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Nova Paixão do Recife aposta em Jesus menos celestial e mais humano

Publicado em: 19/04/2019 08:21 | Atualizado em: 19/04/2019 13:25

Bruno Garcia interpreta Jesus Cristo. Foto: Apacepe/Divulgação.

A trajetória de Jesus Cristo começou a ser encenada em montagem teatral no Marco Zero do Recife em 2002, sob direção e interpretação de José Pimentel (1934-2018). No ano passado, o ator se retirou do papel principal, mas seguiu dirigindo a peça. Com seu falecimento, a interrupção na tradição agora será bem mais radical. A Paixão de Cristo: Jesus, a luz do mundo será apresentada nesta sexta-feira (19), sábado (20) e domingo (21), às 18h, com elenco, texto e direção inéditos no local para encenar a história mais famosa do Ocidente em uma narrativa mais “realística”, apostando em um Jesus que desperte maior identificação do cidadão comum e dos jovens. O acesso é gratuito.
 
As mudanças são resultado do imbróglio judicial em que a Apacepe (Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco), que realiza o espetáculo, foi impedida de fazer qualquer menção à obra de José Pimentel - recriada em espetáculo na Praça do Carmo, em Olinda, desde a quinta-feira (18) até domingo (21).

A produção no Marco Zero conta com 43 atores, trazendo como protagonista o pernambucano Bruno Garcia, conhecido por atuar em vários folhetins e seriados da Rede Globo e que está nos cinemas no filme De pernas pro ar 3. Angélica Zenith (Maria), Daniela Travassos (Madalena), Ivo Barreto (Judas), Sérgio Gusmão (Herodes), Carlos Lira (Pilatos) e Germano Haiut (Demônio do Deserto) são outros destaques do elenco, junto com 140 figurantes e mais de 30 profissionais na equipe técnica.
 
O texto e a direção de Jesus, a luz do mundo ficaram por conta de Carlos Carvalho, veterano na cena teatral pernambucana há quase 40 anos e um dos fundadores da Apacepe. “Nesse espetáculo, Jesus aparece como o homem que sempre foi, até se tornar Jesus Cristo. Contamos a trajetória dele até os últimos dias de maneira mais jovial, mais como ser humano do que um ser celestial, mais próximo de um homem como todos nós. Isso é bonito porque humaniza e dá um outro olhar”, conta o diretor, que já trabalhou em Paixões de Nova Jerusalém e de Casa Amarela, a qual dirigiu voluntariamente em 2016 e 2017.
 
Carlos explica que a história será contada em uma espécie de plano sequência, termo usual no universo do cinema. “As cenas vão engrenando na outra, as trilhas se misturam e tudo vai acontecendo com uma certa agilidade. Isso fará o público viajar mais na história.” Entre as cenas mais “inovadoras”, ele destaca um diálogo entre Jesus e Judas. “O apóstolo interpela Cristo sobre sua vida, sobre aquele cotidiano dominado pelo Império Romano e acabamos tendo novas reflexões sobre os motivos de sua traição trágica. Judas foi escolhido para ser apóstolo, mas por que ele traiu?”, indaga.
 
Entrevista - Bruno Garcia, ator

Como recebeu o convite para interpretar Jesus?
A possibilidade de voltar a trabalhar com tanta gente que fez parte do início da minha carreira, de cara, me deu uma alegria imensa. Recife é minha cidade de nascimento e o lugar onde o teatro entrou de vez na minha vida. Estar novamente numa produção totalmente pernambucana me dá a sensação de estar voltando pra casa.

Como tem sido a experiência de construir o personagem?
Fazer um papel nesse tipo de espetáculo, onde o texto está previamente gravado, traz desafios e peculiaridades. Um trabalho muito diferenciado. Então, minha companheira de vida e também de trabalho, Dominique Magalhães, teve a ideia de fazer um registro do processo. Mas também com o intuito de capturar o olhar feminino do fenômeno Cristo.

Inspirou-se em outros atores emblemáticos que já viveram o personagem?
Não precisa nem ser ator pra prestar atenção em todas as versões de Jesus que já passaram na sua frente. Gosto de muitas, mas sempre achei que ou eram meio alegóricas ou demasiadamente sorumbáticas. Jesus tinha um extraordinário e inédito peso nas costas. Demonstrar esse peso não é fácil. Mas, ao me deparar com a versão de Carlos Carvalho, que tem uma dinâmica brilhante, vi a oportunidade de fazer um Jesus mais solar, com aquela empolgação genuína dos jovens que sabem que tem potencial.

Fazer um papel de tamanha importância o intimidou em algum momento?
Imagine para um ator ser convidado para fazer o personagem mais importante da história do Ocidente. Você pensa: “Eu vou interpretar o cara que ao nascer definiu o ano em que nós estamos”. Responsabilidade divina.
 
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