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'Moro saiu de herói nacional para salame fatiado', diz José Padilha, em coletiva de estreia de O Mecanismo 2

Publicado em: 07/05/2019 14:31 | Atualizado em: 07/05/2019 15:07

José Padilha, diretor da série O Mecanismo, também é conhecido pelos filmes Tropa de Elite. Foto: Netflix/Divulgação
Rio de Janeiro - "A gente estava conversando ali antes, vamos falar de política ou vamos falar sobre os personagens? Acho que a série tem esse hibridismo", comentou o ator Enrique Diaz, o doleiro Roberto Ibrahim (alusivo a Alberto Youssef) de O Mecanismo, produção da Netflix livremente inspirada em eventos reais da operação Lava-Jato. De fato, a política norteou as perguntas dos jornalistas e as respostas dos atores presentes na coletiva de imprensa da segunda temporada, realizada na manhã desta terça-feira, no Copacabana Palace, Rio de Janeiro. O Mecanismo 2 estará disponível no serviço de streaming a partir de sexta, com oito episódios. O diretor José Padilha, como esperado, foi quem pegou o microfone mais vezes. Muito para falar sobre Sérgio Moro, a quem criticou publicamente e duramente no último mês.

Padilha defende que o texto, publicado na Folha de S. Paulo em 16 de abril, não questionava a atuação do então juiz Sérgio Moro na Lava-Jato, mas sim na conduta do agora ministro da Justiça Moro. "Escrevi sobre a parte do pacote que lida com a polícia, argumentei que estimula a violência policial e facilita a milícia, que coincidentemente elegeu Flávio Bolsonaro. Escrevi sobre a tragédia pessoal de Sérgio Moro, que, se for inteligente, deve estar extremamente arrependido das escolhas que fez", declarou o diretor. "Bolsonaro não tem maioria no Congresso e está negociando de várias formas diferentes para tentar aprovar suas reformas, usando Moro como moeda de troca, 'olha, eu tiro caixa 2 do pacote e ganha um voto do Centrão'. Então, o Moro saiu de herói nacional pra salame fatiado e entregue em pedaços ao Centrão para serem aprovadas as reformas", completou.

A segunda temporada está melhor estruturada, na visão do elenco presente na coletiva: Selton Mello (Marco Ruffo na ficção / Gerson Machado na vida real), Carol Abras (Verena Cardoni / Erika Marena), Emílio Orciollo Netto (Ricardo Brecht / Marcelo Odebrecht) e Jonathan Haagensen (Vander / sem menção conhecida), além de Enrique Diaz. "Na temporada 2, muitas coisas se esclarecem. Ela apresenta o outro lado, muita gente vai poder ver um ponto de vista diferente", disse o intérprete de Ibrahim.

Na coletiva, Enrique Diaz manifestou logo de cara seu posicionamento. "Abaixo o desmonte na educação pública, fora milícias, fora milicianos, fora familícias. E Lula livre", declarou, antes de responder sobre as críticas feitas à primeira temporada da série, cuja estreia ocorreu em pleno ano eleitoral (2018) e, na visão de muitos, foi prejudicial à campanha de Fernando Haddad, por enfatizar a corrupção do PT - e outros mais, como associar a frase "estancar a sangria" a Lula, e não ao seu verdadeiro autor, o senador Romero Jucá. "A temporada 2 apresenta o outro lado, mas não tira a marca que a primeira temporada resolveu assumir, de corroborar com discurso anti-petista, num momento decisivo. Essa marca não sai. O anti-petismo teve função essencial que nos levou a uma cagada monstra", afirmou.

PERSONAGENS
Elenco da série O Mecanismo. Foto: Netflix/Divulgação
Para além de política, também se falou sobre os personagens na segunda temporada. Um dos destaques é Emílio Orciollo Netto, na pele de um empreiteiro de "temperamento explosivo contido", como definiu o intérprete de Ricardo Brecht, ou Marcelo Odebrecht. "É um personagem que qualquer ator gostaria de fazer, de múltiplas possibilidades. É um cara que lida com o poder de forma gananciosa, faz tudo pra conseguir o que ele quer, numa área de conduta ética perigosa. Todo ator gosta desses desafios, e Ricardo é um prato cheio", disse.

Selton Mello, mais contido nas palavras porque, segundo o próprio, sua "alma demora a encarnar de manhã", afirmou ser absurdo alguns atores serem atacados pelos papéis interpretados. "É patético e triste. Esse é o nosso trabalho, mostrar as dubiedades do ser humano. E a dubiedade está na série. Vivemos numa época de muitas 'verdades', onde todo mundo diz ter certeza, mas ninguém tem certeza de nada, e acho que a série mostra essas incertezas", afirmou.

Jonathan Haagensen falou do amadurecimento do agente Vander. "Ele começa muito ingênuo, com sede de justiça. Mas, quando se depara com o sistema perverso e genocida, percebe que tem que se posicionar e começa a viver esses dilemas de ética e moralidade", disse. "Ele entende que quem conduz a investigação sofre tanto quanto ele já vem sofrendo para chegar ali, como um negro na sociedade brasileira. Ele teve acesso a universidade e, chegar nesse lugar, já foi uma história."

Carol Abras avalia que sua personagem, a delegada Verena, está mais agressiva e obstinada na segunda temporada. "Ela sai do lugar da fragilidade, da doença, e coloca um propósito. Tem mais autonomia, faz as próprias escolhas", afirmou. "Há um poder feminino interessante, essa coisa imagética das mulheres ocupando esses espaços. Uma liderança sem se sexualizar."

Sinopse da temporada 2
Selton Mello afirmou ser absurdo alguns atores serem atacados pelos papéis interpretados. Foto: Netflix/Divulgação
2014. Após a eleição presidencial, a força-tarefa de Verene prendeu 12 dos 13 maiores empreiteiros do país. Nesta temporada, ainda falta um, o maior de todos: Ricardo Brecht (Emilio Orciollo Netto). Verena (Caroline Abras), Guilhome (Osvaldo Mil) e Vander (Jonathan Haagensen) seguem dedicados à investigação. O mesmo vale para Ruffo (Selton Mello): o delegado aposentado ainda age fora da lei e continua a perseguição a Ibrahim (Enrique Diaz), afastando-se cada vez mais da esposa, Regina (Susana Ribeiro), e da filha, Beta (Julia Svaccina).

Assista ao trailer:




Repórter viajou a convite da Netflix.
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