Teatro

Com bonecos, montagem teatral de Vidas Secas debate xenofobia

Peça que revisita obra de Graciliano Ramos entra em cartaz na Caixa Cultural Recife

Publicado em: 17/01/2019 11:31 | Atualizado em: 17/01/2019 13:44

Foto: Tamyris Zago/Divulgação

Publicado originalmente em 1938, o romance Vidas secas, do escritor Graciliano Ramos, aborda a miséria e as dificuldades da vida do retirante no Sertão nordestino e as fugas do personagem principal e sua família da seca. Com o cruel aumento da xenofobia no país, a companhia ítalo-brasileira Caravan Maschera sentiu a necessidade de “revisitar” Ramos nos palcos, para buscar explicações que justificassem esse regresso. 

Segundo Leonardo Garcia, integrante do grupo, essa releitura fez com que eles se deparassem com as impotências de seus personagens diante de um clima e contexto opressores. Percebemos que o que nos afeta em comum é esse sentimento de não ter como reagir ao nosso contexto regido por poderosos anônimos da política coronelista e do próprio ambiente”, conta. Desta quinta-feira (17) a 26 de janeiro, o espetáculo, feito com bonecos, estará em cartaz na Caixa Cultural Recife, sempre de quinta a sábado. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda no local. 

O projeto inicial da montagem não era ilustrar a famosa obra com bonecos e máscaras. Mas as imagens construídas em mais de 70 páginas do livro de Ramos instigaram a Caravan Maschera a revivê-lo por meio imagético e sensitivo. A partir disso, eles entenderam que a potencialidade das imagens, da iluminação da musicalidade e dos bonecos em movimentos passavam a ser autônomos na sugestão de sentidos para a obra que se criava quase sem palavras.

"Nosso espetáculo não fala de Vidas secas, mas fala com Vidas secas. Se utiliza das imagens e situações criadas por Graciliano Ramos para criar no público os sentidos, signos e significados a respeito da seca, da esperança e da desilusão”, explica Garcia. A montagem, que teve sessões recentes na França, Itália, Suíça e Eslovênia, passa diversas mensagens que são recriadas pelo espectador a partir de suas vivências, memórias e emoções. 

A forma própria, tamanho e cor das marionetes motivaram a escolha do grupo pelos bonecos. Garcia ressalta que não se trata de um ator que finge ser determinado personagem, mas de uma matéria em movimento sob uma luz específica que, por alguns momentos, é uma substância concreta atravessada pela seca. "O público passa a entrar em uma sintonia que vai além do mundo da representação e entra em uma poesia própria com seu ritmo particular e que permite uma outra relação com a fábula, com o contexto e com o seu entendimento individual daquilo que está assistindo". A escolha também se dá pelo fato de cada personagem possuir um tipo de manipulação, criando no público diferentes sensações de quem seriam esses personagens. As cenas são intuídas pelo coração e os olhos do público, enquanto o cérebro e a razão descansam. 

Além das sessões, o grupo também oferece um workshop gratuito sobre teatro de bonecos com inscrições abertas para atores e estudantes de teatro. O objetivo da oficina é compartilhar com o público as experimentações e o percurso feito pelo grupo, apontando alguns conselhos e questionamentos sobre o teatro de bonecos na atualidade. "Fazer esse tipo de oficina é sempre uma necessidade nossa, pois precisamos sempre confrontar nossos caminhos e escolhas com o público mais variado para entender melhor aquilo que estamos nos tornando. Para o público em geral, penso que a necessidade seja a curiosidade em si. A vontade de se relacionar com o que é novo e desconhecido", adianta Garcia, que vai ministrar as oficinas ao lado de Giorgia Goldoni, amanhã (das 13h às 17h) e sábado (das 9h às 13h), na sala de oficina da Caixa Cultural Recife. 

Confira o vídeo:



SERVIÇO
Espetáculo Vidas Secas
Quando: desta quinta-feira (17) a 26 de janeiro, sempre de quinta-feira a sábado
Horário: quinta e sexta às 20h, sábados às 18h e 20h
Onde: Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 3425-1915

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