Arte visual

Artista pernambucana lança videoperformance sobre fecundidade e usa o próprio sangue menstrual

Na obra, Juliana Notari protagoniza uma ação ritualística em árvore centenária

Publicado em: 19/10/2018 13:08 | Atualizado em: 19/10/2018 12:39

A samaúma, que no tupi significa grande árvore, é tida pelos povos indígenas da região como a 'Mãe Sagrada da Floresta'. Foto: Itaú Cultural/Divulgação
A artista pernambucana Juliana Notari viajou para Belém do Pará para residência artística e lança a terceira performance da série Ciclo Amazônico, intitulada Amuamas, nesta sexta-feira (19), às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM).

A obra traz à tona o universo da fecundidade e da concepção, por meio do embate da relação do corpo feminino com a beleza e a crueza da paisagem amazônica. Nesses trabalhos, o vídeo não é utilizado apenas como mero registro da ação, mas como ferramenta que atua no pensamento constituinte da performance, sendo pensado em conjunto com a ação.

Na tela, Juliana Notari aparece vestida de branco, como uma enfermeira, portando uma bolsa com instrumentos de aço inoxidável, como espéculos, o próprio sangue menstrual – coletado durante nove meses – e sementes de árvores locais. Em uma voadeira, espécie de barco ligeiro e pequeno utilizado pela população ribeirinha da região, ela sai à procura das árvores centenárias samaúmas no Igarapé Piriquitaquara, na ilha Combu (PA). Ao avistá-las, adentra a Amazônia e vai ao encontro delas. A partir disso, em um gesto de persistência carregado de força mística, realiza uma ação ritualística e intrusiva na grande raiz da árvore, deixando uma marca encravada na floresta.

A samaúma, que no tupi significa grande árvore, é tida pelos povos indígenas da região como a "Mãe Sagrada da Floresta", por se destacar no meio das demais. Além de ser admirada pela beleza, é cercada de mistérios e propriedades medicinais. De acordo com a medicina popular, a água dela ou o chá da sua casca é um poderoso remédio, capaz de fazer mulheres engravidarem. A samaúma, para muitos, simboliza a imortalidade.

As outras perfomances da série são Mimoso e Soledad, onde a artista aborda a morte vista a partir de uma perspectiva holística, que a enxerga como ciclo e afirmação da vida, oferecendo, assim, novas chaves de acesso ao tema. O trabalho de Notari faz parte do edital Rumos Itaú Cultural 2015-2016, dentro do projeto Residência Artística e Produção de Obra em Belém do Pará.

Artista usou o próprio sangue menstrual %u2013 coletado durante nove meses. Foto: Itaú Cultural/Divulgação

Performance foi realizada a partir de residência artística na floresta amazônica. Foto: Itaú Cultural/Divulgação
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