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Artes cênicas
Primeira ópera pernambucana será apresentada no Recife após 130 anos
Espetáculo Leonor, de 1883, é ambientado na Ilha de Itamaracá durante a Invasão Holandesa
Publicado: 27/03/2019 às 14:17

Leonor conta uma lenda pernambucana da Ilha de Itamaracá. Foto: Peu Ricardo/Divulgação/

Leonor, a primeira ópera composta por um pernambucano, executada em 1883, atravessou o século relegada ao esquecimento. Nos últimos tempos, as partituras de Euclides de Aquino Fonseca (1853-1929) permaneceram resguardadas na biblioteca do Instituto Ricardo Brennand, na Várzea, ofuscadas por obras mais populares e requisitadas pelos visitantes. Recentemente, a cantora lírica Natália Duarte decidiu pesquisar sobre essa produção em um trabalho de conclusão de curso em Música na UFPE. O projeto acabou inspirando uma nova montagem, a primeira em mais de 130 anos, com realização da Gárgula Produções, Academia de Ópera e Repertório UFPE e financiamento do Funcultura.
As apresentações serão no Teatro de Santa Isabel, mesmo palco que recebeu o espetáculo em 7 de setembro de 1883, com sessões amanhã, sexta-feira e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. A peça chega ainda mais completa do que na versão do século 19, que foi executada sem recursos para cenário, figurino e em formato de orquestra - com músicos em cima do palco, ao contrário da ópera, na qual a banda deve tocar no fosso. Em ato único, a obra conta com seis cantores solistas: Jéssica Soares e Natalina Chikushi (soprano/mezzo-soprano de Leonor), Diel Rodrigues e Lucas Melo (tenor de D. Antônio) e Anderson Rodrigues e Tiago Costa (barítono do D. Nuno).
As apresentações serão no Teatro de Santa Isabel, mesmo palco que recebeu o espetáculo em 7 de setembro de 1883, com sessões amanhã, sexta-feira e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. A peça chega ainda mais completa do que na versão do século 19, que foi executada sem recursos para cenário, figurino e em formato de orquestra - com músicos em cima do palco, ao contrário da ópera, na qual a banda deve tocar no fosso. Em ato único, a obra conta com seis cantores solistas: Jéssica Soares e Natalina Chikushi (soprano/mezzo-soprano de Leonor), Diel Rodrigues e Lucas Melo (tenor de D. Antônio) e Anderson Rodrigues e Tiago Costa (barítono do D. Nuno).
Leonor é ambientada na Ilha de Itamaracá, Litoral Norte de Pernambuco, em 1633, na época da Invasão Holandesa. O ambiente remete à terra natal do autor, nacionalista que atuava como pianista, compositor e crítico, chegando a ser cronista do Diario de Pernambuco. A ópera em questão trata de uma lenda popular pernambucana, já também esquecida, que tenta explicar o surgimento da manga de jasmim, iguaria exótica local.
"É a história de uma nobre e jovem moça que se apaixona por Antônio, um rapaz simplório. Com o impedimento do casamento por abismo de classe social, o homem decide se lançar na guerra contra os holandeses em busca de riquezas e glória. Anos se passam, mas ele nunca retorna, sendo considerado morto. Assim, Leonor entra em uma profunda depressão", explica Jéssica Soares, que protagoniza a ópera e também assina a produção geral. "No futuro, o rapaz volta à cidade, mas desta vez como padre. É sobre um reencontro, mas com um final trágico, que ajuda a entender o surgimento da manga de jasmim, que hoje conta com duas ou três árvores em Itamaracá. É uma lenda atualmente desconhecida, assim como essa ópera", continua.

A obra se encaixa no romantismo, escola que naquela época vivia seus últimos momentos na música e na literatura. As partituras ganham vida na mão do maestro Wendell Kettle, professor de regência na UFPE e especialista em orquestra operística, que assina a direção musical. "Leonor nos traz uma música típica do século 19, o auge de Antônio Carlos Gomes, importante compositor de ópera brasileiro. Eles procuravam se adequar ao modelo da música europeia, que era tida como a música culta de verdade”, explica o professor. “É uma sonoridade dramática que se molda bem à proposta da história. Requer um virtuosismo vocal imenso dos cantores, mostrando que o Recife tinha certa vida operística e lírica. Pela sua forma de escrever, é notável que o autor tinha um desenvolvimento nessa área".
Apesar dessas influências estéticas europeias, a ópera resgata uma outra característica bastante própria do romantismo nas artes: o nacionalismo - já que a escola surgiu durante o período de construção da identidade nacional. Essa característica aparece em vários aspectos: o enredo é cantado em português, a ambientação é em Itamaracá, com o coro composto por personagens que representam a vizinhança local, pescadores e senhoras da Ilha. A guerra contra os holandeses é um outro tópico patriota. A direção de arte (figurino e cenário), assinada por Marcondes Lima, foi fundamentada em obras de Franz Post e Albert Eckhout, pintores que acompanharam as tropas holandesas.

“Se trata de um tema nacional, da literatura nacional, que mexe com uma lenda folclórica bastante particular do Brasil. Isso numa época em que muitos brasileiros cantavam em italiano. Fazia parte de um movimento que buscava pela identidade nacional, e mesmo assim acabou esquecida. Esperamos que essa montagem jogue luz nesse esquecimento, ajudando a estabelecer a história no cenário operístico local e nacional”, pontua.
Jéssica Soares reforça que Leonor é um exemplo de como o Brasil conta com inúmeras óperas esquecidas, sobretudo no Nordeste. “Em Pernambuco, temos em média a realização de uma ópera por ano. Não temos editoração das obras. A Academia de Ópera e Repertório da UFPE vem tentando mudar essa realidade, ajudando a construir esse mercado. A receptividade do público está positiva. Queremos que as pessoas bebam dessa cultura que eleva e que é para todos, embora seja tachada de elitista”, pontua. Em breve, eles também desejam resgatar a ópera A compadecida, uma adaptação da obra de Ariano Suassuna.
Serviço
Ópera Leonor
Onde: Teatro Santa Isabel (Praça da República, Santo Antônio)
Quando: nesta quinta (28), sexta (29), sábado (30), às 20h, e domingo (31), às 19h - Sessão gratuita para escolas públicas e deficientes visuais na sexta, às 16h
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia), à venda na bilheteria
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