Homenagem
Alceu Valença, um dos nossos maiores patrimônios culturais
Aos 72 anos, o gênio da música e múltiplo artista segue com agenda repleta de shows e disposto a inovar cada vez mais
Por: Caio Ponciano
Publicado em: 15/12/2018 16:06 | Atualizado em: 15/12/2018 16:16
Milhões de discos vendidos, prêmios importantes, um filme no currículo, inúmeras músicas de sucesso e público que atravessa gerações. Foto: Shilton Araújo / Esp. DP (Shilton Araújo / Esp. DP) |
Na infância, não havia radiola na casa onde ele morava com seus pais Décio e Adelma, em São Bento do Una, no Agreste pernambucano. O motivo era o medo que o pai tinha de que o pequeno Alceu se tornasse boêmio e, por isso, não incentivava a sua veia artística. Essa condição da época fez com que o músico escutasse poucas músicas até os dias de hoje. “A música que conheço, eu aprendi com os vaqueiros, os trios de forró, as duplas de violeiros e emboladores. Uma vez, no início da minha carreira, perguntei ao Hermeto Pascoal o que ele costumava escutar. Sabe o que ele respondeu? Nada. Para não me influenciar”, diz, aos risos.
Foi apenas em 1969 que Alceu Valença, o então jovem de 23 anos, descobriu que tinha talento para a música, durante um curso de férias para o qual foi selecionado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Depois das aulas, ele levava seu violão para a praça e cantava xotes, baiões e martelos agalopados. “Os hippies e hare krishnas adoravam e dançavam em torno de mim”, recorda. Essas despretensiosas apresentações despertaram a curiosidade de um jornal de Massachusetts, que perguntou o que ele cantava. “Protest songs”, respondeu. Esse mesmo jornal definiu o pernambucano como o “Bob Dylan brasileiro”, quando ele nunca havia escutado uma música sequer do cantor e compositor norte-americano.
EXTERIOR
Os Estados Unidos não foram o único país do exterior em que Alceu fez morada. Ele também residiu durante um ano - e depois voltou diversas vezes - na França, lugar pelo qual nutre um carinho especial. Durante as idas a Paris, o músico compôs aquele que seria o seu primeiro grande sucesso, Coração bobo. “Escrevi em uma noite em que eu tive muita saudade de casa. Eu me sentia em uma espécie de autoexílio. E essa música acabou abrindo o caminho para que eu me tornasse um artista realmente popular”, avalia. Alceu afirma que tem a expertise de compor uma música com facilidade e agilidade. Ele tem canções que falam de amor, de lembranças, de lugares. Outras que falam do Brasil, com mais ou menos esperança, dependendo da fase que o país esteja passando. “Muitas coisas me inspiram. Como diria o filósofo Ortega y Gasset: ‘Eu sou eu e as minhas circunstâncias’. Minha música reflete isso”, diz.
Advocacia
Embora seu grande talento seja na música, Alceu vem de uma família de advogados. Seu pai foi procurador do estado e o incentivou a ingressar na profissão. “Eu fiz o curso completo na Faculdade de Direito do Recife, cheguei a estagiar em um escritório de advocacia, mas desisti porque achei que o réu tinha razão na primeira causa que apareceu”, diverte-se. “O Direito me ensinou a ver sempre os dois lados, a ter uma noção mais completa do que seja cidadania. E a Filosofia, minha disciplina favorita na faculdade, me ensinou a questionar sempre”, conclui. O artista também trabalhou como jornalista na sucursal do Jornal do Brasil e nas revistas da Editora Bloch.
Projetos
Atualmente, o Maluco Beleza se prepara para o show que fará no Recife Antigo, durante o Réveillon Parador, no último dia do ano. Em janeiro, ele viaja de férias para Portugal e, no carnaval, volta à capital pernambucana para se apresentar na festa momesca, como faz quase todos os anos. Em 2019, a casa que o artista possui em Olinda será reformada e aberta ao público com exposição de fotos, discografias e figurinos de Alceu, nos quatros domingos de fevereiro que antecedem a festividade do carnaval. “A casa vai abrigar diversas atividades culturais. Será um lugar dedicado não só a mim, mas à cultura pernambucana e nordestina”, adianta. Já durante os quatros dias de carnaval, o espaço vai se transformar em camarote e casa de apoio para os foliões.
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