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Novo Homem-Aranha é alívio cômico e juvenil sem abandonar perspicácia

Publicado em: 03/07/2019 09:58 | Atualizado em: 03/07/2019 14:47

Herói com Mary Jane, interpretada por Zendaia. Foto: Sony Pictures/Divulgação
Um dos personagens mais famosos dos quadrinhos retorna aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (4), com a estreia de Homem-Aranha: Longe de casa. O 23º longa-metragem do Universo Cinematográfico Marvel, franquia de filmes iniciada em 2008, é ambientado logo após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato, fenômeno de bilheteria rodeado por um clima de tensão pelas incertezas e tragédias. Diante disso, o lançamento protagonizado pelo Peter Parker de Tom Holland é um necessário alívio cômico e juvenil ao universo, sem deixar de trazer algumas reflexões interessantes sobre maturidade e certas fragilidades da sociedade contemporânea.

Quem assina a direção é Jon Watts, que também ficou responsável por Homem-Aranha: De volta ao lar, filme que apresentou o atual “cabeça de teia” em 2017. Naquele contexto, Peter Parker aparecia como um apadrinhado do bilionário Tom Stark, o Homem de Ferro, que morreu em Vingadores: Ultimato. Agora, o adolescente nova- -iorquino parte para uma excursão para a Europa com colegas do ensino médio, embora ainda carregue uma sensação de luto pelos acontecimentos recentes. Em meio às vivências típicas da adolescência, com destaque pelo desejo de conquistar Mary Jane Watson (interpretada por Zendaya, referência para a juventude millennial nos EUA), o dever de super-herói o chama.

Quando os jovens estão visitando Veneza, na Itália, emerge uma criatura formada pelas águas que entrecortam a cidade. Nos dias seguintes, outras figuras semelhantes (chamadas de Elementais) pretendem atacar outras cidades importantes do continente, como Praga e Londres. Peter é convocado por Nick Fury, líder da agência secreta de espionagem americana da S.H.I.E.L.D, para resolver o problema ao lado de Mysterio (interpretado pelo veterano Jake Gyllenhaal), que aparece como possível novo integrante dos Vingadores - embora os conhecedores da obra de Stan Lee saibam que se trata de um dos vilões históricos de Aranha.

Peter Park conhecendo Mysterio, vilão histórico dos quadrinhos. Foto: Sony Pictures/Divulgação
Dividido entre as possibilidades da viagem e os deveres de herói, Peter não consegue superar esse novo personagem. Pelo contrário, comete erros sucessivos até que a narrativa apresente uma reviravolta, mudando o fôlego do longa- -metragem. Os poderes especiais do vilão, que consegue projetar cenários e pessoas irreais, são bem trabalhados e causam vertigens tanto no herói quanto no espectador.

Fazendo jus ao tom de jovialidade, o filme também é recheado de tiradas cômicas, principalmente nas falas de Ned Leeds (Jacob Batalon) e Angourie Rice (Betty Brant), amigos do protagonista que iniciam um romance relâmpago durante a viagem pela Europa. O ator Tom Holland continua com uma boa desenvoltura, dando vida a um Peter Parker carismático, atrapalhado e até mesmo galante - bem diferente do nerd com ares melancólicos de Tobey Maguire na trilogia dos anos 2000.

Contudo, dentro dessa jovialidade colegial, existe uma característica do Homem Aranha de Maguire que falta em Holland: o “peso” de ser um super-herói, preocupando em construir uma identidade - como diz a frase mais emblemática e profunda da saga do nova-iorquino: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Nesse filme, Peter Parker sempre se questiona se está orgulhando o legado do Homem de Ferro, mostrando sua fragilidade enquanto adolescente. Embora Tony Stark já tenha morrido, sua sombra permeia todo o Longe de casa. O que pode parecer um erro - no que diz respeito à construção do personagem - pode também ser um dos aspectos mais interessantes do longa. Afinal, Peter é um adolescente aprendendo a lidar com seus próprios sentimentos e com um mundo que pode ser implacável.Super-herói convive em meio às vivências da juventude

Foto: Sony Pictures/Divulgação
Outra característica que vale reflexão é que as intenções que movem Mysterio revelam máculas do próprio Ocidente na atualidade. Como um gênio bilionário cercado pela mídia saiu de cena, um “vácuo” de poder se abre, fazendo com que aproveitadores apareçam com fabulações da realidade para ocupar seu posto. Uma das falas ditas na reta final no filme, inclusive, conversa com essa contemporaneidade das fake news: “Quando as pessoas precisam de um líder, elas acreditam em qualquer coisa”. 

Com cenas de ação empolgantes, tiradas cômicas suaves e cenas pós-crédito reveladoras até mesmo para o histórico do Universo Cinematográfico Marvel, Homem-Aranha: Longe de casa cumpre sua função enquanto entretenimento tanto para as crianças que estão de férias quanto para os exigentes fãs dessa franquia bilionária. Assim como a surpreendente animação Homem-Aranha no Aranhaverso (vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2019), o filme segue respeitando o legado de um dos heróis mais - merecidamente - amados do mundo.

Assista ao trailer:

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