MÚSICA

Ney Matogrosso fala sobre a turnê 'Bloco na rua'

Publicado em: 26/05/2019 13:20 | Atualizado em: 26/05/2019 13:36

Foto: Marcos Hermes/Divulgação.
Ney Matogrosso sempre foi ousado e transgressor. Em seus shows, porém, opta por não fazer discurso político, até porque deixa que isso seja passado pela letra das músicas que interpreta e por suas provocadoras coreografias. Tem sido assim desde o tempo em que integrava o grupo Secos & Molhados, nos anos 1970, em plena vigência da ditadura militar.

Depois de, por cinco anos, cumprir sua mais longa turnê, com o show Atento aos sinais, o cantor está de volta ao palco com Bloco na rua. O espetáculo que estreou há quatro meses no Rio de Janeiro já passou por São Paulo, Vitória, Salvador, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Neste domingo chega a Brasília —  cidade onde o cantor teve a iniciação musical, na década de 1960 —  para apresentação.

Aos 77 anos, mantendo forma física invejável, Ney, que nunca se repete, quis exibir em cena algo diferente do que mostrou no concerto anterior. Em vez de lançar músicas inéditas, decidiu reunir no repertório em sua maioria canções consagradas da obra de grandes nomes da MPB, para as quais foram criado snovos arranjos.

No set list bem diverso foram incluídas Como dois e dois (Caetano Veloso), Tua cantiga (Chico Buarque), Coração civil (Milton Nascimento e Fernando Brant), A maçã (Raul Seixas), Jardim da Babilônia (Rita Lee), Mais feliz (Cazuza e Bebel Gilberto), Pavão mysterioso (Ednardo) e, claro, Eu quero é botar meu bloco na rua, do compositor capixaba Sérgio Sampaio.

Não faltam sucessos do Secos & Molhados, como Mulher barriguda (Solano Trindade e João Ricardo) e Sangue latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça). Há, ainda, Ponta do lápis, parceria do cearense Rodger Rogério e do piauiense-brasiliense Clodo Ferreira, pinçada por Ney de um compacto duplo, que gravou com Raimundo Fagner, lançado em 1975.

O figurino, que sempre chama a atenção nos shows do cantor, desta vez tem a assinatura do estilista Lino Villaventura. Ao seu lado está a banda formada por Sacha Amback (teclado e direção musical), Marcos Suano e Felipe Roseno (percussão), o brasiliense Dunga (baixo), Maurício Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).

Entrevista / Ney Matogrosso

Atento aos sinais foi sua turnê mais longa?
Meus shows sempre ficam em cartaz por muito tempo. Mas com Atento aos sinais bati meu recorde de permanência na estrada. Durante cinco anos percorri todas as regiões do país. Houve lugares, como Brasília, em que estive três vezes. Fui ainda ao Uruguai e a Portugal, sempre cantando para grandes plateias e tendo acolhida carinhosa das pessoas.

Os discos que você tem lançado ultimamente trazem o registro em estúdio do repertório do show. Como é o processo?
Primeiro, eu faço uma série de apresentações. Depois de sentir que tenho completo domínio sobre as músicas do repertório, as levo para o estúdio e gravo. Tenho feito isso desde As aparências enganam, o show e o disco de 1993.

Quando começou a elaborar Bloco na rua, o novo espetáculo?
Na estrada com o show anterior, há dois anos, passei a pensar no que faria depois. Aí passei a pensar em algo diferente do que vinha fazendo. Idealizei uns 10 repertórios, nos quais deixei de fora músicas de sucesso gravadas por mim. Misturei canções consagradas de outros artistas, que me dariam prazer ao cantar, com outras que gravei, mas que não tiveram tanta repercussão. De todas as minhas listas, a única que nunca ficou de fora foi Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio. Dela veio o nome do show.

Qual foi o critério para a escolha das que já havia gravado?
São músicas que ainda não havia cantado em shows, como O beco (Herbert Vianna e Bi Ribeiro), Postal de amor (Fagner e Fausto Nilo) e Ponta do lápis (Clodo Ferreira e Rodger Rogério). Mas tem também Álcool (DJ Dolores), Já sei (Itamar Assumpção). Inominável, do compositor paulista Dan Nakagawa, é a única inédita do repertório.

O Secos & Molhados, do qual foi integrante, com certeza marcou sua carreira. Trazer de volta clássicos do grupo como Mulher barriguda e Sangue latino é uma forma de reverenciá-lo?
Não posso, de maneira alguma, deixar de atribuir importância ao Secos & Molhados em minha trajetória como cantor. Foi lá que tudo começou. Mas ao revisitar essas canções, sinto também a sensação de pertencimento.

Tem gente com fome, outra música do seu antigo grupo, que está no set list, tem conteúdo atemporal. Vê assim também?
Em meus shows não trato de política, mas há músicas, como essa, cuja letra fala mais do que qualquer discurso. Me impressiona a quantidade de brasileiros que padecem com fome, enquanto os governantes priorizam outras questões. E ainda atacam tudo o que é civilizatório.

Como está sua agenda de shows?
Desde a estreia, em janeiro, aqui no Rio, nunca mais parei. Sei que tem shows marcados para até o verão do próximo ano. Com o Bloco na rua vou voltar a Portugal, país que me recebe com imenso carinho desde a minha primeira apresentação ali, logo depois do fim da ditadura salazarista, quando voltaram a soprar ventos de liberdade para os lusitanos.

Aos 77 anos, como mantém essa forma física invejável e encara a maratona de apresentações?
Até os 40 anos, pesava 53kg. A partir dali, convivi com 63kg. Para conseguir isso, como pouco e faço ginástica diariamente, o que me permite ter os músculos bem trabalhados.

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