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Pernambucano Lourival Holanda reúne ensaios sobre política, memória e psicanálise em livro

Membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) e diretor da Editora UFPE traz preocupações sobre como a sociedade está tratando a linguagem

Publicado em: 13/05/2019 10:31 | Atualizado em: 13/05/2019 15:42

Lourival Holanda, que nasceu em Bodocó, no Sertão de Araripe, cursou filosofia na França e concluiu doutorado na USP. Foto: Cepe/Divulgação
No Brasil atual, é possível identificar um movimento social e político que tenta deslegitimar conhecimentos que remetem ao indefinido. O discurso é que o saber necessário é o positivista, prático, objetivo e de “retorno imediato”, como se toda realidade coubesse em fórmulas e métodos. É nesse contexto que o professor Lourival Holanda, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) e diretor da Editora UFPE, titulou seu novo livro de Realidade inominada - Ensaios e aproximações. É uma metáfora para a própria literatura, que não pode ser conceituada, como o autor costuma afirmar. "A literatura é linguagem artística que ajuda a fabricar uma realidade além do conceito, que alarga o campo do possível".

A publicação da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) reúne 22 ensaios que refletem sobre política, sociedade, memória e psicanálise sob um viés literário, agregando toda a bagagem do intelectual e citando diversos escritores canônicos da história nacional. O lançamento será nesta segunda-feira (13), a partir das 19h, na sede da APL (Av. Rui Barbosa, 1596, Graças). A obra será vendida por R$ 30. Antes, às 17h, será realizada uma roda de conversa com jovens sobre literatura e cultura.

“Esse livro é resultado de preocupações que tenho tido nos últimos anos em como a sociedade está tratando a linguagem. Grandes polêmicas da atualidade acabariam se tivéssemos um entendimento mais profundo das palavras. Antes de qualquer debate, é preciso fazer uma limpeza. Narrativas do passado se tornam novamente possíveis, porque esses discursos muito ideológicos são providos de uma casca muito grossa que não permite esse processo de assepsia das palavras”, diz Holanda.

Os ensaios foram selecionados por Eduardo Cesar Maia, professor do Departamento de Letras da UFPE e editor da revista Estudos Universitários. “Lourival está há muitos anos na universidade e tem uma história muito bonita na instituição. É natural que ele tivesse muito material engavetado. As pessoas começaram a cobrar dele que houvesse essa divulgação fora de revistas acadêmicas, consumidas por um público específico. Assim, fui juntando esses textos feitos da década de 1990 para cá”, explica.

Foto: Cepe/Divulgação
Ao montar a obra, o editor traçou linhas temáticas: interpretação literária e cultural com ênfase em questões sobre memória (como nos ensaios O encoberto e o esquecido e O Instituto Histórico e a construção da memória), crítica social e política (presente em Socialismo utópico, anarquismo e tradição da poética libertária e Quando as Américas se reinventam). Também é possível encontrar textos que promovem um interessante diálogo entre psicanálise e literatura, além de reflexões de vários nomes canônicos, como Guimarães Rosa, Osman Lins, Álvaro Lins, Gilberto Freyre e Euclides da Cunha.

"Quando visito Os sertões, por exemplo, tento mostrar como Canudos representa nossas incompreensões em relação ao outro. Isso já está na história da nossa República. O que fazemos com os nossos racismos e recusas é como uma autoacusação. Vemos o outro de forma desproporcional, como se fosse algo maior do que nossa compreensão mental. Se ele é maior, eu o rejeito”, explica Holanda, que nasceu em Bodocó, no Sertão de Araripe, cursou filosofia na França e concluiu doutorado na USP. Sob o silêncio (1992), Fato e fábula (1999) e Álvaro Lins: Crítico literário e cultural (2008) são alguns outros destaques de sua obra.

Eduardo Souza Maia ainda ressalta outro aspecto que aparece com frequência em vários ensaios, permeando os textos e os conectando. “A ideia de que, por maior esforço intelectual que nós façamos para compreender determinadas realidades, sempre tem algo da existência individual que nos escapa. Sempre tem aquela coisa que não conseguimos descrever. Uma reflexão que volta a nos remeter ao título". 

E, apesar disso, a escrita de Lourival sempre é bastante objetiva para os menos habituados ao teor academista e sempre sofisticada. Um tipo de texto que estabelece uma comunicação real com quem lê. Algo necessário quando parte significativa da população desconhece o que se é produzido pelas pessoas que constroem a universidades.

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