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Cia Brasil por Dança: 30 anos de defesa do frevo em Olinda

O grupo comemora o aniversário na noite desta quinta-feira (21), com um grande cortejo no Largo do Guadalupe, Sítio Histórico da cidade, a partir das 19 horas

Publicado em: 21/02/2019 17:30 | Atualizado em: 21/02/2019 21:28

Foto: Francisco Júnior/DivulgaçãoHMN
Na noite desta quinta-feira (21), o Largo do Guadalupe, no Sítio Histórico de Olinda, será palco da celebração dos 30 anos da Companhia de Frevo Brasil por Dança, que tem um importante trabalho de divulgação do ritmo no município. O grupo é o mais mais antigo em atividade da cidade e possui mais de 100 passistas. A festividade contará com a presença de outros grupos conhecidos do carnaval pernambucano e terá início às 19h. 

Foto: Sandro Barros/ Prefeitura de Olinda
“Quando olho para trás, passa um filme de superação na minha cabeça”, conta Adriana do Frevo, coordenadora da cia desde o início das atividades no ano de 1988. Ela, junto com mais alguns bailarinas decidiram colocar em prática os ensinamentos do grande mestre Nascimento do Passo, falecido em 2009. “Não foi fácil, aqui em Olinda não tinha grupo sistematizado de frevo. Nós colocamos a cara a tapa e levamos para as ruas. Os primeiros ensaios aconteceram no pátio da bica dos Quatro Cantos”. A dedicação foi tão grande que com o passar do tempo, a Brasil por Dança começou a despertar o carinho dos moradores e atraindo mais pessoas nas aulas, sempre com o enfoque social e a defesa da cultura popular. 

Foto: Arquivo/Cortesia

O carnavalesco Sílvio Botelho, o Pai dos Bonecos Gigantes, recorda com carinho dos encontros do grupo desde o surgimento. Ele reconhece a importância da bailarina para a divulgação e promoção do ritmo em Olinda. “Adriana sempre foi uma menina muito esperta e desde adolescente se mostrava preocupada em perpetuar a dança do frevo. Vários profissionais que passaram por ela estão hoje com suas próprias companhias e isso é muito importante. Nós olindenses temos um respeito imenso a força que ela exerce e o compromisso social. Não é fácil viver de cultura, mas quando se ama o que faz, o universo ajuda. A cada dia a gente engana um monstro para continuar defendendo a nossa identidade”, relata. 

Foto: WhatsApp/Cortesia

E não é fácil mesmo. O grupo se mantém de forma independente e com a ajuda dos moradores da comunidade. Pais, colaboradores e amigos dedicam de forma voluntária parte dos seus respectivos tempos para confeccionar os adereços. Dona Irailda Nunes da Silva, de 58 anos, que mora na comunidade da Cohab, bairro de Ouro Preto disse que participa há muitos anos do grupo e tudo o que faz é por amor. “Nós viramos a noite bordando e nos finais de semana colocamos barraca para ajudar nos custos. Tudo para contribuir e dar mais brilho aos anjos do frevo”. A avó faz questão de levar as netas Geovana Trindade, 14, e Lara Trindade, 12, para aprenderem e aprimorarem o ritmo. “Fico muito emocionada, sempre gostei da nossa cultura e ver elas participando é uma emoção grande”, ressalta a artesã.

Outra personagem importante para a o grupo é a Dona Veroneide Gomes, de 50 anos, que junto com Irailda, confecciona as sombrinhas e ajuda na produção das indumentárias dos brincantes. Enquanto uma costura o revestimento da sombrinha, a outra cola as pedrarias da roupa e assim o figurino é montado. A moradora do Amparo revela que não há sentimento maior que ajudar os jovens a crescerem profissionalmente através da cultura. “Nós ensinamos a ser bom filho, amar o próximo e ser bom amigo também. Faço questão de trazer os meus netos Guilherme José, de nove anos, e Clarisse Gomes, de 13 anos, para aprenderem a valorizar o que temos de mais lindo”, contou. 

Foto: Arquivo/Cortesia

E a emoção é nítida no rosto de cada um dos jovens, desde os passistas a diretoria. Hoje eles ensaiam sempre nas terças e quintas, a partir das 19h, no Clube Vassourinhas. O conhecimento e a valorização da identidade é perpetuado entre as gerações. No ano de 2018, Adriana foi homenageada no carnaval de Olinda e ao receber o troféu no palco das mãos do prefeito Lupércio ela desabafou: “Eu disse a ele que a partir daquele momento nós fomos vistos, mas precisamos ser ouvidos. Ser passista de frevo não é fácil. Há uma desvalorização imensa com os profissionais que vivem a dança nos 365 dias do ano. É muito doloroso ver muitos investirem tanto nas roupas para ganhar apenas R$ 30,00 por apresentação. Queremos valorização e respeito”, acrescentou. 

Foto: Samuel Calado/DP
E o grupo parte do princípio da dança enquanto instrumento de formação e protagonismo juvenil. Trata-se de um espaço onde a troca de conhecimentos é constante. O psicólogo Júnior Albuquerque,  de 25 anos, que também é bailarino da cia há dois anos, titulou o grupo como  “a mãe de todos os frevos para Olinda”. “Foi de lá que surgiu a grande parte dos grupos. Ela representa a resistência do ritmo na cidade. Para que a cultura de fazer frevo continuasse viva, o cia foi fundamental”, afirmou.  

E na noite desta quinta-feira (21), a festividade será em grande estilo, a partir das 19h, no Largo do Guadalupe. Vários grupos da cultura popular confirmaram presença, entre eles, a Pitombeira dos Quatro Cantos, menino da tarde e mulher do dia.  A partir das 19h30, um grande cortejo seguirá pela Rua de Nossa Senhora de Guadalupe, passará pela frente do Clube Vassourinhas, no Largo do Amparo e seguirá pela Estrada do Bonsucesso, onde se encontrará com o Homem da Meia Noite, que fará uma homenagem ao grupo. 

Foto: Francisco Júnior/DivulgaçãoHMN

Não há dúvidas que a Cia Brasil por dança é o sangue dos foliões olindenses, visto que contribui diretamente para a divulgação do ritmo pernambucano. Se for diferenciar os dois movimentos nas cidades irmãs, percebemos que o de Olinda se diferencia por ser pensado para o povo, no chão, resistente às pedras, ao mormaço do sol e às ladeiras do Sítio Histórico. “A cia é conduzida com a alma e com o coração. O grupo desfila há trinta anos com o nosso calunga. Ele faz parte da história da cidade e foi homenageado no prêmio Gigante Cultural”, contou o presidente do Homem da Meia-Noite, Luiz Adolpho.  

Sobre a emoção de completar três décadas, Adriana se emociona: “Eu nunca pensei que a gente tivesse grandes amigos. Eu acredito na força da cultura, da arte e da plasticidade. A Precisamos de governantes que tenham sensibilidade artística. Me deram a oportunidade de estar no frevo e eu continuarei multiplicando isso”.  As pessoas que quiserem conhecer o grupo, ele se reúne sempre nas terças e quintas, a partir das 19h, no Clube Vassourinhas de Olinda. As atividades são gratuitas e contemplam todas as idades. 
 
Confira o vídeo sobre o frevo na série "Ritmos Populares" 
 
 
 
 

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