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Navalha na Carne, peça censurada no regime militar, ganha nova montagem no Janeiro de Grandes Espetáculos

Texto de Plínio Marcos traz uma prostituta, um cafetão e um faxineiro gay em uma discussão durante a madrugada

Publicado em: 10/01/2019 09:42 | Atualizado em: 10/01/2019 10:26

Foto: Navalha na Carne/Divulgação

Nos anos 1970, a peça teatral Navalha na carne causou polêmica no meio teatral. O texto de Plínio Marcos traz a prostituta Neusa (Tônia Carrero) e o cafetão Vado (Nelson Xavier) em uma briga que atravessa uma madrugada e se complica ainda mais quando Veludo (Emiliano Queiroz), um faxineiro gay, entra na história. O espetáculo foi inicialmente censurado pelos militares e só conseguiu estrear após inúmeras tentativas de Tônia Carrero, uma das atrizes mais atuantes de seu tempo.

Agora, o espetáculo ganhou uma nova montagem, idealizada por Luisa Thiré, neta de Tônia, que protagoniza o papel emblemático da avó. Navalha na carne - Uma homenagem a Tônia Carrero será apresentada nesta quinta-feira (10), às 20h30, no Teatro Barreto Júnior (R. Est. Jeremias Bastos, Pina), dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, com ingressos a R$ 40. Alex Nader e Ranieri Gonzalez completam o elenco, enquanto Gustavo Wabner assina a direção. Outras sessões serão realizadas amanhã e no domingo - esta última no Espaço Cabra de Lampião, em Serra Talhada.

“Na primeira vez que a peça foi aos palcos, a ditadura vivia seu auge. Era muito complicado. Mas foi um marco na carreira da minha avó, pois até então ela era conhecida como uma atriz apenas bonita e glamourosa. Nessa peça, apareceu como uma prostituta decadente e destruída pela vida. Ela se desfez da beleza e a crítica passou a vê-la como uma grande atriz”, conta Luisa Thiré. 

A nova montagem, apesar do mesmo texto, conta com diversas atualizações estéticas. “Apresentamos novas interpretações. Os modos, maneiras e comportamentos das pessoas mudaram muito. Também tem o novo cenário e trilha sonora”, explica a atriz. “O assunto é o mesmo. Fala de violência contra a mulher, homofobia. Na época, aquilo chocava porque eram pessoas em cena se batendo, se maltratando. O que choca agora é a gente ver a banalização da violência. Todo dia tem mulher apanhando, homossexual sendo morto. Isso sim é chocante e infelizmente não choca mais. Precisamos fazer uma releitura sobre isso.”

MAIS ATRAÇÕES
O Janeiro de Grandes Espetáculos traz nesta quinta outras duas atrações no Recife. Às 19h30, no Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Bairro do Recife), será encenada a peça Desencaixe, do Coletivo Mosaico de Artes Integradas (PE). Trata-se de um trabalho de dança e teatro que, além de falar sobre as vivências negras do dançarino Yuri Silva, traz a capoeira em sua estrutura, abordando a visão ritualística ancestral. 

Já no Teatro de Santa Isabel (Praça da República, 233, Santo Antônio), a Companhia Teatro Epigenia (RJ) apresenta Hollywood, às 20h. Em sua terceira peça da premiada trilogia sobre as obras de David Mamet, o grupo aborda o conflito de um homem entre realizar um filme considerado "mais do mesmo" ou uma produção recheada de conceitos que poderiam ajudar o homem contemporâneo. Os ingressos de ambas as atrações custam R$ 40.

Amanhã, o público poderá uma performance solo de Antonio Marinho (Teatro Arraial Ariano Suassuna). O grande destaque do dia é o musical Palavra de mulher, encenado pelas atrizes Virgínia Rosa, Tânia Alves e Lucinha Lins para revisitar o universo feminino a partir das canções de Chico Buarque, com a questão do empoderamento da mulher no centro do debate.
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