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Shazam! mostra o sonho de criança em ser super-herói, com abordagem mais leve e colorida
DC Comics parece, finalmente, reconhecer que nem sempre visão lúgubre funciona para a transposição de seus personagens no cinema
Publicado: 04/04/2019 às 17:55

Foto: DC/Divulgação/
Super-heróis, inevitavelmente, trazem algo de ridículo no cerne. Uniformes chamativos, histórias de origem pouco críveis e tramas mirabolantes são elementos típicos do gênero nas páginas de quadrinhos e, por vezes, são deixados de lado nas adaptações para o cinema, em prol de narrativas mais sérias e, talvez, verossímeis. Após tentar construir um universo cinematográfico um tanto sóbrio a partir de uma releitura sisuda do Superman em O homem de aço (2013), a DC Comics parece, finalmente, reconhecer que nem sempre visão lúgubre funciona para a transposição de seus personagens no cinema. E Shazam!, em cartaz a partir desta quinta-feira (4), reforça o quão salutar pode ser uma abordagem mais leve e colorida a respeito dos heróis.
Talvez influenciada pelo bom resultado da visão mais sombria e pé no chão da trilogia Batman (2005-2012) de Christopher Nolan, a DC Comics tentou replicar esse sucesso aplicando matizes cinzentas em filmes que, no geral, não casaram bem com tal abordagem. Não por acaso, os títulos que mais se desvencilharam dessa visão, Mulher-Maravilha (2017) e Aquaman (2018), foram os mais interessantes e bem-sucedidos. Shazam!, dirigido por David F. Sandberg, dá um passo além e abraça boa dose de comédia e ingenuidade típica das histórias da era de ouro dos quadrinhos (1938-1956).
Aliás, embora não seja um personagem tão conhecido na atualidade, Shazam é contemporâneo ao Superman e, nos anos 1940, disputava a liderança nas HQs, chegando a superá-lo nas vendas em algumas edições. A rivalidade era tanta que, na década de 1950, a DC Comics moveu um processo contra os criadores de Shazam, que consideravam o herói um plágio do Homem de Aço. A briga nos tribunais levou a editora Fawcett Comics a deixar de publicar seu título mais popular, deixando o caminho aberto para Clark Kent.
Bastante fiel à essência do personagem, o filme acompanha o órfão Billy Batson (Asher Angel), um garoto que, por sua pureza, é escolhido por um mago chamado Shazam (Djimon Hounsou) para herdar poderes de heróis mitológicos. A propósito, o nome é um acrônimo de Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio. Ao proferir a palavra mágica “Shazam”, o adolescente é transformado em adulto (interpretado por Zachary Levi) e passa a ter superforça, resistência, velocidade, capacidade de voar etc.
Outra grande fonte de inspiração para o longa-metragem são as comédias e aventuras oitentistas e noventistas, em particular Quero ser grande (1988), referenciado em algumas passagens de Shazam!. Há certa despretensão e clima de “filme para toda a família”, reforçado pela presença de um bom número de coadjuvantes mirins, com destaque para Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), que faz as vezes de parceiro/ajudante.
O vilão do filme, Dr. Silvana (Mark Strong) é a perfeita antítese do herói: um adulto amargurado que, na infância, foi sondado pelo mago Shazam, mas rejeitado após revelar ambições malignas. Desde a recusa, ele tenta conquistar para si os poderes mágicos de Shazam.
Longe de ser mero pot-pourri de filmes da Sessão da Tarde, Shazam! tem personalidade própria e se mostra integrado, fazendo menções diretas aos demais heróis da editora, como Batman, Superman e Aquaman. Mesmo com uma história simples e sem dúvida com apelo infantil, o roteiro de Henry Gayden nunca chega a soar pueril, o que também é crédito da dupla de protagonistas.
O primeiro Capitão Marvel
Coincidentemente, Shazam! chega aos cinemas enquanto uma personagem diretamente relacionada às suas raízes está em cartaz nos cinemas, a Capitã Marvel. Isso porque, em sua origem, o herói era chamado Capitão Marvel, enquanto Shazam era apenas a palavra mágica que transformava Billy Batson no ser superpoderoso. No vácuo deixado pelo fim da publicação da revista do personagem durante as disputas judiciais entre a editora Fawcett Comics e a DC, a Marvel acabou lançando um título de mesmo nome, mas características diferentes, que não podiam ser associadas ao Superman. A alcunha de Capitão Marvel acabou sendo assumida por outros personagens da editora, sendo hoje a identidade heroica de Carol Danvers, protagonista do filme Capitã Marvel. Posteriormente licenciado pela DC, o personagem da Fawcett Comics acabou sendo renomeado Shazam para evitar confusões ou associação ao nome da principal editora concorrente, a Marvel.
Entrevista - Zachary Levi // ator
O que Shazam tem de especial em relação a outros personagens?
Muitas coisas. Mas acho que o que torna Shazam! algo à parte dos outros filmes do gênero é essa noção de satisfazer essa nossa criança interior que sempre desejou ser um super-herói. A maioria dos heróis carrega aquele senso de “oh, eu preciso salvar o mundo” (usa uma voz rouca cansada) e Billy Batson diz “Eu preciso salvar o mundo, isso é muito divertido!” (fala em falsete). Talvez Peter Parker (Homem-Aranha) seria algo parecido, mas bem, ele usa teias e eu posso voar.
Como é interpretar uma criança no corpo de um adulto?
É o melhor! Eu sou apenas um homem crescido com a cabeça de uma criança. Eu leio quadrinhos, jogo videogame, adoro aventuras. E amo personagens de bom coração. Eu sou muito otimista e positivo, então interpretar uma criançona foi perfeito. E também, como não ficar empolgado, enquanto adulto, quando você é convidado a interpretar um super-herói? E nem precisei disfarçar essa empolgação. Eu tenho certeza que Henry Cavill (Superman) e Ben Affleck (Batman) ou qualquer um escalado para viver um desses heróis mais estoicos ficaram igualmente animados, mas na hora de interpretar, é aquela coisa “Venha com tudo, eu sou o Batman” (novamente usa uma voz rouca e sombria). Eu não preciso fazer nada disso (usa uma voz abobalhada).
O quão fiel o filme é ao material original?
A principal fonte de inspiração para o filme foram os títulos mais recentes de Shazam, dos Novos 52 (iniciativa da DC Comics para o relançamento de todos os seus títulos), que serviu como um reboot da série. Mas também tomamos algumas liberdades artísticas, mas mantendo fidelidade ao espírito do personagem, inclusive em relação às histórias de outras épocas. Capitão Marvel/Shazam está aí há tanto tempo que tem diferentes gerações de fãs.
Como você se preparou?
Bem, foi apenas ser eu (risos), ficar empolgado, ir à academia cinco ou seis vezes na semana por um ano, comer muito. Foi algo louco, mas me sinto muito grato, porque nunca estive tão forte e saudável na minha vida.
Se pudesse escolher um herói para Shazam enfrentar ou ser amigo, quem seria?
Eu gostaria de lutar e virar amigo do Superman. Acho que seria incrível, os dois mais fortes da DC (Comics). Mas os poderes de Shazam têm origem mágica, enquanto o Superman é vulnerável à magia. Então, talvez eu pudesse ganhar e ficar ainda mais forte e popular (risos). E acho que também seria divertido apostar corrida com o Flash.
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