Música

Com 15 anos de carreira, grupo pernambucano Casas Populares da BR 232 lança primeiro disco

Coco, afoxé e ciranda são os destaques de Negraíndia, uma exaltação das vivências dos 'antepassados' das artistas

Publicado em: 25/03/2019 12:17

Foto: Vládia Lima/Divulgação

Carol Lopes, Joaninha Xeba, Natália Lopes e Raquel Santana. Quatro pernambucanas negras que se conheceram frequentando sambadas de coco em Olinda e encontros de maracatu rural no interior do estado. Algumas já tocavam instrumentos, outras foram aprendendo, e assim surgiu o grupo Casas Populares da BR 232, formado há 15 anos. O nome faz referência à estrada que foi protagonista na rotina do quarteto, em procura de maior conhecimento em ritmos populares. “Viajamos muito para o interior para encontrar mestres, grupos, além de fazer referência a casas de taipa, com quintais e terreiros, lugares onde ainda nos encontramos”, conta Natália, em entrevista ao Viver.

Foram anos realizando shows, lançando dois EPs e propagando gêneros como coco, samba de coco e outras variantes, além de forró de rabeca e afoxé. Em 2015, Josy Caldas e Eric Caldas entraram no grupo como percussionistas. Só agora, em 2019, a banda conseguiu lançar o primeiro álbum de estúdio, intitulado Negraíndia, com incentivo do Funcultura. O lançamento nas plataformas digitais será nesta segunda-feira (25), com uma sessão de escuta gratuita na loja Passa Disco (Galeria Hora Center, Rua da Hora, 345, Espinheiro), a partir das 19h.

As dez faixas autorais chegam carregadas de diversas vivências acumuladas nesses 15 anos. Além da maturidade artística, que demanda tempo de qualquer intérprete ou produtor, questões políticas emergiram na consciência individual e coletiva das pernambucanas. “O álbum é a conclusão de um processo de maturidade do grupo”, diz Raquel Santana. “Já vínhamos tentando gravar através de editais antes, mas, no final das contas, veio na hora certa, porque nosso som amadureceu bastante. Também chegou acoplado com uma tomada de consciência política da banda. Nos reconhecemos mais enquanto mulheres e negras".

É exatamente esse discernimento social que rege o álbum, como já anuncia o título. As temáticas são histórias e vivências de mulheres negras e indígenas, “antepassados” das artistas. O coco aparece com vários elementos, como tambores, flautas e tamancos. Cirandas, afoxés e uma cumbia também dão as caras. “O álbum foi pensado para contemplar toda essa diversidade de ritmos. As sonoridades dialogam com as letras, que falam na nossa conexão com a história dessas mulheres que não estão representadas nos livros de história, que tiveram suas trajetórias e lutas silenciadas”, conta Natália.

O projeto do Funcultura também contará com uma série de shows itinerantes por diversas capitais do Brasil, como Recife, João Pessoa, Brasília e São Paulo, além realização de duas oficinas e pockets shows em duas escolas públicas da Região Metropolitana do Recife. “Será uma experiência incrível. Ficamos um tempo separadas. Cada uma tocou seu próprio projeto, trabalhamos com outros artistas. Mas agora voltamos. E voltamos melhores”, afirma Raquel.
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