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Flor de Cactus, primeira banda de Lenine e Zeh Rocha, lança álbum inédito após 38 anos

Publicado em: 08/05/2019 10:05 | Atualizado em: 17/07/2020 23:30

Banda Flor de Cactus, década de 70. Em destaque, Lenine no violão de camiseta branca (Foto: Reprodução da Internet)
Banda Flor de Cactus, década de 70. Em destaque, Lenine no violão de camiseta branca (Foto: Reprodução da Internet)


Em 1973, três amigos se reuniram para montar uma banda com o objetivo de participar do antigo Festival de Música do Colégio de Aplicação do Recife. Assim os pernambucanos Zeh Rocha, André Lôbo e Plínio Santos iniciavam as atividades da Flor de Cactus, grupo contemporâneo ao Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Concerto Viola. Essas bandas tinham suas características singulares, mas um traço em comum: davam vida ao surgimento de cancioneiro nordestino moderno, levantando as bandeiras de ritmos como maracatu, ciranda, baião, forró, caboclinho e frevo, mas sem se desligar do global.

O músico Lenine, então anônimo, conheceu a Flor de Cactus durante uma apresentação na Escola de Engenharia da UFPE, em 1976. Ele foi até o camarim e compôs ali mesmo, ao lado de Rocha, a canção Prova de fogo - que futuramente estaria em seu álbum de estreia junto com Lula Queiroga. O estudante entrou para a banda e, no final de 1979, foi o vocalista do primeiro e único registro do grupo: um compacto com as canções Festejos (Zé Rocha e André Lobo) e Giração (Lenine).



“Era impossível gravar um disco naquela época sem ter alguém por trás com dinheiro. Só conseguimos gravar esse compacto simples por conta de um estúdio que o Zé da Flauta montou no improviso”, relembra Caca Barretto (baixo), que entrou para a banda junto com Mário Lôbo (piano) e Sérgio Campello (bateria, 1955 - 2016). A banda se dissolveu em 1980, desestimulada pela falta de oportunidades no Recife, cada um trilhando seu caminho. Lenine, por exemplo, foi tentar carreira no Rio de Janeiro.

Assim, a Flor de Cactus nunca chegou a lançar singles ou álbuns, sendo reconhecida pelos apreciadores da história musical pernambucana de forma quase que enciclopédica, como uma espécie de “célula embrionária” que daria início à trajetória de nomes exitosos. É por isso que o disco lançado em abril deste ano foi um acontecimento inédito, rompendo o hiato de 38 anos com canções que passaram esse todo tempo engavetadas.

Leo Araújo, Rafael Aragão, George Aragão, Bruno Simpson e Caca Barreto são alguns integrantes da atual formação da Flor de Cactus (Foto: Flor de Cactus/Divulgação)
Leo Araújo, Rafael Aragão, George Aragão, Bruno Simpson e Caca Barreto são alguns integrantes da atual formação da Flor de Cactus (Foto: Flor de Cactus/Divulgação)


O evento de lançamento de Brincando com o tempo (Top Disc) será nesta quarta-feira (8), a partir das 20h, na loja Passa Disco, localizada no Espinheiro. Haverá um show da atual formação, composta por André Lobo (violão), Caca Barretto (baixo), Bruno Simpson (voz), Fred Andrade (guitarra e viola), George Aragão (teclados) e Ricardo Fraga (bateria). A apresentação contará com participações de Lula Queiroga (voz), Tostão Queiroga (bateria) e Sérgio Andrade (da Banda de Pau e Corda, no vocal). A loja ainda vai comportar uma exposição de cartazes antigos, releases da época e fotos inéditas de uma sessão de fotos para o compacto de 1979.

PROPOSTA
“Decidimos gravar esse disco em 2004, um tempo depois que o movimento manguebeat trouxe os olhos do mundo para Pernambuco”, conta Cacá. “Assim como aquelas novas bandas, já tínhamos essa proposta de mistura de ritmos regionais como o maracatu com rock progressivo, então aproveitamos a oportunidade para lançar nosso trabalho. Os arranjos são totalmente originais da época”. As composições são todas de André lôbo, Zeh Rocha e Lenine, exceto as mais novas Maracatu bonito (Fred Andrade) e Diário de Nassau (Bruno Simpson).

As gravações no estúdio MuzaK e Carranca terminaram em 2008, mas o lançamento só foi possível 11 anos depois devido ao patrocínio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Brincando com o tempo, título apropriado para um álbum que esperou tanto para sair, ainda conta com participações de Lenine (voz), Cesar Michiles (flauta), Cláudio Rabeca, Zeh Rocha (violão) e Gennaro (acordeon).

Capa do álbum (Foto: Top Disc/Divulgação)
Capa do álbum (Foto: Top Disc/Divulgação)


As letras setentistas exaltam do Recife, sua história, pessoas e ruas. Passam também pelo folclore. A segunda faixa, Boi da boa hora, traz a narrativa do Bumba Meu Boi de Afogados. Diário de Nassau é uma canção épica que conta a trajetória do conde holandês ao Recife e o sentimento que desenvolveu pela terra. Regresso e Festejo levam o ouvinte para as bandas do interior, enquanto Feirante descreve os elementos característicos das feiras de rua.

O encarte do disco conta com uma linha do tempo da banda, ilustrado por fotos de diferentes épocas e xilogravuras. Também tem uma dedicatória à memória do percussionista Sérgio Campello, que faleceu há três anos. “Por sua inconfundível personalidade musical e inventividade, que marcaram significativamente a identidade sonora do Flor de Cactus”. É um trecho que explicita o alicerce que tornou possível um retorno após tantos anos: a amizade.

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