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Com sonoridade oitentista e arrojada, banda Bule traz frescor pop à cena recifense

Com álbum Cabe Mais Ainda, grupo soa como uma espécie de 'Pet Shop Boys do Recife contemporâneo'

Publicado em: 15/03/2019 15:01 | Atualizado em: 08/06/2020 01:05

Da esquerda para direita: Daniel, Kildare, Carlos, Bernardo e Pedro (Foto: Jonatan Azevedo/Divulgação)
Da esquerda para direita: Daniel, Kildare, Carlos, Bernardo e Pedro (Foto: Jonatan Azevedo/Divulgação)

A década de 1980 é imprescindível para a entender a música pop como conhecemos hoje. Foi nessa época que o sintetizador, cada vez mais arrojado, conseguiu se desprender do “rótulo” da disco music para habitar definitivamente nas paradas de sucesso globais. Os primeiros segundos de Lucky star, faixa que inaugura o álbum de estreia de Madonna (Madonna, 1983), consegue abreviar bem o período. Pet Shop Boys, New Order e Duran Duran são outros exemplos de uma fase de sonoridades industriais, açucaradas e dançantes - também nostálgicas, em perspectiva atual.



Com o passar do tempo, essa estética foi sendo considerada "ultrapassada" e "cafona". Isso porque a música pop é efêmera, mas a história ensina que tendências sempre voltam. É curioso, no entanto, que um grupo tenha começado a apostar nesse estilo no Recife atual. A banda Bule foi formada em meados de 2016, mas só em novembro do ano passado lançou seu primeiro álbum, intitulado Cabe mais ainda. Neste sábado (16), apresenta-se no Jambo Azul, no bairro da Boa Vista, com participações especiais de Tagore Suassuna e Katarina Nápoles (vocalista da Guma). A banda Madimboo completa a programação.

Bule, que vem da expressão “buliçoso”, é formada por Pedro Leão (teclado, guitarra e vocal), Carlos Filizola (teclado e guitarra), Bernardo Guimarães (baixo), Daniel Ribeiro (percussão) e Kildare Nascimento (bateria), todos na faixa entre 25 e 27 anos. Eles se conheceram na adolescência e sempre costumavam tocar juntos em algumas festas. A prática só ganhou tons profissionais em 2016, quando os rapazes decidiram montar uma banda apostando nessa estética pop dos anos 1980.


"Era algo que vínhamos escutando muito naquela época", explica o percussionista Daniel, em entrevista ao Viver. "Também queríamos implementar alguns elementos brasileiros. Eu, por exemplo, faço a percussão com conga, caxixi e cabaça. Tentamos trazer aquela onda pop da new wave para um lado mais tropical e nacional".

Cabe mais ainda foi gravado em um estúdio caseiro no bairro das graças, Zona Norte do Recife. Os integrantes selecionaram cerca de 15 faixas, com composições de Pedro Leão, Toni Lamenha e linhas melódicas de Carlos Filizola. “Sentimos que estava meio que faltando algo parecido com isso aqui no Recife. Vínhamos acompanhando alguns artistas nacionais que estavam fazendo algo semelhante, como Céu (Tropix, 2016) e Mahmundi (Mahmundi, 2017)”, diz Carlos.

 (Foto: Jonatan Azevedo/Divulgação)
Foto: Jonatan Azevedo/Divulgação

Inicialmente, a sonoridade da banda era de fato vintage, com timbres que pareciam com os entoados naquela época. O que mudou o curso da produção, deixando as canções ainda mais singulares, foi a entrada de Benke Ferraz, guitarra da Boogarins (GO). "Ele deu uma modernizada boa, com uma mixagem arrojada e as viagens dele, já que Boogarins é uma banda psicodélica”, continua Carlos. Restaram apenas cinco faixas intercaladas por três interludes - no álbum, são chamadas de remixes.

O resultado soa inusitado diante do histórico da cena musical recifense, que até há pouco parecia predestinada a repercutir o legado do manguebeat. Bule emplaca um som retrô, tropical e divertido, que resgata o pop radiofônico oitentista com suporte de batidas arrojadas, modernas e psicodélicas. O tom alucinógeno também aparece nas letras, que abordam sentimentos e temáticas aleatórias de forma nonsense, dando trilha ao cotidiano de uma juventude recifense urbana.

"As influências retrôs vieram dos dois primeiros álbuns de Madonna e New Order. No repertório nacional, procuramos inspiração em dois álbuns de Gilberto Gil: Realce (1979), que mostra um lado mais funk dele, e Raça humana (1984), quando ele mergulha na bateria eletrônica e nos samples", diz Carlos, que também não deixa de admitir algumas influências mais óbvias, como Tame Impala e Daft Punk - mais especificamente em Random access memory (2013).


Ao combinar essas estéticas globais com brasilidades, Bule entra em consonância com o que tem sido chamado de "música pop brasileira" - em contraste com a "música popular brasileira", exaltada por ser puramente nacional. Também integra um time de artistas que estão dando um frescor pop ao cenário musical do Recife: projeto Guma (Caís, 2018), banda Torre (Rua I, 2018) e Barro (Somos, 2018) são alguns exemplos, também servindo de predição para o próximo lançamento de Romero Ferro (Ferro), que busca mesclar new wave oitentista com brega.

"Não vivemos o manguebeat porque éramos crianças, mas pegamos a geração do Mombojó, por exemplo. Desejamos fazer parte dessa nova cena pop recifense, mas as coisas tradicionais do Recife sempre estarão enraizadas na gente. Não tem como fugir, elas aparecem em algum momento", finaliza o percussionista.

SERVIÇO
Show de Bule e Mandimboo
Onde: Jambo Azul (Rua Bispo Cardoso Ayres, 481, Soledade, Recife)
Quando: neste sábado (16), a partir das 16h
Quanto: R$ 10 (antecipado) e R$ 15 (na entrada), à venda no Sympla

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