Artes plásticas

Exposição inspirada em Miró mescla surrealismo e afro-brasilidades

Publicado em: 02/05/2019 14:06 | Atualizado em: 02/05/2019 14:34

Foto: Sil Karla/Divulgação
Paredes, janelas e camisas por muitos anos foram as telas que abrigaram as cores e os traços da baiana Sil Karla, que exibe suas pinturas pela primeira vez a partir de hoje, na Casa Cultural Villa Ritinha (Rua da Soledade, 35), com vernissage às 20h.

Como continuidade da obra de Sil, Diogum de Oliveira desenvolveu esculturas de ferro inspiradas nas obras da artista plástica, que carregam influências modernas do surrealismo de Miró mescladas com a cultura afro-brasileira. O trabalho dos artistas batiza a exposição de João Miró baiano-pernambucana. A visitação segue até junho, de terça-feira a sábado, das 15h às 20h.

Sil Karla deixou a Bahia aos 20 anos atraída pelo ritmo e cultura do Sítio Histórico de Olinda, onde morava o pai. Passou então a conviver com o universo de artistas de familiares e amigos e decidiu ingressar na graduação de Licenciatura em Artes Plásticas. Na época, optou por cursar apenas as disciplinas práticas e, após quatro anos, deixou a faculdade por problemas pessoais.

A identificação com a pintura acrílica, entretanto, foi mantida, assim como o olhar contemporâneo que o curso ajudou a despertar, o que a fez tentar conciliar as brechas de sua rotina com a arte. Em 2005, abriu o espaço Xinxim da Baiana, em Olinda, e fez de lá seu bar, restaurante e atelier.

“Eu tinha uma galeria própria para exibir minhas obras, promovemos eventos culturais e artísticos, mas acabava deixando em segundo plano, sempre dando prioridade para a cozinha e administração do estabelecimento”, explica Sil, 43 anos.

"A dificuldade de viver de arte no Brasil é muito grande, faz com que você tenha muito medo de não ter estabilidade financeira e desista de encarar esse sonho", revela, expondo o motivo pelo qual até o momento não tinha deixado se envolver pelo seu trabalho artístico.

Como desafio pessoal, decidiu fechar o Xinxim da Baiana para se dedicar totalmente à pintura. "Resolvi fazer, da minha própria casa, no bairro do Bonsucesso, um laboratório e atelier. Me afastei da vida noturna e da rotina anterior, em sinal de busca a um autoconhecimento. Comecei a meditar mais, procurar ter mais paciência, mais tempo e mais paz. E isso foi crucial para eu ter coragem de colocar a arte em primeiro lugar."

Para ela, o convite do alemão Klaus Meyer, proprietário e curador da Casa Cultural Villa Ritinha, foi como uma resposta do universo, provando que valeu a pena o tempo investido no trabalho. Atualmente, o espaço recebe exposições, concertos, lançamentos de livros, palestras, além de contar com um café bistrô.

Após uma indicação da amiga e atriz Weracy Costa, Sil decidiu procurar Klaus. “Botei duas telas embaixo do braço e fui, ansiosa. Ele foi o primeiro crítico a observar e julgar o meu trabalho. Para a minha sorte, foi muito receptivo, parecia até que já procurava algo parecido com as minhas telas”, afirma. 

Para Klaus, o feito das obras de Sil é inédito. “Nunca vi isso sendo feito antes. Karla é uma artista jovem, baiana, e quando eu vi a pintura dela eu pensei logo em Miró. Quando você vê os quadros dele junto às pinturas dela, é possível perceber que há uma relação direta. Sem perceber, ela acabou mesclando o surrealismo com a cultura afro-brasileira, e ainda traz como continuidade as esculturas de Diogum, que dialoga diretamente com suas pinturas”, explica.

O encontro de Sil Karla com Diogum de Oliveira, seu parceiro de trabalho e vida, deu-se em meio às artes. Filho de Ogum, orixá de ferro e da guerra, o escultor carrega a religiosidade como incentivo ao manuseio do metal. Além da influência do pai, que o fez serralheiro e autodidata. Os dois, juntos há 14 anos, conheceram-se na Terça Negra, evento cultural do Recife.

SERVIÇO
Exposição João Miró baiano-pernambucana
Onde: Casa Cultural Villa Ritinha (Rua da Soledade, 35) Abertura: hoje, às 20h
Visitação: até junho, sempre de terça a sábado, das 15h às 20h Quanto: entrada gratuita
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