Entrevista

Ritmo jamaicano Dancehall fez a brasileira Lei Di Dai alavancar a carreira no exterior

Cantora foi a primeira mulher a liderar um sound system no Brasil

Publicado em: 26/12/2018 13:00

Lei Di Dai durante show no Festival Red Bull Amaphiko, em São Paulo. Foto: Felipe Gabriel / Red Bull Content Pool / Divulgação

O termo dancehall pode não ser muito popular no Brasil, mas, certamente, as músicas desse ritmo jamaicano são bastante conhecidas por aqui, a exemplo do hit Boombastic, do cantor Shaggy. O som é uma mistura do reggae com o eletrônico e a dança solo com influências do hip hop, focada no quadril e no peitoral. “O dancehall já está no Brasil desde os anos 1990, mas como só tocava em bailes de música black, virou uma vertente da black music. A gente vem fazendo músicas que inspiram a pop music há muito tempo, só não temos o mesmo reconhecimento. Lá fora, Rihanna, Justin Bieber e outros artistas usam nossa base. Aqui no Brasil, cantores do axé e até os sertanejos estão usando as batidas do dancehall”, comenta a cantora e compositora paulistana Lei Di Dai, que ganhou o título de “rainha do dancehall brasileiro” pela edição nacional da revista Rolling Stone. “Eu tenho orgulho de fazer música jamaicana fora da Jamaica e ainda ser reconhecida por isso no mundo inteiro”, exalta.

Esse gênero musical levou a brasileira em turnê por dez países, com ingressos esgotados e como headliner em grandes festivais. “Desde 2009, eu estou fazendo turnê pela Europa, mas, especialmente, os últimos três anos foram bem importantes para mim, porque passei mais tempo por lá. Gravei meu último disco todo com produtores de Berlim, Londres e da Itália. Essas experiências glamourosas são essenciais para consolidar a carreira, mas é importante lembrar-se de onde veio para continuar brilhando”, aponta. A artista considera a capital da Inglaterra como a sua segunda casa, por ter uma maior concentração da cultura jamaicana e pelos ingleses terem colonizado a Jamaica. “Estou com Londres na palma da mão, conheço a boa música de lá, tenho amigos e, quando acordo, me sinto em casa”, relata Dai. “É muito gratificante cantar em português e os caras tocarem minha música nas rádios do exterior e minha história ser contada em diversas matérias de jornais, revistas e televisão. Comecei a sentir que lá fora também é meu lugar, igual aqui.”

Apesar de ter começado a carreira musical em 1998, o nome artístico só apareceu anos depois. E engana-se quem pensa que Lei Di Dai foi inspirado na famosa princesa de Gales. “Eu nasci Daiane de Nascimento e usava Dai Nascimento, até que um amigo falou que isso era nome de MPB. E, como eu sou uma mulher que só faço o que eu quero, sigo a minha própria lei, a lei da Dai, resolvi assumir Lei Di Dai”, revela. A cantora considera a “nova identidade” como um renascimento de sua música. “Eu acho que o meu trabalho só deu certo porque tudo isso que aconteceu foi muito sincero e sem medo”, completa.

PROJETO
O projeto social Gueto pro gueto - Sistema de som, idealizado pela artista em 2012, vai até as periferias, monta um palco ambulante no formato sound system inspirado na Jamaica e convida os artistas da região para divulgarem seus trabalhos. “A gente já conseguiu fazer mais de 100 eventos e isso é muito importante para as comunidades por dar oportunidade a esses artistas. Nem todo mundo que sai da periferia consegue fazer turnês e viver disso. Eu me considero uma inspiração para que eles corram atrás dos seus sonhos e façam a coisa acontecer. É através do Gueto pro gueto que eles têm essa experiência de estar no palco e receber um cachê para mostrar seus trabalhos”.

Em 2014, o projeto foi selecionado pela Red Bull Amaphiko Academy e foi validado como o primeiro sound system de dancehall no Brasil comandado por uma mulher. Foi a partir dessa parceria que Dai foi convidada para gravar nos estúdios da Red Bull da Alemanha, da Inglaterra e da Itália, e participou por dois anos consecutivos do Festival Red Bull Amaphiko, em São Paulo. Na edição deste ano, realizada no distrito de Grajaú, a festa Jah!spora encerrou o evento com show de Lei Di Dai. “Eu sou Amaphiko, o meu projeto Gueto pro gueto faz parte dessa iniciativa e esse festival veio para abrir portas para outros projetos de música também”, finaliza.
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