Música

'O povo do Recife deveria ter orgulho de onde estou chegando', diz Duda Beat. Confira a entrevista

Atração principal do Reveião Golarrolê, cantora conversou com o Diario sobre a atual fase da carreira, adiantando novidades e rebatendo as críticas que recebeu por cantar com um 'sotaque forçado'

Publicado em: 29/12/2018 18:28 | Atualizado em: 30/12/2018 18:03

Duda Beat no palco do No Ar Coquetel Molotov, em novembro. Foto: Coquetel Molotov/Divulgação
 
Os tempos são prósperos para Duda Beat. Muita coisa mudou desde o lançamento de Sinto muito (2018), álbum de estreia da recifense que ganhou a cena nacional ao apostar em uma sonoridade apelidada de "sofrência pop" - mistura de brega, reggae e ritmos latinos com synth pop e trap. O êxito é resultado de um trabalho minuciosamente executado durante dois anos ao lado de produtores e músicos experientes do Rio de Janeiro, cidade em que a pernambucana vive há 13 anos. Basta uma primeira audição para compreender que Sinto muito foi orquestrado para o sucesso.

Aos poucos, Eduarda Bittencourt (nome de batismo) vai se desvencilhando do rótulo de "indie" para adentrar, aos 30 anos, no promissor universo da música pop mainstream do Brasil. Sinto muito tem sido destaque nas listas de "melhores álbuns do ano" por diversas revistas e portais nacionais. Recentemente, Duda foi escalada para se apresentar na edição de 2019 do Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do país.

No Recife, fez sua primeira apresentação no MECABrennand, em setembro, preparando terreno para uma aguardada participação no festival No Ar Coquetel Molotov, em novembro. Após todo o “hype” adquirido, agora ela volta para a terra natal como atração principal do Reveião Golarrolê, uma dos principais eventos de ano novo da cidade. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Duda Beat aborda a atual fase da carreira, rebate críticas das redes sociais e adianta algumas novidades quentes para os próximos anos, incluindo uma parceria com o rapper recifense Diomedes Chinaski.
ENTREVISTA - Duda Beat, cantora

Sua primeira apresentação no Recife foi em setembro deste ano. De lá para cá, muita coisa mudou?
Muita coisa mudou, principalmente pela minha percepção de palco. Nesse caminho que estou trilhando tenho muito pouco tempo de palco. E palco grande mesmo são apenas cinco meses. Estou sempre aprendendo, conseguindo ter uma melhor performance, ser mais afinada. São coisas que conquistamos com a prática. O primeiro show no Recife foi especial porque foi o primeiro que a minha família assistiu. Ter parentes na plateia, junto com amigos de longa data, é muito especial para mim. E ainda mais voltar agora, da maneira que estou voltando.

Recentemente você lançou uma campanha para a cantora Lana Del Rey liberar um cover que você fez dela. Pode explicar mais a história dessa música?
Eu sempre adorei a canção High By the Beach. Um dia, brincando em casa, acabei escrevendo o cover Chapadinha na praia, que é um forrozão bem característico do Recife. Os meninos agilizaram a produção, eu gravei e ficou muito boa. Começamos a cantar nos shows e foi um sucesso. A minha empresária entrou com um pedido para a Sony autorizar um lançamento oficial. Passaram seis meses, mas não obtivemos nenhuma resposta. A gravadora está tentando, mas na prática não está rolando. Acabei resolvendo fazer essa campanha na internet para ver se se consigo sensibilizar a Lana e muita gente se engajou. A campanha meio que virou um argumento que eu precisava dar aos fãs. Espero que seja liberada até o final de janeiro no máximo. Quero muito lançar para o carnaval.

Embora você seja pernambucana, sua maturação artística foi no Rio de Janeiro. Viver 13 anos no Sudeste agilizou o sucesso do álbum? 
Mais ou menos. Eu passei a maior parte da minha vida no Recife. Muito do que eu boto para fora foi aprendido na minha infância/adolescência em Pernambuco. Recife é uma cidade muito rica culturalmente, eu sempre me envolvi muito com o frevo, com o maracatu. Ir para o Rio de Janeiro não agilizou o sucesso do álbum, mas agilizou o álbum em si. Eu acreditei nos produtores [Tomás Tróia, Lux Ferreira, Patrick Laplan, Diogo Strausz e Pedro Garcia], que moram aqui e trabalham com música há muito tempo. Ter esse encontro musical, fazer esse álbum do jeito que foi, é devido a estar no Rio, óbvio. Mas o sucesso é um combinado de coisas: estar no Rio, ao lado das pessoas certas e sempre carregando minhas referências do Recife.

Pernambucanos criaram, no Twitter, uma polêmica em torno de sua dicção. Afirmam que seu sotaque recifense é propositalmente "estereotipado" para soar exêntrico ao público nacional. Chegou a ouvir essas críticas?
Nas novelas da Globo, por exemplo, as pessoas não podem sequer falar com sotaque natural. Agora, chegam para mim dizendo que estou me aproveitando do sotaque recifense para aparecer. Acho isso uma loucura total e até meio cômico, na verdade. Vejo como um argumento sem pé nem cabeça. Conheço vários cantores pernambucanos que moram no Sudeste, como Otto e Karina Buhr, e eles continuam com sotaque. Tenho tias recifenses que se mudaram para o Rio de Janeiro há mais de 20 anos e continuam com sotaque. O sotaque pernambucano não é fácil de perder. Posso até ter o sotaque meio misturado, mas não forço nada. Isso [a crítica] é coisa de quem quer aparecer.

E como se sentiu ao ler essas críticas?
Fiquei extremamente magoada ao ver o povo do Recife falando esse tipo de coisa. Eles deveriam ter orgulho de onde estou chegando. Eu quero levar o nome do Recife não apenas para o Brasil, e sim para o mundo. As minhas intenções são muito maiores. E as pessoas precisam 'gongar' de alguma forma... Mas, por outro lado, se tem critica é porque estou atingindo objetivos maiores. Se tem haters é porque estou crescendo. Tenho que aprender a lidar com isso.

O Sinto Muito ainda deve render frutos para você, mas já pensa em algum outro álbum? 
Quando eu lancei o Sinto Muito, ele já era velho para mim. Pode parecer doido, mas os cantores têm disso. Eu já tenho as músicas do meu próximo disco e um monte de singles para soltar em 2019. O segundo disco será profundo no discurso, assim como o primeiro.

E o que podemos esperar?
Será uma transição da Duda que sofreu para a Duda que não sofre mais, que está curtindo essa onda boa que está rolando. Contará com participações especiais de duas pessoas muito queridas e que já estão na estrada há algum tempo. Foi uma honra convidá-las. O lançamento será em 2020, mas durante esse ano vão ter singles, a exemplo de Chapadinha na praia. Também tem um remix de Bichinho, um feat. com o Romero Ferro e (em primeira mão) lançarei uma música com o rapper recifense Diomedes Chinaski. Ele me mandou a canção essa semana, está linda demais e estou muito feliz. Mais uma vez fortalecendo a cena do Recife com muito orgulho. Nas críticas que fizeram a mim também diziam que eu não fortalecia a cena musical recifense, mas eu fortaleço sim.

SERVIÇO
Reveião Golarrolê, com Duda Beat, Arateku, Matheus Carrilho, Michelle Melo, Alana Marques, Thikos e mais DJs
Onde: Catamaran e Espaço Almirante (Bairro de São José, Recife)
Quando: nesta segunda-feira (31), a partir das 22h30
Quanto: R$ 230, à venda no Sympla

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