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Espaço cultural

Praça do Derby ganha casarão cultural com galeria, café, loja e escola de artes

Após anos como ponto comercial, a casa de número 109 será reduto criativo de artes plásticas e gráficas

Publicado em: 15/05/2019 10:41 | Atualizado em: 17/07/2020 23:37

Casa do Derby é formada por Galeria Quadrado, Qubo Escola, Qubo Loja e Café Cartum (Foto: Társio Alves/Divulgação)
Casa do Derby é formada por Galeria Quadrado, Qubo Escola, Qubo Loja e Café Cartum (Foto: Társio Alves/Divulgação)


A casa de número 109 da Praça do Derby abrigou boa parte da infância do administrador Eduardo Henriques, quando a área ainda tinha um caráter residencial e sereno. Sua família saiu de lá na década de 1980 e o espaço foi alugado para empreendimentos. A partir daí, o prédio de traços arquitetônicos ecléticos, típicos década de 1930, acompanhou as transformações do bairro: foi bar, restaurante, loja, escritório e clínica médica. Em 2016, Henriques interrompeu a fase de aluguéis e decidiu restaurar o ambiente, resgatando suas características originais com o objetivo de idealizar um “conjunto criativo” onde artes plásticas e gráficas são protagonistas.

A Casa do Derby será inaugurada nesta quinta-feira (16), a partir das 19h, com a mostra I Quadrado Internacional de Gravura, feita em homenagem a Hélio Soares, representante da litografia brasileira. A exposição será realizada na Galeria Quadrado, um dos quatro espaços que compõem a casa. A Qubo Escola, área formativa de pintura e desenho, a Qubo Loja, com venda de obras originais, objetos de design e materiais de desenho artístico, e o Café Cartum, espaço para bate-papos e eventos, completam o conjunto do projeto. O horário de visitação será de segunda a sábado, das 14h às 20h, com ampliação de acordo com a agenda.

Eduardo Henriques idealizou a casa ao lado de mais quatro cabeças da cena cultural e intelectual recifense: os cartunistas Samuca e Ronaldo, a historiadora Tarsila Myrtle e o marchand Roberto Nóbrega. “Começamos a reforma há três anos e estamos inaugurando agora porque queríamos fazer com calma. Fomos desenvolvendo ideias e agora estamos dando vida a uma galeria com uma pegada mais informal, a exemplo dessa mostra da inauguração. Queremos dar visibilidade a outras linguagens como gravuras, mas sem abandonar os clássicos, como Lula Cardoso Ayres e Cícero Dias. É para dar suporte ao mercado de arte que está meio parado aqui no Recife”, explica.

Samuca, Tarsila, Eduardo e Ronaldo na Galeria Quadrado (Foto: Társio Alves/Divulgação)
Samuca, Tarsila, Eduardo e Ronaldo na Galeria Quadrado (Foto: Társio Alves/Divulgação)


O que Eduardo se refere como “informal”, Samuca - que foi cartunista do Diario de Pernambuco por 14 anos - chama de “amplo”. “São gêneros que geralmente não têm tanto espaço. Sou organizador do Salão Internacional de Humor Gráfico e posso dizer que exposições para esse tipo de linguagem aqui são bem esporádicas. Queremos unir fotografia, artes gráficas e plásticas, com uma exposição a cada dois meses”, diz ele, que está à frente do Café Cartum, espaço que servirá como ambiente de descontração, rodeado de ilustrações do gênero. “Queremos trabalhar com pequenos produtores de café. Por enquanto, estamos em uma fase probatória, mas deve entrar em funcionamento como queremos dentro de um mês.”

A Qubo Escola também está em fase de finalização. A ideia é receber diversas oficinas e aulas que vão mudando com o tempo, ministradas por nomes como João Lin (Quadrinhos Nonsenses), Jarbas Jr. (Tirinhas), Beto França (Aquarela) e Bia Melo (Carimbo), além do próprio Samuca. "As matrículas começam em junho, estamos fazendo uma pesquisa de preferência de cursos e horários, embora já exista uma grade prévia".

PRIMEIRA MOSTRA
Gravura de Jorge Noguez


O I Quadrado Internacional de Gravura será uma homenagem ao mestre Hélio Soares, referência emblemática da litografia nacional, que divide espaço com gravuras de vários artistas mexicanos e nomes locais da arte contemporânea. A curadoria é de Rennat Said, um dos fundadores do Coletivo Ita-Quatiara, formado ao lado de José Rodrigues e do próprio Hélio. “Ele acompanha a área da litogravura há mais de 50 anos, quando a linguagem servia para criar rótulos de produtos. Depois que esse tipo de gráfica começou a falir, continuou nela e hoje é um mestre que sabe muito, com nome reverenciado em várias partes do mundo”, diz Rennat.

Também integra a exposição a Nova Grafika Mexicana, uma seleção de artistas contemporâneos da Cidade do México (Eduardo Robledo, Jorge Noguez, Maria Luiza Estrada e Kalako), de Oaxaca (Eric Pov e José Martinez), de Guanajuato (Jainite Silvestre e El Pinche Grabador) e de Zacatecas (Alberto Ordaz). “Pensei em um tipo de gravura que tivesse um mercado artístico e qualidade diferentes. Nesse sentido, o México tem uma exportação fantástica”, continua o curador. Para representar a autenticidade da gravura pernambucana, foram convidados nomes como Isac Vieira, Lailson de Holanda, Ronaldo Câmara e outros.

Gravura de Eduardo Robledo


Eduardo Henriques ainda ressalta o desejo de que a Casa do Derby seja, sobretudo, um espaço de convivência e experiências, como “um projeto eternamente em construção”. “O que vai acontecer a médio prazo está sendo construído nessas conversas que não envolvem somente as artes visuais. Queremos alcançar a literatura, por exemplo. Tudo é possível em função dessa conjunção. É uma casa política no sentido das pessoas poderem se encontrar lá até para simplesmente conversar".
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