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Confira dicas de livros e filmes para entender os anos de chumbo da Ditadura Militar

Publicado em: 30/03/2019 11:39

Cena do filme 'Terra em Transe', de 1967. Foto: Mapa Filmes do Brasil/ reprodução (Cena do filme 'Terra em Transe', de 1967. Foto: Mapa Filmes do Brasil/ reprodução)
Cena do filme 'Terra em Transe', de 1967. Foto: Mapa Filmes do Brasil/ reprodução (Cena do filme 'Terra em Transe', de 1967. Foto: Mapa Filmes do Brasil/ reprodução)
Prestes a completar 55 anos, o golpe militar de 1964 no Brasil voltou a ficar em evidência no país após o presidente da República, Jair Bolsonaro, ordenar que os quartéis comemorassem a data nesta semana. Além de causar uma forte reação da sociedade civil - órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiaram a decisão, e o Ministério Público Federal (MPF) classificou o ato como passível de crime contra o Estado de Direito -, o comando causou mal-estar mesmo entre os militares. Na literatura e no audiovisual, há um vasto material sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985) ou que têm o período como pano de fundo. Das sessões de tortura aos fantasmas dos Anos de Chumbo, a arte lança luz sobre personagens, fatos e consequências do golpe, de veteranos como o cineasta baiano Gláuber Rocha até estreantes. A seguir, estão listados filmes e livros de ficção e não-ficção, de diversos anos de lançamento, autores e abordagens. 

Filmes

O desafio (1965)
Diretor: Paulo César Saraceni 
Primeira “reação” cinematográfica ao golpe de 1964, narra o romance da mulher de um industrial e um jornalista de esquerda (Oduvaldo Vianna Filho) em crise política e de identidade.

Terra em transe (1967)
Diretor: Glauber Rocha 
A obra-prima do período tenta entender, de forma alegórica, as razões da não resistência ao golpe contra a democracia. É dos raros filmes que procuram compreender as estruturas sociais que fazem tão frágeis as instituições brasileiras. É mais do que atual.

Cabra marcado para morrer (1964-1984)
Diretor: Eduardo Coutinho
É a obra referencial do período militar. As filmagens de uma obra de ficção sobre um líder camponês, interrompidas pelo golpe, só seriam retomadas às vésperas da redemocratização, agora já buscando o paradeiro dos personagens originais.

O bom burguês (1979)
Diretor: Oswaldo Caldeira 
Conta a história de um funcionário do Banco do Brasil que desviava dinheiro para a luta armada contra o regime. Inspirado no caso verídico do roubo do “cofre do Adhemar” por grupos armados.
Pra frente brasil (1982)
Diretor: Roberto Farias 
Filme que provocou tensão quando lançado ainda em pleno regime militar. Conta a história de um homem confundido com militante político que é torturado nos quartéis do aparelho repressor.

Jango (1984)
Diretor: Silvio Tendler 
Um dos documentários de maior sucesso, relata o tempo febril de João Goulart e a articulação de direita para derrubá-lo.

Nunca fomos tão felizes (1984)
Diretor: Murilo Salles 
Baseado em relato de João Gilberto Noll, conta o relacionamento de um adolescente com seu pai, militante clandestino.

Que bom te ver viva (1989)
Diretora: Lúcia Murat 
Tendo ela própria sido presa política, a diretora Lucia Murat resgata a memória de um grupo de mulheres que pegaram em armas contra o regime militar.

Lamarca (1994)
Diretor: Sérgio Rezende 
Cinebiografia de Carlos Lamarca (vivido por Paulo Betti), um dos líderes da luta armada contra o regime, morto na Bahia.

O que é isso, companheiro? (1997)
Diretor: Bruno Barreto 
Baseado no best-seller de Fernando Gabeira, narra a saga do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969. O objetivo da ação, bem-sucedida, era trocar o refém por prisioneiros políticos.

Batismo de fogo (2007)
Diretor: Helvécio Ratton 
Relato da trágica trajetória de Frei Tito Alencar, dominicano que, preso e torturado, não resistiu às sequelas da prisão e suicidou-se na França.

Hércules 56 (2007)
Diretor: Silvio Da-Rin 
O documentário reúne os sobreviventes do grupo trocado pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick, sequestrado em 1969 por organizações de esquerda. O título refere-se à matrícula do avião da FAB que levou os ativistas para o exílio.

Cidadão Boilesen (2009)
Diretor: Chaim Litewski 
Rara produção que fala dos vínculos do empresariado com a repressão, através do empresário dinamarquês Hanning Boilensen, do grupo Ultragás, acusado de financiar a tortura no regime militar.

O dia que durou 21 anos (2013)
Diretor: Camilo Tavares 
Documentário destaca a participação dos EUA no golpe que derrubou o presidente João Goulart em 1964.

70 (2015)
Diretora: Emília Silveira  
O filme ouve as histórias de vida de alguns dos 70 presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher em 1970. O detalhe é que não falta humor à narrativa de eventos tão dramáticos.

Soldados do Araguaia (2017)
Diretor: Belisário Franca 
Documentário conta a história da guerrilha (1967-1974) pelas vozes de soldados locais, convocados pelo Exército.

Deslembro (2018)
Diretora: Flávia Castro  
Quando a anistia é decretada no Brasil, Joana precisa voltar ao Rio, onde nasceu. Apaixonada por música e literatura, a adolescente, que deixou o país na infância, deve largar Paris para escrever sua vida.

Marighella (2019)
Diretor: Wagner Moura 
Biografia do guerrilheiro com Seu Jorge no papel principal, primeira direção de Wagner Moura, estreou no Festival de Berlim deste ano, mas ainda não tem data para exibição no Brasil.

Livros

Pernambuco em chamas - A intervenção 
dos EUA e o golpe 
de 1964
Autor: Vandeck Santiago
Editora: Cepe 
“Este livro é um thriller sobre a Guerra Fria. A narrativa empolgante, por vezes tensa, apresenta ao grande público as ações e intervenções dos Estados Unidos no Nordeste do Brasil entre 1961 e 1964” (trechos do prefácio do professor Pablo Porfirio).

Direita, volver - O golpe de 
1964 em Pernambuco
Autor: Fernando Coelho
Editora: Bagaço 
O autor trabalhava no governo Miguel Arraes e acompanhou de perto os acontecimentos. Obra rica em detalhes, com uma perspectiva que mescla o regional e o nacional.

A revolução que nunca houve
Autor: Joseph Page
Editora: Record 
Um clássico da presença americana no Nordeste e sobre os acontecimentos que precederam o golpe na região. O autor, um brasilianista, esteve na região na época.
A fantasia desfeita
Autor: Celso Furtado
Editora: Paz e Terra
Um dos livros de memórias de Celso Furtado, o primeiro superintendente da Sudene na época dos acontecimentos. Volume compreende o período que vai do governo de Juscelino Kubitschek até 1964 - o autor estava no Recife no dia do golpe e esteve com Miguel Arraes nos momentos que antecederam a deposição e prisão dele.

O caso eu conto como o caso foi: Fatos do meu tempo
Autor: Paulo Cavalcanti
Editora: Cepe
Segundo volume das memórias políticas de Paulo Cavalcanti, dirigente comunista pernambucano. Começa a partir do golpe e relata a ação da ditadura no estado.

1964 - O golpe
Autor: Flávio Tavares
Editora: L&PM 
Autor narra o que observou do movimento militar e da derrubada de João Goulart quando era repórter de política em Brasília.

Ainda estou aqui
Autora: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Alfaguara
Autor tenta entender o que de fato ocorreu com seu pai, o deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto pela ditadura em 1971.
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