Música

'O medo dos conservadores evidencia todas nossas conquistas', diz Linn da Quebrada, que faz show no Recife

Rincon Sapiência (SP), Sinta A Liga Crew (PB), Fontes (RJ) e Projeto Carranca (PE) completam a programação do Hellcife Flow, realizado no Baile Perfumado

Publicado em: 20/10/2018 09:01 | Atualizado em: 08/06/2020 00:06

Linn apresenta o Trava línguas, novo projeto realizado ao lado de Bad. (Foto: Nube Abe/Divulgação)
Linn apresenta o Trava línguas, novo projeto realizado ao lado de Bad. (Foto: Nube Abe/Divulgação)


Duas figuras de resistência na música nacional aportam no Recife neste sábado (20) para uma edição do festival Hellcife Flow, realizado no Baile Perfumado, Zona Oeste da cidade. Rincon Sapiência reforça seus flows afro-brasileiros sobre negritude, enquanto Linn da Quebrada traz o funk provocativo, militante e com visual impactante. Os artistas, que também dividiram o mesmo palco no festival No Ar Coquetel Molotov de 2017, apresentam os repertórios de seus álbuns de estreia, mas munidos de algumas novidades.

Com as faixas de Galanga livre (2017), Sapiência debate questões urgentes, como o racismo e violência dos centros urbanos ao mesmo tempo que agrega, entre as batidas modernas do rap, diversos ritmos negros, a exemplo do coco, samba, funk carioca e até mesmo o rock do continente africano.

Comemorando um ano de lançamento do disco Pajubá, Linn apresenta o Trava línguas, novo projeto realizado ao lado de Bad, produtora que acompanha a intérprete nas pick ups. Figurinos e danças foram preparados especialmente para a ocasião. Além dos destaques citados, o Hellcife Flow contará com a iniciativa Red Bull Music Breaktime Sessions, com objetivo de revelar novos nomes da cena musical. No evento, se apresentarão os grupos Sinta A Liga Crew (PB), Fontes (RJ) e Projeto Carranca (PE).


ENTREVISTA - Linn da Quebrada, cantora
 (Foto: Nube Abe/Divulgação)
Foto: Nube Abe/Divulgação


O que podemos esperar do show no Recife neste sábado?
Tô super ansiosa pra esse show de Recife, nosso novo projeto, Trava Línguas. O que não podem esperar é um show e sim uma relação. Porque essa performance se baseia muito mais no jogo entre nós e o público, então espero muito contato e proximidade, que isso tudo vire uma relação.

O lançamento do Pajubá completou um ano no dia 6 de outubro. Sente o álbum cumpriu sua função?
Sinto que o Pajubá vem cumprindo sua função, se é que necessariamente ele tem uma função. No que eu procurei despertar e promover com o disco no sentido de comoção, de se comover, de se mover coletivamente, eu acho que temos feito isso. É um álbum que tem criado pontes, ele tem nos aproximado, ele me concretizou a sensação de que não estou sozinha e que somos uma legião. E principalmente tem nos dado muita força e espero que siga sendo combustível para muita raiva, especialmente num momento como esse.

O filme-documentário “BixaTravesty”, que aborda sua trajetória, passou por diversos festivais internacionais rendendo muitos  elogios. Como se sente com essa repercussão positiva?
Não tinha como eu me sentir melhor e mais feliz, porque o filme é resultado de um processo muito intenso e lindo. A gravação do filme se deu junto com a gravação de Pajubá, foram duas filhas lindas e eu tô muito feliz de estar conseguindo com o filme e com o disco criar conexões por todo o mundo, aumentando o número somando guerreiras ao nosso exército. Tô muito feliz!

Você sempre foi uma figura política. Como está enxergando essa atual eleição?
Esses momentos de crise são momentos de perigo, mas são também momentos de novas possibilidades surgirem, eu penso. Com tudo que temos conquistado, todo o território que temos conquistado eu acho até óbvio que eles sentissem medo, que repetissem suas estratégias a fim de nos fazer recuar, tentando nos fazer ficar com medo. Mas isso só evidencia o medo deles diante de todas as nossas conquistas e dentro dessas disputas de linguagem, território e de poder que nós estamos atuando. Eu não posso sentir medo, não tenho esse privilégio. Nesse momento eu só posso sentir raiva, é o momento de nós nos articularmos, entre nós e entre as nossas. Momento de organizar essa raiva entre nós e assim entender juntas este momento político.

Nas últimas semanas, a internet tem assistido uma série de relatos de agressões às pessoas LGBTI. Como você tem se sentido ao receber essas informações?
As coisas não estão dadas para nenhum dos lados. Independente de quem ganhe as eleições - mas é óbvio que eu quero que ganhe o Haddad -, principalmente porque Bolsonaro, com o seu discurso, além de homolesbotransfóbico racista e elitista, tudo que ele endossa, independente de quem ganhe, o que fica muito transparente é que: essa luta não começa aqui, essa guerra não acaba comigo e não acaba agora. Independente de quem ganhe, vamos continuar lutando, continuar com essa disputa, que já não é de agora, que já é de muito tempo, algo que é ancestral, vem antes mesmo da gente. Temos que estar preparadas e inclusive aproveitar esse momento histórico que nós estamos vivendo e nos agarrar a isso com garras e dentes.

Se a onda de preconceito que “saiu do armário” irá continuar, como a comunidade LGBTI deve se articular e reagir? 
Nós temos nos fortalecido, temos ganhado visibilidade, temos conquistados outros espaços e temos que nos apegar a isso pra continuar nessa batalha, entende? Me parece que é muito cíclico, né? Sempre quando grupos considerados minoria ganham espaço, tentam nos fazer recuar. E é isso que a gente não pode fazer. Apesar de todas as nossas diferenças, nós temos muita coisa em comum. É nisso que precisamos no apegar, nos articular entre nós, entre estes grupos que são chamados de 'minorias', mas que se for ver, entre nós, mulheres, trabalhadoras, pretas, entre todos esses grupos que compõem a marginalidade, nós somos muitas. Nós temos muita força e é justamente por isso que eles estão com tanto medo. E já que eles fizeram a gente sentir medo por tanto tempo, agora eu realmente quero que eles sintam medo.

SERVIÇO
Hellcife Flow
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado, Recife)
Quando: neste sábado (20), a partir das 23h
Quanto: R$ 80, R$ 60 (meia social), R$ 40 (meia estudante), à venda no Sympla.
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