arte
70 anos de Direitos Humanos: artistas ressignificam artigos em ilustrações
Exposição acontecerá no Apolo 235, na Rua do Apolo, Centro do Recife, na próxima quinta-feira (6)
Por: Mariana Moraes
Publicado em: 05/12/2018 11:06 | Atualizado em: 05/12/2018 15:02
Foto: Mutirão/Divulgação (Foto: Mutirão/Divulgação) |
Neste mês de dezembro, quando a Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) completa 70 anos, artistas se uniram para dá-la uma cara nova. A fim de ressignificar seus artigos e aproximá-los do público, o coletivo independente Mutirão, com apoio da Revista Continente, produziu 30 peças gráficas para ilustrar os termos %u2013 de mesmo número %u2013 que compõe a carta assinada em 1948.
"Criamos um mecanismo para que as ideias possam ser propagadas. As imagens servirão de apoio, irão encurtar o caminho para a informação, mas as mensagens são a mesmas. Queremos que as pessoas leiam, vejam e entendam" afirmou o designer e idealizador do projeto, Celso Filho. "É um documento que precisa ser vivido e relembrado", completou.
Os trinta artistas participantes do projeto estudaram e deram sua personalidade aos termos apresentados na DUDH para montar a exposição que será realizada no Apolo 235, na Rua do Apolo, Centro do Recife, na próxima quinta-feira (6). "A divisão foi feita de forma natural", explicou o ilustrador Raul Souza, que assina a direção artística do evento. "Tentamos alimentar a própria rede. Escolhemos quem sempre participou do Mutirão e tentamos deixar equalitário, dividindo em 15 homens e 15 mulheres".
De acordo com Raul, a distribuição dos temas foi feita por sorteio. A artista recifense Joana Liberal, por exemplo, ficou responsável por retratar o Artigo 15 que, em seus incisos, apresenta: 1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. %u201CFiquei batendo a cabeça quando recebi o artigo, mas desde o começo queria trabalhar com a ideia de apátrida e falar sobre os índios. Eles foram a primeira população brasileira, mas ao mesmo tempo são rechaçados. Não tem respeito, não tem segurança", comentou Joana, formada em Licenciatura em Artes Plásticas pela UFPE.
O designer Eduardo Nóbrega, por sua vez, encarou a missão de transformar o Artigo 6 %u2013 que defende que Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei %u2013 em arte visual. "De início achei complicado. Todas as pesquisas que fiz antes puxavam para o símbolo de justiça, para balança", lembrou. "Decidi ir para o menos óbvio. Peguei coisas que nos unem como seres humanos. Olhos, mãos, digitais. Somos todos iguais, fisicamente também".
Para os idealizadores e artistas, o projeto tem o objetivo de mostrar que a Declaração abraça a todos em um momento de polarização política ferrenha e ainda pode ser modificada para atender demandas atuais. "É importante mostrar para todo mundo que isso [a declaração] não é coisa de comunista. É para todo mundo, não é de direita ou de esquerda", comentou Raul Souza. "Muitos daqueles trinta artigos estavam desgastados também. Família já não é mais só homem e mulher. A carta estava empoeirada. Muito mais do que chamar atenção para ela, o projeto quer cutucar a ferida, pensar em atualizações".
Além da exposição na galeria, as ilustrações irão tomar as ruas de Recife. Celso Filho diz que a ideia é realizar um "lambidaço" %u2013 distribuição de lambe-lambes pela cidade %u2013 no próximo sábado (09). "Estamos tendo bastante adesões, muitas pessoas nos ofereceram espaços para divulgarmos as artes. Por isso, o evento ainda está em aberto. Divulgaremos mais informações sobre horários e locais em nossas redes sociais".
A rua como galeria
"Um colaborativo dos artistas de recife que mistura artes gráficas e intervenções urbanas". É assim que o designer Celso Filho descreve o coletivo Mutirão, criado por ele e pelo ilustrador Raul Souza em 2016.
"Tentávamos aprovar projetos no Funcultura para apoiar nossas ideias, mas não conseguíamos. Então pensamos: vamos sem dinheiro mesmo. Ajudamos artistas que também não tinham condições, quem quisesse participar era só chegar", explicou.
O coletivo faz diversas manifestações artísticas pela cidade sem receber qualquer tipo de remuneração. Para realizar os "lambidaços", por exemplo, dividem o custo de impressão das peças entre os próprios artistas. "Pensamos que juntos faríamos mais que sozinhos e imaginamos as ruas de Recife como galerias" afirmou Raul.
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