terça-feira (30), quarta-feira (31), sexta-feira (02) e sábado (03), sempre às 19h30
Quanto: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
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