Teatro

Peça teatral ambientada nos campos de concentração do Ceará entra em cartaz no Recife

O espetáculo abordar os processos de higienização social presentes na história do Brasil

Publicado em: 03/09/2018 10:01

Os quatro atores - Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Carlos Darzé e Lucas Lacerda - se revezam em mais de 40 personagens. Foto: Mari%u0301lia Cabral/Divulgação

O espetáculo teatral Curral Grande, do Coletivo Ponto Zero, será apresentando na Caixa Cultural Recife entre os dias 13 a 22 de setembro, nas quinta-feiras e nos sábado. Dirigida por Eduardo Machado, a montagem é baseada na obra do pesquisador e dramaturgo Marcos Barbosa e circula pelo país desde 2014. A peça mostra a graça e a miséria de um povo que sofreu e vem sofrendo com os processos de higienização social presentes na história do Brasil.

A encenação se utiliza de ares das décadas passadas, do cinema mudo e da radionovela, elemento de forte presença na década de 1930, permeando divertidamente a história dos Currais do Governo, campos de concentração durante a seca no Ceará. O espetáculo é composto por oito cenas independentes, porém correlacionadas, que apresentam diversas facetas da história - através de personagens que moram em uma casa simples no meio do sertão, também uma família abastada da capital Fortaleza, assim como a cúpula do governo, até chegar, de fato, aos campos de concentração.

Os quatro atores - Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Carlos Darzé e Lucas Lacerda - se revezam em mais de 40 personagens, estabelecendo um “jogo” com formas estéticas diferentes: da construção realista à caricatura, do teatro épico narrativo à contação de história.

Segundo o autor da obra, Marcos Barbosa, “para aprofundar-se na história do país e em todos os seus entraves sociopolíticos é preciso não temer mergulhar na lama”. O trecho faz parte de sua dissertação, uma pesquisa que culminou na peça, escrita em 2003 pelo dramaturgo, junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA. 

"Há histórias que precisam ser lembradas. Não tenho a pretensão de dizer que precisamos lembrar delas para não repeti-las. É preciso lembrar delas, justamente, para atentarmos ao fato de que as temos repetido”, explica Barbosa. “É uma peça sobre viver. Sobreviver é preciso. No meio de tantas contradições, o Ponto Zero foi o (re)encontro com nossa história, que parece que só se repete”, complementa o diretor Eduardo Machado.

Vivência - Quem assistir ao espetáculo nas sextas-feiras terá ainda a oportunidade de, após a apresentação, participar de um bate-papo com os atores sobre o processo de criação da peça. O Coletivo Ponto Zero falará também a respeito da experiência singular que tiveram de conversar com Dona Lina - avó do autor - que aos 98 anos, ainda dá o seu vívido testemunho sobre os campos de concentração de 1932, no Ceará.
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