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De Pernas Pro Ar 3 aborda 'realidade virtual' e competição feminina

Publicado: 11/04/2019 às 08:25

Alice entra na fase do sexo no mundo digital, óculos de realidade virtual, competição feminina e rotina em família. Foto: Desirée do Valle/Divulgação/

Alice entra na fase do sexo no mundo digital, óculos de realidade virtual, competição feminina e rotina em família. Foto: Desirée do Valle/Divulgação/


Quando a comédia De pernas pro ar entrou em cartaz, em 2010, tinha como ineditismo uma abordagem que conseguia vender sexo, fetiches e orgasmo feminino para o grande público brasileiro, com uma linguagem leve. Isso antes mesmo da atual onda feminista adquirir força. Quase dez anos depois, a franquia de êxito nas bilheterias chega em seu terceiro longa-metragem com o desafio de continuar despertando atenção em uma sociedade em que a liberdade sexual das mulheres é menos vista como tabu.

Outra consequência do feminismo pode ser vista na ficha técnica da produção: é o primeiro filme da franquia dirigido por uma mulher, Julia Rezende (Meu passado me condena e Um namorado para minha mulher), que substitui o veterano Roberto Santucci. Já Ingrid Guimarães também estreia como roteirista, ao lado de Marcelo Saback e Rene Belmonte. Mariza Leão assina a produção geral.

O elenco segue o mesmo. Guimarães interpreta a empresária Alice Sagretto, dona de uma rede mundial de sex shop e casada com João Sagretto (Bruno Garcia). Se nos dois primeiros filmes o objetivo da protagonista era expandir seu negócio e quebrar preconceitos em relação ao ramo, ela agora faz movimento contrário de voltar para casa com a pretensão de se aproximar da família. 

Alice se sente uma estranha no ninho, tentando se adequar à realidade de buscar a filha caçula na escola e se deparar com o filho Paulinho (Eduardo Mello), agora um jovem adulto, tendo uma vida sexual ativa dentro da casa da família. A trama esquenta mesmo com a aparição da jovem Leona (Samya Pascotto), universitária que ambiciona uma entrada no ramo do mercado de diversão erótica com um “óculos de realidade virtual”, em que as pessoas podem ter fantasias sexuais com auxílio de uma tecnologia de ponta. Essa personagem surge como uma versão mais jovem, antenada e tecnológica de Alice, que se sente ameaçada e opta por iniciar um clássico caso de “competição feminina”.

Com esse tópico da tecnologia, o filme tenta trazer à tona um cenário de relacionamentos estimulados pelo mundo digital, em uma sociedade em que pessoas cada vez mais consomem pornografia, fazem “sexo virtual” e arranjam parceiros por aplicativos. A competição feminina, realidade antiga e alvo de críticas pelo feminismo, nesse caso acaba servindo para levantar uma discussão sobre o envelhecimento da mulher. Alice e Leona entram em um embate geracional, mas precisam passar por um processo de amadurecimento até compreenderem que são parecidas e podem andar de mãos dadas.

Isso tudo é abordado com a linguagem leve que marcou os dois primeiros filmes, conseguindo falar sobre sexo para a “família toda” - exceto quem está abaixo da classificação indicativa de 14 anos. Em termos técnicos (fotografia e montagem), o filme não tem nada de diferente das comédias de grande público da Globo Filmes. Pode ser facilmente confundido com alguma série especial exibida pela emissora carioca no início do ano.

As piadas são majoritariamente garantidas pelo talento de Ingrid Guimarães, uma atriz muito carismática e que consegue soar cômica sem parecer forçada, além de transmitir familiaridade por viver Alice há quase dez anos. Ela é o pilar que sustenta a trama do início ao fim, superando roteiro e direção demasiadamente previsíveis, com problemas que são solucionados sem emocionar ou surpreender. De pernas pro ar 3 é um filme clichê que consegue arrancar boas risadas e serve como entretenimento. Cumpre sua função como modelo atual da comédia blockbuster brasileira.

Entrevista - Ingrid Guimarães, atriz

Qual a grande diferença desse terceiro filme na franquia?
Encontramos os personagens seis anos depois do segundo filme. Os filhos cresceram e o casal completa 20 anos junto. O sexo também mudou, então trazemos esse universo da realidade virtual. Vemos um casal jovem trazendo a modernidade das relações mediadas pela tecnologia. Acima disso tudo, acredito que o maior diferencial é essa coisa da competição entre as mulheres, algo tão antigo, mas que serve para falar de sororidade, uma pauta mais atual e que não conseguimos mostrar tanto nos filmes anteriores.

E quais os outros aspectos de empoderamento?
O empoderamento é retratado da melhor maneira possível no filme. Estou superfeliz com esse aspecto, principalmente por mostrar o envelhecer da mulher, que isso não é algo condenável. Na Europa, por exemplo, o envelhecimento é um selo de qualidade, aqui no Brasil não. No longa, temos a Leona, uma jovem que jamais poderá viver a realidade que a Alice viveu. A tecnologia vem para ressaltar essa diferença de gerações. Depois de uma grande transformação no roteiro, concluímos que o velho não é envelhecer, e sim a disputa feminina.

E em relação ao humor, como o filme consegue se renovar?
Acredito que temos pelo menos quatro cenas clássicas de humor e que vão “pegar”, principalmente as ligadas à realidade virtual. A cena em que eu uso os óculos de realidade virtual e encontro o Cauã Reymond, por exemplo. Eu nunca tinha visto ou feito algo desse tipo. Mas também é importante perceber como o humor entra em uma história que as pessoas podem dosar com emoção.
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