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Pernambucana lança livro sobre Sil da Capela, uma das ceramistas mais importantes do país

Do Barro Eu Vim, do Barro Eu Sou, da jornalista e escritora Naide Nóbrega relata a trajetória de Maria Luciene da Silva Siqueira em Sil da Capela

Publicado em: 17/01/2019 10:22

Lançamento do livro acontece na Galeria Sobrado 7, no Shopping RioMar. Foto: Bruna Costa/Esp. DP

No barro em que a alagoana Maria Luciene enterrava os pés na lida da cana-de-açúcar, ainda na infância, estariam seu futuro e redenção. Aos 16 anos, quando decidiu fugir de casa em busca de uma vida mais digna, ela simplesmente não poderia saber que, nos anos seguintes, o barro transformaria Maria Luciene da Silva Siqueira em Sil da Capela, uma das ceramistas mais importantes do país. Inspiradora, sua trajetória foi registrada pela jornalista e escritora pernambucana Naide Nóbrega no livro Do barro eu vim, do barro eu sou, cujo lançamento ocorre nesta quinta-feira (17) à noite no Recife.

Dedicada a "todos os que amam arte popular e constroem a vida com as próprias mãos", a obra reúne memórias da protagonista, catálogo de imagens de suas esculturas e depoimentos de galeristas, marchands e colecionadores de todo o Brasil. "Foram muitas trocas de áudio, conversas e lágrimas. Uma mulher da minha geração, com uma vida tão diferente da minha, mas com vários pontos em comum comigo: muita fé, muita garra, muita vontade de fazer acontecer", conta Naide, que construiu todo o livro a milhares de quilômetros de sua personagem. Em Palência, cidade da Espanha onde vive com a família desde 2016, a pernambucana trocou mensagens e telefonemas durante seis meses com Sil, que continua a viver no município alagoano de Capela. O evento de lançamento da publicação será, também, o primeiro encontro entre a autora e a biografada.

Costurada em torno do nascimento e do "renascimento" de Sil - a partir da dignidade e do sustento encontrados no barro - a narrativa cruza temas duros e delicadezas, entre a pobreza extrema, o machismo e a infância cruel da ceramista. Atenuados e vencidos pela simplicidade, disposição e otimismo da protagonista, que redescobriu o barro em oficina oferecida pelo Sebrae a mães de filhos com deficiência, onde ela conheceu o mestre João das Alagoas, patrimônio vivo do estado e mentor de seu trabalho. Sil da Capela abriu caminho em cenários dominados por homens. E transformou a carência de recursos e os desafios da criação de sua primeira filha, diagnosticada com epilepsia e autismo, em prosperidade e arte. "Tudo começou com o problema de saúde da minha filha. Se não fosse Cristina e a necessidade de buscar dinheiro para pagar seus remédios, nada disso teria acontecido. Ela nos deu tudo o que temos", conta a artista, que tem mais dois filhos com seu companheiro, André.

Atualmente, com catálogo de obras marcado por jaqueiras, abundantes na Zona da Mata alagoana, Sil comercializa peças para todo o Brasil e para países do exterior, entre galerias da América do Norte e da Europa. A expressividade, o contentamento e a afetividade marcam seu trabalho, evidentes em obras como Mãe lendo na sombra da jaqueira e Mãe amamentando, bem como os costumes da região Nordeste, retratados em O casamento matuto e Violeiros na frente da casa. "O talento dela é impressionante. E, apesar de todas as dificuldades, ela é leve. É a pessoa mais leve e alegre que qualquer um já viu. E faz crônicas dos costumes do interior, que revelam Capela, em Alagoas, mas poderiam revelar qualquer cidade do interior nordestino", conclui Naide.

DUAS PERGUNTAS - Naide Nóbrega, escritora

Quem é, afinal, Sil da Capela?
É muito mais do que uma artista. Ela é uma representação clara da garra e do talento da mulher nordestina. Ela abre as próprias portas. Ela ensina para a gente que cada um pode começar e recomeçar a qualquer momento. Ela representa a mulher que não cansa, que teima. Ela vai atrás do que quer. É uma grande artista e, sobretudo, uma grande mulher. Que enxerga na dificuldade a mola propulsora para se reinventar, para criar.

O que ela tem a ensinar?
Eu acho que ela, assim como os grandes mestres da arte no barro, tem consciência de que aquilo que ela sabe não pode morrer nela. Tenho certeza que ela vai passar adiante essa forma de enxergar a vida, além de seu talento com o barro, como já vem repassando dentro da família. O livro não se propõe a ser de autoajuda, de jeito nenhum. Mas ele mostra que nós quase sempre consideramos os nossos problemas muito grandes. E os problemas, às vezes, podem ser um grande recomeço.

SERVIÇO
Lançamento do livro Do barro eu vim, do barro eu sou, de Naide Nóbrega
Editora Provisual, 72 páginas
Quando: nesta quinta-feira (17), às 19h
Onde: Galeria Sobrado 7, no Shopping RioMar (Av. República do Líbano, 251, Pina)

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